Os meninos de Mossul não conseguem brincar nem demonstrar emoções - TVI

Os meninos de Mossul não conseguem brincar nem demonstrar emoções

  • Sofia Santana
  • 5 jul 2017, 12:39

Estudo da Save The Children indica que as crianças de Mossul que viveram sob o domínio do Estado Islâmico ficaram psicologicamente tão afetadas que não conseguem brincar nem demonstrar emoções e sofrem com pesadelos, mesmo durante o dia

As crianças de Mossul que viveram em território sob o domínio do Estado Islâmico ficaram psicologicamente tão afetadas que não conseguem brincar nem demonstrar emoções e sofrem com pesadelos, mesmo durante o dia. A conclusão consta num novo estudo da organização de defesa dos direitos da criança Save the Children, divulgado esta quarta-feira.

O estudo analisou o comportamento de 65 crianças que fugiram da violência do Estado Islâmico para o campo de refugiados de Hammam al-Alil, cidade a sul de Mossul. 

Todas as crianças entrevistadas sofriam daquilo a que os especialistas chamam de “stress tóxico”, um trauma psicológico que pode causar danos graves a longo prazo, como doenças cardíacas, depressão, ansiedade e diabetes.

Segundo a Save The Children, 90% destes meninos tinha perdido pelo menos um familiar e a maioria sofria com pesadelos terríveis, mesmo durante o dia, e falando no medo de algo que não identificavam, mas que chamavam de "coisa" ou "monstro".

Mais, quase todas as crianças respondiam de forma lenta às instruções que recebiam, mostravam um comportamento robótico e não eram capazes de brincar ou de demonstrar emoções.

Desde que as tropas iraquianas lançaram a ofensiva para reconquistar Mossul ao Estado Islâmico, em outubro, mais de 860.000 pessoas fugiram da cidade. No último mês, os combates intensificaram-se, obrigando centenas a tentar escapar à violência. Estima-se, porém, que cerca de 100 mil pessoas ainda permaneçam na cidade velha e que estejam a ser utilizadas como escudos humanos pelos jihadistas

As crianças do campo de refugiados de Hamman al-Alil, com idades entre os 10 e os 15 anos, partilharam com os ativistas da Save the Children, as histórias dos horrores que testemunharam sob o domínio do grupo terrorista. Descreveram as matanças que eram feitas em plena rua, o sangue que se espalhava na cidade, as bombas que atingiam as suas casas ou as dos seus vizinhos. Muitos viram familiares a serem mortos à sua frente.

Se éramos apanhados na rua, à hora da oração, éramos chicoteados. E decapitavam pessoas na rua. Penduravam os corpos na rua, durante dias”, contou Jad, um menino de 13 anos.

A Save The Children diz que o apoio psicológico para estas crianças e os seus familiares não tem o financiamento que é necessário. O plano da organização para este ano tem metade das verbas que são precisas para fazer face ao problema. 

A organização veio, por este meio, fazer dois apelos: pediu donativos internacionais para financiar a saúde mental e os cuidados psicológicos destas crianças e, por outro lado, instou o governo iraquiano a aumentar o investimento na formação de psicólogos e conselheiros para crianças.

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