Joe Biden diz que Trump é o primeiro presidente racista dos EUA - TVI

Joe Biden diz que Trump é o primeiro presidente racista dos EUA

Presidente dos Estados Unidos já reagiu e diz que fez "mais pelos afro-americanos do que qualquer outro presidente, com a possível exceção de Abraham Lincoln

A corrida à Casa Branca está a entrar no sprint final, e os candidatos começam a subir o tom das críticas. Esta quarta-feira, o representante democrata, Joe Biden, disse que o atual presidente, Donald Trump, foi o primeiro racista a ser eleito para o cargo.

O antigo vice-presidente de Barack Obama fez esta afirmação numa conferência online organizada pelo sindicato Service Employees International Union.

A declaração surgiu na sequência de um comentário de um médico que participava na conferência, e que expressou a sua preocupação com o facto de Donald Trump continuar a culpar os asiáticos, nomeadamente os chineses, pela pandemia de Covid-19.

Joe Biden disse mesmo que partilha da preocupação do médico, lembrando que o atual presidente dos Estados Unidos se refere de forma recorrente à pandemia como o "vírus da China".

A forma como ele lida com as pessoas baseado na cor da pele, na nacionalidade ou de onde são é absolutamente doentia", disse o candidato presidencial.

O representante democrata foi mais longe, e disse mesmo que "um presidente nunca fez isto enquanto esteve no cargo. Nunca, nunca, nunca".

Nenhum presidente republicano fez isto. Nenhum presidente democrata. Tivémos racistas, e eles existiram, tentaram ser eleitos para a presidência. Mas ele é o primeiro que conseguiu", acrescentou.

Os Estados Unidos são, de longe, o país mais afetado pelo novo coronavírus, e vários membros da Casa Branca e da administração Trump têm-se referido à doença como "vírus da China", "vírus de Wuhan" ou até "Kung Flu".

Para Joe Biden, o comportamento de Donald Trump tem originado uma divisão no país, quando, segundo o democrata, os norte-americanos precisam de união.

Já depois das palavras do candidato democrata, o presidente dos Estados Unidos foi questionado a comentar o tema, mas decidiu não responder de forma direta. Durante uma conferência de imprensa na Casa Branca, Donald Trump preferiu dizer que fez "mais pelos afro-americanos do que qualquer outro presidente, com a possível exceção de Abraham Lincoln [que terminou com a escravatura]".

Ninguém esteve tão perto [de defender tanto os direitos dos afro-americanos]", disse Trump.

Apesar da escusa de Donald Trump, a candidatura republicana não deixou Joe Biden sem resposta. A diretora de campanha do presidente, Katrina Pierson, disse que as declarações do democrata são "um insulto à inteligência dos eleitores negros", antes de relembrar algumas declarações do candidato presidencial que não terão caído bem junto da comunidade afro-americana. Entre os episódios referidos está uma frase sobre Barack Obama, a quem Joe Biden chamou "o primeiro afro-americano popular que é articulado, inteligente, transparente e bem-parecido", sendo que essa frase acabou por motivar um pedido de desculpas.

O presidente Trump gosta de todas as pessoas, trabalha muito para dar poder aos americanos, e é apoiado por mais votantes negros do que qualquer candidato republicano na história moderna. Ninguém deve ter de ouvir sermões sobre justiça racial da boca de Joe Biden", concluiu Katrina Pierson.

Apesar das palavras de Joe Biden, é o próprio diretor de campanha do democrata quem admite que as palavras do candidato presidencial não devem ser levadas de forma literal. Em declarações reproduzidas pelo The Washington Post, Symone Sanders relembra que houve presidentes que utilizaram abertamente linguagem racista, expressaram opiniões racistas ou aprovaram leis racistas.

Com efeito, os Estados Unidos viveram quase 100 anos com uma lei que permitia a utilização de escravos. Recorde-se também que até 20 de dezembro de 1956, havia estados norte-americanos que segregavam os cidadãos afro-americanos, nomeadamente através de regras sobre a utilização dos transportes públicos. O caso de Rosa Parks, que a 5 de dezembro de 1955 se recusou a ceder um lugar a um passageiro branco, marcou o início de uma revolução na sociedade norte-americana, tornando-se num símbolo da luta pelos direitos dos cidadãos negros, que acabou por ter em Martin Luther King Jr. um dos seus grandes representantes.

Ainda que isso seja reconhecido, Symone Sanders refere que, no que diz respeito aos tempos mais recentes, Donald Trump é único no tratamento racial enquanto presidente.

Houve vários presidentes norte-americanos racistas, mas Trump destaca-se - sobretudo nos tempos atuais - porque fez a sua candidatura com base no racismo e na divisão e ganhou", refere.

As eleições presidenciais nos Estados Unidos estão marcadas para o próximo dia 3 de novembro, e realizam-se numa ano particularmente conturbado. Além da pandemia de Covid-19, a sociedade norte-americana voltou a ver o ressurgimento da questão racial, sobretudo depois da morte do afro-americano George Floyd, assassinado por um polícia branco na cidade de Minneapolis.

Continue a ler esta notícia