Quem é Kamala Harris, a primeira negra a concorrer à vice-presidência dos EUA? - TVI

Quem é Kamala Harris, a primeira negra a concorrer à vice-presidência dos EUA?

Tornar-se pioneira nos cargos que ocupa tem sido uma das bandeiras da candidata democrata

Kamala Harris vai ser a parceira de campanha de Joe Biden na corrida à presidência dos Estados Unidos, segundo anunciou o concorrente democrata esta terça-feira. Traçamos o perfil daquela que é a primeira mulher negra a concorrer ao cargo.

Nasceu há 55 anos em Oakland, na Califórnia, e, atualmente, divide a sua residência entre São Francisco e Washington D. C. Filha de mãe indiana e pai jamaicano, graduou-se em direito pela Universidade da Califórnia já depois de ter concluído um curso de artes pela Universidade de Howard.

Mas a segunda opção acabou por marcar a sua carreira, começando por ser advogada no condado de Alameda. Mais tarde, em 2003, seria promovida a procuradora da cidade de São Francisco. Oito anos depois viria a ser a primeira mulher a ocupar o cargo de procurador-geral da Califórnia. Em 2016 foi eleita pelo Partido Democrata para o Senado, onde representa o seu estado natal desde 2017. Conseguiu ser a primeira afroamericana a representar o estado da Califórnia na câmara alta do Congresso, feito que procura ver repetido na vice-presidência dos Estados Unidos, sendo mesmo a primeira negra a concorrer ao cargo.

Depois da eleição de Donald Trump, os democratas ficaram num vazio, e foram vários os nomes que se alinharam para fazer frente ao atual presidente norte-americano nas eleições que estão marcadas para 3 de novembro de 2020. Um dos nomes que rapidamente surgiram foi o de Kamala Harris, que anunciou a sua candidatura num comício com mais de 20 mil pessoas em Oakland, realizado em janeiro de 2019.

O entusiasmo daquela noite foi-se esvaziando, e a candidatura foi cancelada em dezembro do mesmo ano, ainda antes da primeira votação para as eleições primárias, que serviriam para eleger o representante Democrata entre os vários nomes que entraram na disputa.

Já em março deste ano, e quando Joe Biden já concorria praticamente sozinho pela indicação Democrata, Kamala Harris decidiu apoiá-lo oficialmente, já depois de o ter acusado de colaborar com senadores racistas do Partido Republicano durante a década de 1970.

No Senado ficam para a memória vários momentos de tensão, sendo que muitos analistas compararam as intervenções de Kamala Harris às dos advogados quando estão em tribunal. Um dos momentos mais tensos foi protagonizado durante as audições ao juiz Brett Kavanaugh, nomeado por Donald Trump para o Supremo Tribunal, e que foi acusado de abusos sexuais.

Bandeiras e posicionamento político

Habituada a fazer história, é com esse intuito que entra na corrida à Casa Branca, quando faltam menos de três meses para o dia decisivo. Os analistas norte-americanos posicionam-na como uma progressista que também pode conseguir chegar aos mais moderados, sendo que esse ecletismo terá sido uma das razões para o falhanço da candidatura presidencial, uma vez que foi vista como alguém sem convicções.

Económica e socialmente parece concentrar-se nos grupos historicamente mais desfavorecidos, como sejam as mulheres, as pessoas de cor ou os norte-americanos com condições sociais mais baixas.

Vamos dizer a verdade: as pessoas protestam porque os negros têm sido tratados como menos que humanos na América. Porque o nosso país nunca admitiu o racismo sistémico que surgiu como uma praga desde os primeiros dias. É o dever de todos os americanos emendar isso. Não podemos esperar mais nas margens à espera de uma mudança. Em tempos como estes, o silêncio é cumplicidade", disse, em declarações à Cosmopolitan, falando sobre a onda de protestos contra o racismo, que surgiu na sequência da morte de George Floyd.

NY Times define-a como alguém que tem "afiadas" capacidades de debate, ao mesmo tempo que apresenta uma personalidade afável. Terá sido esse consenso que a tornou, em apenas um mandato, numa potencial candidata dentro do Partido Democrata.

Uma das políticas que mais tem dividido a sociedade norte-americana está relacionada com a saúde. Inicialmente, Kamala Harris demonstrou o seu apoio ao modelo defendido por Bernie Sanders, que também esteve na corrida à Casa Branca. A Medicare for All consistia em erradicar os seguros de saúde e oferecer um sistema nacional para todos os norte-americanos, numa proposta diametralmente oposta àquilo que está em prática no país.

Foi durante a campanha para a indicação Democrata que Kamala Harris veio a mudar a sua visão, apresentando uma proposta própria, que já previa a manutenção de alguns seguros de saúde privados, ainda que prevê-se um alargamento do sistema nacional de saúde para a classe média.

Relativamente à sua posição em termos de valores e sociedade, a análise é feita, em grande parte, com base nas decisões tomadas enquanto profissional da justiça. Definiu-se como uma "procuradora progressiva", e adotou uma posição mais conotada com a esquerda em matérias como o casamento homossexual ou a pena de morte, ainda que alguns liberais lhe tenham apontado que poderia ter ido mais longe.

Não podemos tolerar a perspetiva de voltar para trás e não perceber as mulheres. As mulheres têm valor. As mulheres têm autoridade para tomar decisões sobre as suas próprias vidas e corpos", afirmou a 28 de maio de 2019 em declarações à MSNBC, falando sobre o aborto.

Uma das críticas apontadas tem que ver com o reforço que foi dado por Kamala Harris às autoridades da Califórnia. Foi durante o seu mandato de procuradora-geral que o departamento de justiça daquele estado passou a ter polícias com câmaras nos uniformes. As medidas relativas às forças de segurança tornaram-se tão evidentes que o público lhe colou a frase "Kamala é da polícia". 

Sobre a política das armas, a candidata a vice-presidente pretende leis mais restritas, que passem por um maior controlo do porte de arma de fogo.

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