A inédita operação de segurança na tomada de posse de Joe Biden - TVI

A inédita operação de segurança na tomada de posse de Joe Biden

Preparativos começaram muito antes, mas a invasão ao Capitólio fez soar os alarmes e as autoridades estão a acautelar todos os cenários

É já no dia 20 de janeiro (quarta-feira) que Joe Biden toma posse como 46.º presidente dos Estados Unidos da América (EUA). Esta seria uma cerimónia sempre incomum, até porque a atual situação da covid-19 no país não deixa grande margem para ajuntamentos, mas a invasão ao Capitólio por parte de apoiantes do presidente cessante Donald Trump desvia as atenções da pandemia e centra-as numa inédita operação de segurança.

É precisamente em frente ao edifício do Congresso que Joe Biden e Kamala Harris, como presidente e vice-presidente, vão jurar cumprir a Constituição norte-americana, numa cerimónia carregada de simbolismo, e que vai ter uma ausência de peso. O atual presidente anunciou que não estará presente na tomada de posse do seu sucessor, algo que só aconteceu por três vezes, a últimas das quais em 1869, quando Andrew Johnson também recusou marcar presença na tomada de posse de Ulysses S. Grant.

Num evento que tem sempre grandes contornos de segurança, mas este ano, por força das circunstâncias, as autoridades preparam um enorme dispositivo para fazer face a qualquer percalço. Talvez escaldadas pelas falhas durante a invasão ao Capitólio, as diferentes polícias apressaram-se a mobilizar meios para o dia 20 de janeiro.

Se tomarmos como comparação os dispositivos do trágico 6 de janeiro e aquele que se prepara para a tomada de posse, a diferença é brutal: cerca de 1.500 polícias vigiavam o Capitólio no dia da invasão, mesmo tendo sido alertados para a possibilidade de uma manifestação violenta nesse dia. Na próxima quarta-feira serão pelo menos dez vezes mais os agentes disponíveis (os números das agências noticiosas apontam entre 15 mil a 20 mil polícias).

Grande parte destes operacionais pertencem à Guarda Nacional, uma força federal composta maioritariamente por membros inativos das Forças Armadas norte-americanas.

É aqui que todos os olhos vão estar centrados no dia 20 de janeiro

Este dispositivo terá o objetivo quase exclusivo de proteger a comitiva de Joe Biden, com natural destaque para o próximo presidente dos EUA.

As escadas do Capitólio serão o ponto nevrálgico da tomada de posse. Será lá que Joe Biden vai colocar a mão sobre a Bíblia, ao mesmo tempo que jura cumprir e fazer cumprir a Constituição.

Eu, Joe Biden, juro solenemente que vou executar de boa fé o cargo de presidente dos EUA e vou, com o melhor das minhas capacidades, preservar, proteger e defender a Constituição dos EUA. Que Deus me ajude", será qualquer coisa deste género que sairá da boca do democrata.

Este ano também não serão comemoradas outras tradições com quase dois séculos. Depois da tomada de posse costuma haver toda uma parada que percorre a Avenida da Pensilvânia entre o Capitólio e a Casa Branca. O presidente empossado almoça depois com os membros do Congresso, para mais tarde celebrar com várias receções de charme.

O dia costuma ser marcado pelos chamados bailes de inauguração, onde o presidente eleito recebe os mais variados membros da sociedade, entre grandes empresários ou altos membros das Forças Armadas. Claro que, devido à pandemia, aliada às ameaças à segurança, esses eventos foram todos cancelados.

Donald e Melania Trump dançam no baile de tomada de posse

Os organizadores do evento já pediram à população que não vá para a rua e que assista à tomada de posse através da televisão.

Sem eventos sociais para abrilhantar o dia, Joe Biden vai antes focar-se na visita a importantes e solenes momentos norte-americanos. Do Capitólio segue para o Cemitério de Arlington, um cemitério militar onde também está sepultado o antigo presidente John F. Kennedy. Nesta deslocação, o presidente eleito deverá fazer-se acompanhar por três antigos chefes de Estado (Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton).

FBI emite avisos, monumentos fecham e Airbnb cancela

Parte da equipa que prepara a cerimónia é composta por membros dos Serviços Secretos e também do FBI, a mais alta instância de investigação nos EUA.

O FBI já revelou que recebeu avisos sérios de que estão a ser programados protestos armados para todos os 50 estados norte-americanos e também para o distrito de Columbia, onde fica a capital Washington D. C. É por isso que, em concertação com as outras forças de segurança, os preparativos começaram uma semana mais cedo do que o previsto.

Estamos confiantes nos nossos parceiros de segurança que passaram meses a planear e a preparar a tomada de posse, e continuamos a trabalhar com eles para garantir segurança", disse à agência Reuters um dos envolvidos no processo.

Estes avisos foram feitos já para o fim de semana, sendo que vão ser mobilizados de imediato dez mil agentes para fazer face a qualquer ameaça. O general Daniel Hokanson, diretor da Guarda Nacional, confirmou que esperava um dispositivo desse alcance no sábado, dia 16 de janeiro.

O serviço responsável pela gestão de monumentos de Washington suspendeu todas as visitas ao Washington Monument, um gigante obelisco construído no centro da cidade em memória do primeiro presidente. Na base da decisão estão as possíveis manifestações.

Washington Monument

A mayor de Washington D. C., Muriel Bowser, pediu ao governo federal que proíba os ajuntamentos na cidade até 24 de janeiro: "O planeamento desta tomada de posse tem de ser diferente de todos os outros", reconheceu.

Também derivado das ameaças à segurança, o site de aluguer de alojamento Airbnb decidiu cancelar e suspender todas as reservas para a capital durante toda a próxima semana.

A decisão foi tomada depois de as forças de segurança terem pedido à população que evitasse as viagens para a capital.

A cidade de Washington decidiu também fechar 13 estações de metro a partir deste fim de semana, voltando a abrir no dia 21 de janeiro.

Os comboios vão passar pelas estações mais centrais sem parar para "acomodar o perímetro de segurança que vai estar ativo durante a tomada de posse".

Esta decisão inclui todas as estações de metr na área circundante do Capitólio.

As autoridades informaram ainda que 26 rotas de autocarros podem vir a sofrer desvios ou perturbações.

Uma estrada segura e Biden "sem medo"

Não será apenas em torno do Capitólio que se vai montar um grande dispositivo de segurança. Desde a invasão ao Congresso que a segurança pessoal de Joe Biden foi reforçada, e o dia da tomada de posse tem todo um programa baseado nas deslocações a fazer pelo próximo presidente.

Na cidade de Greenville, estado do Delaware, onde fica a residência de Joe Biden, há uma gigantesca operação montada, que inclui o bloqueio de vários acessos na localidade, tudo com o objetivo de minimizar os contactos com a casa onde está o próximo chefe de Estado.

Para isso, um pormenor interessante. Em vez de estacionarem em linha reta, os carros que pertencem à segurança de Joe Biden fizeram um alinhamento irregular que impede o acesso visual à porta de entrada da residência.

Forte dispositivo de segurança em torno de Joe Biden

O pormenor vai ao ponto da utilização de um camião basculante e de uma paragem de autocarro encerrada. É verdade, um daqueles veículos usados nas obras está estrategicamente colocado no meio da rua onde Joe Biden vive, com o objetivo de ajudar a barricar os acessos, físicos e visuais, ao local.

Também em Greenville, no quarteirão onde vive o democrata, uma paragem de autocarro teve de ser temporariamente encerrada.

Apesar de todos os receios, Joe Biden não hesitou em tomar posse em público: "Não tenho medo de fazer o juramento lá fora", disse aos jornalistas, a quem expressou confiança máxima nos Serviços Secretos.

Se é para romper com a tradição, então que se rompa de todo. Terá sido isto que pensou Joe Biden quando decidiu deslocar-se até à capital de comboio, partindo da sua casa, no estado do Delaware.

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