Hormonas podem aliviar dificuldades de movimento após lesão cerebral ou AVC - TVI

Hormonas podem aliviar dificuldades de movimento após lesão cerebral ou AVC

  • Agência Lusa
  • RL
  • 11 ago 2021, 12:31
Ciência [Reuters]

Estudo realizado por grupo de investigadores de vários países, incluindo Portugal

 Um grupo de investigadores de vários países, incluindo Portugal, realizou um estudo que demonstra como as hormonas podem aliviar as dificuldades de movimento após uma lesão cerebral traumática ou AVC.

O trabalho, a que a Lusa teve hoje acesso e que tem como primeiro autor Nikolay Lukoyanov, investigador do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), revela que as hormonas libertadas pela hipófise após uma lesão cerebral contribuem para a perda de movimentos corporais.

Se estas hormonas forem bloqueadas, indicam estes novos resultados, os efeitos nocivos de uma lesão podem ser contrariados.

Uma descoberta que, segundo os cientistas, pode ter implicações no tratamento de pessoas com lesões cerebrais traumáticas ou AVC.

Sabemos que um AVC ou uma lesão de um lado do cérebro causa dificuldades de movimento no lado oposto do corpo e estudos recentes mostraram-nos também que se dermos certas hormonas a um ratinho sem lesão cerebral isso pode causar perda de movimentos num dos lados do corpo. Descobrimos então, após testes in vivo, que são duas hormonas hipofisárias em específico - a ß-endorfina e a Arg-vasopressina – que causam este efeito de contração dos membros”, explica, em comunicado, Nikolay Lukoyanov.

A equipa administrou estas duas hormonas a ratos sem lesões cerebrais e descobriu que eles desenvolveram contração do membro inferior do lado direito e tentaram depois perceber o que aconteceria se dessem a ratos com lesão cerebral do lado esquerdo medicamentos que bloqueiam os efeitos destas duas hormonas.

Os investigadores concluíram que os animais não desenvolveram problemas de movimento do lado direito, como seria de esperar.

“A nossa expectativa é que se tratarmos os pacientes com lesões cerebrais semelhantes com medicamentos que bloqueiam os efeitos destas hormonas, podemos obter melhorias” na condição física, acrescenta Nikolay Lukoyanov.

Estas observações sugerem que “o sistema endócrino através das suas hormonas no sangue pode visar seletivamente os lados esquerdo e direito do corpo dos animais”.

Temos de ser cautelosos na interpretação destas descobertas e das suas implicações biológicas e precisamos de verificar este fenómeno noutros modelos animais, mas se se confirmarem os benefícios de tratamentos que bloqueiam estas hormonas, poderemos ter aqui uma nova abordagem ao tratamento de problemas de movimento após um AVC ou lesão”, considera Nikolay Lukoyanov.

Os editores, autores e revisores deste artigo publicado na terça-feira na revista científica eLife, discutiram os resultados e classificaram o trabalho da seguinte forma: "Extremamente interessante. E, se os seus resultados forem replicados, é também um estudo de enorme importância”, "este manuscrito relata resultados notáveis de altíssima importância científica e possivelmente clínica", "este estudo examina um fenómeno intrigante" e "esta contribuição é tão importante como inesperada. O interesse fundamental e clínico destes estudos não pode ser sobrestimada”.

A equipa inclui Georgy Bakalkin e Jens Schouenborg (Universidade de Lund, Suécia), coautores séniores do estudo, e, como primeiros coautores, Nikolay Lukoyanov (Universidade do Porto, Portugal), Hiroyuki Watanabe (Universidade de Uppsala, Suécia), Liliana Carvalho (Universidade do Porto), e Olga Nosova e Daniil Sarkisyan (ambas Universidade de Uppsala).

Inclui também os investigadores Mengliang Zhang e Marlene Storm Andersen (Universidade do Sul da Dinamarca), Elena A. Lukoyanova (Universidade do Porto), Vladimir Galatenko (Universidade Estatal de Moscovo Lomonosov, Rússia), Alex Tonevitsky (Escola Superior de Economia da Universidade Nacional de Investigação, Rússia), e Igor Bazov e Tatiana Iakovleva (ambas da Universidade de Uppsala).

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