Fugiu de casa persuadida por um "Príncipe" e foi encontrada na selva com uma bebé - TVI

Fugiu de casa persuadida por um "Príncipe" e foi encontrada na selva com uma bebé

  • MVM
  • 17 jul 2018, 19:26
Patricia Aguilar

Patricia Aguilar fugiu da casa dos pais onde vivia, em Espanha, para ir viver com um guru peruano de 35 anos, responsável por uma seita apocalítica e que se autodenominava por "príncipe", uma espécie de Deus na Terra. A jovem já foi encontrada e o homem detido, sendo que no momento da detenção tentou engolir duas "pen drives" para ocultar provas

Patrícia Aguilar fugiu de casa há cerca de um ano e meio para ir viver com um homem peruano de 35 anos, que se autodenominava por "Príncipe" e geria uma seita apocalítica.

A jovem espanhola de 19 anos fugiu sem deixar rasto à família, mas o pai, Alberto Aguilar, não desistiu de a procurar e localizou-a na semana passada.

A jovem foi localizada sozinha no meio da selva no centro de Peru, desnutrida e com uma bebé sem vacinação e coberta de picadas de insetos nos braços. Patrícia estava ainda encarregue de mais quatro crianças de outras mulheres. 

Vivia num cubículo em condições desumanas em San Martín de Pangoa, um povo a 600 quilómetros de Lima, capital do país. Como tudo indica estava sequestrada pelo presumido guru, agora pai da filha e de outras quatro crianças.

A Patrícia encontrava-se também numa situação de debilidade psicológica (quando fugiu), tinha acabado de morrer um tio que era muito próximo", afirma María Teresa Rojas, advogada da Associação SOS de Desaparecidos e representante legal da família de Patricia.

A família de Patrícia não tem ilusões sobre o estado de saúde e tem noção que a jovem foi vítima de uma profunda lavagem cerebral.

O porquê da fuga da jovem

Patrícia Aguilar fugiu da casa onde vivia com os pais em Elche, Espanha, em janeiro de 2017, pouco depois de completar os 18 anos, cortando todo o tipo de relações com a família. A jovem mudou-se para o Peru para juntar-se com Felix Steven Manrique, com quem ela mantinha contacto através da internet desde os 16 anos de idade.

Um dia, Patricia teve um sonho estranho e acedeu a uma página esotérica para tentar descobrir o significado. Foi Felix quem respondeu. Até à sua detenção, ele, que era um eletricista experiente, tinha vários perfis e páginas nas redes sociais em que pregava que o fim do mundo estava muito próximo. Apresentava-se como um escolhido, um salvador, um enviado de Deus antes do apocalipse. Autodenominava-se de “o Príncipe” e era líder de uma seita apocalítica. O homem defendia que a sua missão era repovoar o planeta e ter filhos com o maior número possível de mulheres. Patrícia acreditou na conversa.

Perito em persuasão

Felix Manrique dedicava-se, através das redes sociais, a captar a atenção de jovens mulheres, com um trabalho subtil de vários anos", explica María Teresa Rojas.

Segundo a advogada, Manrique é um especialista em técnicas de persuasão e conseguiu dar a volta à cabeça da jovem espanhola.

Primeiro apresentou-se como um amigo, depois como uma espécie de namorado e, por fim, quando percebeu que era o momento certo, começou a dizer-lhe que o mundo era muito mau, muitas guerras estavam por chegar, que tudo foi escrito e ele era uma espécie de Deus e seria o juiz no próximo apocalipse".

Isso aconteceu até há cerca de um ano e meio, quando Patrícia decidiu deixar tudo para seguir o suposto guru. Foi nesse momento que a família da jovem começou uma determinada e incessante busca para encontrá-la.

O pai viajou duas vezes para o Peru, onde participou em programas de televisão e pediu o apoio das autoridades. Além disso, a família gastou todas as economias na procura da jovem e até criou angariações públicas para conseguirem mais dinheiro. Foi devido a estas angariações que puderam colaborar financeiramente com a operação policial que descobriu Patricia e deteve Felix Manrique, na última semana.

Como decorreu a operação de detenção de Felix e localização de Patricia

Primeiramente foi localizado o homem em Alto Celedín, uma cidade no distrito peruano de San Martín de Pangoa, onde vivia com duas mulheres, uma das quais era a esposa oficial. A polícia alugou um quarto ao lado do dele de forma a conseguirem segui-lo e controlá-lo.

Graças a isso, foi possível saber que Patricia estava sozinha com os filhos em algum lugar na selva. E depois de conseguirem a confissão de uma das duas mulheres com quem vivia Manrique localizaram-na", explica María Teresa Rojas.

Manrique foi preso na última quarta-feira e na próxima quinta-feira a justiça peruana deve decidir se fica em prisão preventiva ou se fica em liberdade.

Esperamos obviamente que decidam a prisão. É um tipo muito perigoso, é quase certo que, além da Patrícia, tenha atraído outras menores", diz Rojas.

A advogada considera que é muito provável que existam provas no material confiscado pela polícia peruana durante a detenção.

Na verdade, Steven Manrique tentou engolir duas pen drives no momento da sua detenção, mas não conseguiu", revela.

Alberto, o pai da jovem espanhola ainda está no Peru, mas ainda não viu a filha nem a neta, nascida a 28 de maio nas deploráveis condições higiénicas onde foram encontradas.

Tanto Patricia como as duas mulheres com as quais o suposto guru da seita vivia foram transportadas para Lima juntamente com os filhos, onde foram submetidas a exames médicos e psicológicos de forma a determinar o estado de saúde física e mental.

"Há que salvar a bebé"

Não ficávamos surpreendidos se num primeiro momento a jovem defenda Felix Manrique. É bem possível que para ela sejamos nós os errados e considere normal tudo o que viveu, pois o homem aproveitou-se da vontade dela", diz María Teresa Rojas.  

 

Na verdade, na detenção do homem, uma das duas mulheres com quem ele vivia e que estava grávida de oito meses, não hesitou em tirar os sapatos para que ele não fosse descalço. Elas consideram-no um ser superior.", conta a advogada da família de Patricia.

O problema é que Patrícia é maior de idade e ninguém pode forçá-la a fazer um tratamento para superar o processo de sequestro, segundo todas as indicações, do qual foi vítima.

Se defender Felix Manrique contra todas as probabilidades, podemos pedir que declarem que ela está incapacitada e que lhe seja retirada, pelo menos por um tempo, a guarda da filha para ser entregue à família, noutra situação qualquer nunca pediríamos isto. Pelo menos há que salvar a bebé, mas o nosso objetivo é salvar as duas”, conclui Maria Teresa Rojas.

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