As autoridades de Tyrol, uma província da Áustria, vão enfrentar uma ação judicial devido à forma como lidaram com o surto de coronavírus na estância de esqui de Ischgl, conhecida como a “Ibiza dos Alpes”.
Ischgl é uma das mais belas estâncias de esqui da Europa. Recebe cerca de 500.000 turistas todos os invernos, atraindo vários famosos como o fundador da Microsoft, Bill Clinton, a modelo Naomi Campbell ou a socialite Paris Hilton. E no início e no final de cada temporada, há sempre concertos de artistas pop mundiais - ali já atuaram nomes como Bon Jovi ou Mariah Carey
Mas, este inverno, a pitoresca cidade austríaca, com cerca de 1.600 habitantes, passou de destino sonho a pesadelo real, depois de se ter tornado num foco de infeção de Covid-19, que ajudou a espalhar a doença em vários países da Europa, como a Alemanha, a Noruega, a Suécia, a Dimarca e a Islândia.
A cadeia de infeções terá tido origem num bar popular da estância, chamado Kitzloch, onde, de acordo com os turistas, as noites eram passadas em ambiente de festa.
A 5 de março, as autoridades austríacas foram alertadas oficialmente para o problema: o governo da Islândia informou que um grupo de cidadãos do país tinha contraído o novo coronavírus em Ischgl. Mas nada foi feito. Nem logo depois de um funcionário do bar Kitzloch ter acusado positivo no teste à Covid-19. A 8 de março, a autoridade médica de Tyrol emitiu mesmo um comunicado a indicar que “não havia razões para preocupação”.
O turismo continuou, as noites de festa prosseguiram e só a 10 de março começaram a ser tomadas medidas: nesse dia foi determinado o fecho dos bares e restaurantes e, três dias depois, a estância encerrava totalmente.
A resposta tardia das autoridades austríacas está agora no cerne de um processo judicial, que vai ser avançado pela Associação de Defesa do Consumidor da Áustria e que já conta com as queixas de 2.500 turistas, 80% dos quais alemães.
Até hoje, registaram-se no nosso site cerca de 2.500 pessoas afetadas pelo foco de infeção de coronavírus em Tyrol. Quase todos os relatos dizem respeito a Ischgl. A maioria das pessoas está em casa, em quarentena”, indicou a associação à CNN.
No seu site, a associação apelou aos turistas que tenham estado em Ischgl e que tenham sido diagnosticados com Covid-19 para reportarem o seu caso, de modo a que fosse possível sustentar uma ação judicial.
A pandemia de Covid-19 é uma força das circunstâncias e ninguém pode ser responsável pelos seus danos. Mas manter estâncias de esqui abertas, mesmo quando as autoridades sabiam que havia uma ameaça de infeção massiva, é razão para agir judicialmente.”
A organização já apresentou uma queixa à procuradoria-geral de Viena contra as autoridades de Tyrol.
Entretanto, um departamento criminal da polícia de Tyrol está a conduzir uma investigação ao que aconteceu, que pretende também determinar a origem da infeção. Em cima da mesa está a suspeita de que uma companhia de catering não terá reportado que um dos seus funcionários tinha sido diagnosticado com o novo coronavírus no final de fevereiro.
O governador de Tyrol, Günther Platter, descreveu, numa resposta enviada à CNN, o modo como as autoridades procederam. Platter afirmou que as autoridades tiveram conhecimento dos turistas islandeses infectados a 5 de março e que pediram de imediato aos hotéis listas completas sobre os clientes da Islândia. O governante disse que o chefe do centro médico da cidade foi contactado, mas que não havia registo de ninguém com sintomas parecidos com a gripe.
Ainda assim, as autoridades de saúde emitiram uma norma para testar todas as pessoas com os sintomas do novo coronavírus”, indicou o governador na mesma nota.
Sobre o bar Kitzloch, o governador referiu que foi ordenada uma inspeção aos estabelecimento logo depois de um dos funcionários ter acusado positivo para Covid-19.