Covid-19: um camião com cadáveres, "a terrível realidade com que lidamos", diz enfermeira - TVI

Covid-19: um camião com cadáveres, "a terrível realidade com que lidamos", diz enfermeira

Coronavírus

Relato impressionante chega de Nova Iorque, onde os profissionais de saúde têm indicação para continuar a trabalhar mesmo estando infetados, a falta material médico é óbvia, mas há sete semanas o governo doou 18 toneladas à China

A descrição do que se passa, por estes dias, nos hospitais de Nova Iorque é trazida ao palco mediático por uma enfermeira de 38 anos, que trabalha numa unidade de saúde de Manhattan. Ao site 'BuzzFeed', a mulher conta que estava a terminar o turno da manhã, este domingo, quando se dirigiu ao piso que recebe as ambulâncias. Lá, para além dos habituais veículos de emergência, encontrou um camião frigorífico parado, que não estava ali para descarregar mantimentos, mas para transportar os corpos das pessoas que morreram com Covid-19. A enfermeira, que não se identifica, nem a si nem ao hospital, com medo de represálias, subiu ao veículo para tirar uma fotografia, que partilhou com o 'BuzzFeed'.

"Eu tirei esta fotografia para mostrar às pessoas. É a terrível realidade com que lidamos, e onde alguns de nós já acabaram."

O relato da enfermeira prossegue, sem esconder a angústia dos dias que vive: dentro daquele camião estava uma das pacientes a quem tinha dado a mão, na noite anterior, até ao último suspiro.

Eu nunca tive paciência para me sentar com alguém que acabo de conhecer, e esperar até que dê o último suspiro, mas eu engracei com o roupão e o pijama da senhora, e fiquei a conhecê-la um pouco. Tinha o cabelo muito bem arranjado, com um gancho, e estava seguro por uma bandana que combinava com as roupa que trazia. Talvez, se tivesse coberto o rosto com ela, não acabasse aqui, em primeiro lugar. Mas não morreu sozinha".

A enfermeira refere-se, precisamente, a um dos muitos horrores de quem enfrenta o vírus: muitas vezes, as vítimas são forçada a morrer sozinhas, isoladas da família e dos amigos, por serem um potencial foco de contaminação.

A doente em causa tinha 71 anos, era saudável, tinha sido diagnosticada na semana anterior, e foi mandada para casa. Regressou ao hospital no sábado, com falta de ar. Pediu para não ser entubada e acabou por morrer durante a noite. 

Ainda assim, na cidade que habitualmente nunca dorme mas que nestes dias parece ter entrado numa dormência aterradora, os relatos angustiantes também incluem os próprios profissionais de saúde, garante a mesma enfermeira que tirou a fotografia dentro do camião.

Se estivermos infetados com a doença, é suposto que continuemos a trabalhar enquanto estivermos assintomáticos. Não querem testar-nos porque, tendo em conta a exposição a que estamos sujeitos, é provável que estejamos doentes sem saber".

A profissional de saúde continua a denúncia, garantindo que "o equipamento de proteção pessoal é racionado a um nível absurdo: uma máscara e uma bata descartáveis têm de ser usados durante 5 turnos de 12 horas, antes de serem trocados".

O retrato, que é difícil de conceber sobretudo num país altamente desenvolvido, em pleno século XXI, já tinha sido destapado pelo governador de Nova Iorque, mas também por outros líderes de diferentes estados, que denunciaram a grave falta de material médico e de proteção individual. Irónico, até, é o facto de, há sete semanas, numa altura em que vários especialistas já alertavam para o que se poderia vir a passar nos Estados Unidos, a administração Trump ter resolvido doar praticamente 18 toneladas de equipamento médico à China.

Esta terça-feira, os Estados Unidos contabilizam mais de 164.000 infetados com o novo coronavírus, número do qual resultaram, pelo menos, 3.170 mortes.

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