Há venezuelanos a comer alimentos para cães devido à crise - TVI

Há venezuelanos a comer alimentos para cães devido à crise

  • SS - atualizada às 08:57
  • 12 jan 2018, 07:33
Ajuda voluntária na Venezuela

Uma organização não-governamental denunciou esta sexta-feira que há venezuelanos a comerem alimentos para cães, numa altura em que o país atravessa uma grave crise política e económica

Uma organização não-governamental (ONG) denunciou esta sexta-feira que há venezuelanos a comerem alimentos para cães, misturada com ovos mexidos ou arroz, numa altura em que o país atravessa uma grave crise política e económica.

A ONG Programa Venezuelano de Educação e Ação para os Direitos Humanos (Provea) visitou supermercados em Caracas e concluiu que “muitas pessoas compram as chamadas ‘salsichas para cães', que são compostas por ossos de frango triturados e misturados com outras partes não comestíveis do frango" para “consumo humano”.

Segundo o relatório, algumas pessoas admitiram que ingeriam aquele alimento com ovos mexidos ou fritos e misturados com arroz.

Com base noutras denúncias, o jornal venezuelano El Universal noticiou que o consumo de alimentos para animais se converteu numa “prática normal” para “muito venezuelanos”, perante a “escassez” e “altos preços” dos alimentos no país.

Um dos principais alimentos para animais que as pessoas consomem é o arroz [para galinhas], por ser mais económico e render mais, mas a este produto adiciona-se salsichas para cães", explicou.

O médico Manuel Hernández, do organismo para as questões sanitárias no estado venezuelano de Miranda, advertiu, num comentário difundido pela Internet, que o arroz usado para alimentar galinhas "não cumpre com as melhores condições de higiene", e se trata de um “subproduto”, colhido a partir do desperdício do arroz tradicional.

Hernández lembrou que aquele arroz "contém bactérias” e que “durante o processo de produção poderá ter caído no chão e estar contaminado com urina de roedores".

A nutricionista Yazarenit Mercadante, da Fundação Bengoa para a Alimentação e Nutrição, advertiu para o risco de doenças, contraídas através do consumo de produtos que são vendidos avulso e cujas condições de processamento e armazenamento são desconhecidas.

Mercadante lembrou que as salsichas para animais podem conter partículas que não foram tratadas adequadamente.

Para a Provea, o uso de alimentos de animais para consumo humano "é uma dramática consequência da violação do direito à alimentação por parte do Estado" venezuelano, o qual acusa de "não tomar medidas para garantir que a população tenha acesso a produtos da dieta básica, de maneira segura e a preços acessíveis".

Nesse sentido, as fiscalizações aos supermercados são medidas arbitrárias e insuficientes para garantir comida para os venezuelanos", explicou, numa alusão à recente descida de preços imposta pelas autoridades.

 

Manifestações e pilhagens em vários estados

A denúncia surge numa altura em que ocorrem manifestações e pilhagens no país. Pelo menos quatro pessoas morreram e 15 ficaram feridas na quinta-feira, durante manifestações e pilhagens ocorridas no estado de Mérida, a sudoeste de Caracas.

O diário El Nacional afirmou que pelo menos duas vítimas mortais, que aparentemente não estavam a participar nos protestos, foram atingidas por tiros disparados por indivíduos não identificados, a partir de três veículos em movimento.

De acordo com o jornal, as pilhagens, que começaram na quarta-feira, continuaram na tarde do dia seguinte nas localidades de Caño La Yuca, El Pinar, Tucaní, Palmarito e Arapuey, onde foram atacados vários estabelecimentos comerciais e camiões que transportavam alimentos.

Um dos estabelecimentos pilhados foi um supermercado da rede estatal Pdvsal. As autoridades detiveram 25 pessoas relacionadas com este ataque.

Por outro lado, no vizinho estado de Trujillo foram atacados sete camiões que transportavam refrigerantes, enchidos, sumos, produtos lácteos, frango, verduras e guloseimas.

Sete funcionários das forças de segurança ficaram feridos e 12 pessoas foram detidas.

Segundo a imprensa local, 70% dos estabelecimentos comerciais permaneceram fechados na cidade Barcelona, a sudeste de Caracas, por os comerciantes temerem situações idênticas.

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