"Faz-te ouvir", ou em castelhano, "Hazte Oír" é um grupo espanhol ultracatólico, ultraconservador e até ultraarrojado nas campanhas que leva a peito. No caso, pôs a circular um autocarro cor de laranja, com inscrições direcionadas sobretudo para os mais novos, que está a criar forte polémica. Com acusações de que está a promover a homofobia e a afrontar a liberdade de escolha da orientação sexual de cada um.
Os meninos têm pénis. As meninas têm vulva. Que não te enganem", é a mensagem principal pintada no autocarro que deveria esta quarta-feira circular em Madrid, antes de seguir para Valência. Deveria, porque ficou retido por decisão da autarquia, com a organização a ser também alvo de um inquérito judicial.
El objetivo de la campaña #ElBusQueNoMiente es denunciar las imposiciones de la ideología de género: pic.twitter.com/OEk5PidTSF
— CitizenGO es (@CitizenGOes) 1 de março de 2017
Alto e pára o autocarro
Esta quarta-feira, ao meio-dia, a Hazte Oír pretendia levar o dito autocarro até à praça Cibeles, no centro da capital espanhola. Só que o mesmo ficou retido, devido a uma ordem municipal. Que "proíbe anúncios em qualquer tipo de veículo ou reboque, em circulação ou estacionado, exceto nos destinados a transporte público".
Discordando do argumento, alguns ultracatólicos da Hazte Oír acorreram à praça Cibeles, em protesto. Seriam aí uns 20, de acordo com a imprensa espanhola.
Ciudadanos protestando delante el Ayto. de Madrid por la rentención de #ElAutobusQueNoMiente sin haber recibido resolución judicial alguna. pic.twitter.com/9XJxEwdOuE
— HazteOir.org (@hazteoir) March 1, 2017
Câmara e Ministério Público
Além do impedimento municipal da câmara de Madrid - presidida pela antiga juíza do Supremo, Manuela Carmena, com um passado de defensora de presos políticos durante a ditadura de Franco, e eleita autarca numa lista independente, com forte apoio do Podemos - também o Ministério Público resolveu fazer-se à estrada e inquirir se o autocarro da campanha do Hazte Oír pode ou não violar as leis.
De acordo com o jornal El País, o procurador Jesús Caballero admite poder estar em causa um delito. Daí que o Ministério Público tenha solicitado a um juiz a proibição cautelar da circulação do autocarro, enquanto "não se retirem as mensagens discriminatórias que ostenta".
Há um risco de se perpetuar o crime e de perturbação da paz pública. E criando uma sensação de insegurança ou medo entre as pessoas em razão da sua identidade ou orientação sexual, especialmente entre as crianças, que podem ser afectada pela mensagem", lê-se no comunicado do Ministério Público.
Assim, até ver, o autocarro mantém-se numa garagem da organização Hazte Oír, à espera que a Justiça se pronuncie finalmente sobre "um possível delito de homofobia".