Ataques a petroleiros no mar de Omã: o vídeo, as acusações e as consequências no preço do petróleo - TVI

Ataques a petroleiros no mar de Omã: o vídeo, as acusações e as consequências no preço do petróleo

  • Bárbara Cruz
  • 14 jun 2019, 12:27

EUA divulgaram vídeo que, alegadamente, prova culpa do Irão nos ataques aos petroleiros. Impacto da escalada de tensão entre os dois países poderá fazer disparar preços do barril de Brent até aos 80 dólares, cerca de 70 euros

Os Estados Unidos da América divulgaram na noite de quinta-feira um vídeo que dizem provar que o ataque a dois petroleiros no mar de Omã foi orquestrado pelo Irão. 

As imagens. a preto e branco e recolhidas a partir de uma aeronave, mostram uma pequena embarcação militar junto ao petroleiro japonês Kokuka Courageous, e uma pessoa de pé na proa do barco a remover um objeto do casco do petroleiro antes de a embarcação se afastar.

 

Os responsáveis norte-americanos garantem que a embarcação é da Guarda Revolucionária Iraniana e que se aproximou do petroleiro atacado para remover uma mina que não explodiu. 

Fonte do Departamento de Defesa dos EUA disse ao The New York Times que os iranianos retiraram do petroleiro uma mina magnética, o tipo de armamento que foi usado há cerca de um mês na sabotagem de quatro petroleiros no porto de Fujairah, nos Emirados Árabes Unidos, e que tem como objetivo causar danos num barco sem comprometer a sua capacidade de flutuar. 

Gover Jan van Oord, da empresa que detém o barco de bandeira holandesa que foi o primero a prestar auxílio às tripulações dos petroleiros afetados, disse ao New York Times que, "enquanto se realizava a evacuação", a tripulação se apercebera "da presença de um objeto no casco, acima da linha de flutuação".

O vídeo que, para os EUA, prova a autoria iraniana dos ataques, foi divulgado horas depois de o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo ter assumido que os petroleiros - o japonês Kokura Courageous e o norueguês Front Altair - tinham sido efetivamente visados pelo Irão.

Troca de acusações entre EUA e Irão

O ataque ocorre numa altura de escalada de tensão entre Teerão e Washington: ainda no mês passado, John Bolton, conselheiro de segurança nacional dos EUA, anunciou que os norte-americanos iriam enviar o porta-aviões USS Abraham Lincoln e uma força de bombardeiros para o Médio Oriente, em resposta a um número preocupante de alertas do Irão.

Segundo a CNN, o navio USS Bainbridge, bem como um drone dos EUA e um avião militar P-8, da marinha americana, já estariam no local dos ataques no mar de Omã há várias horas quando foram recolhidas as imagens que agora os EUA divulgam para provar o envolvimento do Irão, e os responsáveis norte-americanos acreditam que os iranianos estavam, apesar de tudo, a tentar ocultar as provas da autoria dos ataques. 

Os dois petroleiros atacados - um transportava petróleo e o outro produtos químicos - foram danificados em águas internacionais, perto do estreito de Ormuz. Todos os membros da tripulação foram retirados e colocados a salvo, já que os petroleiros foram atingidos "na ou abaixo da linha de água, próximo da casa das máquinas", revelou a associação internacional de proprietários independentes de petroleiros. "Parecem ataques bem planeados e coordenados".

Numa reunião à porta fechada do Conselho de Segurança da ONU, convocada de emergência, o embaixador dos EUA terá repetido as palavras de Pompeo, atribuindo responsabilidades aos iranianos, descrevendo o ataque como "outro exemplo do Irão a destabilizar as atividaes na região". Todas as acusações foram refutadas pelo Irão, que se referiu ao incidente como "suspeito", pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif. O governante assinalou que, no momento do ataque, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe estava de visita ao Irão, num esforço de apaziguamento das tensões entre Washington e Teerão. 

Ataques reportados a petroleiros relacionados com o Japão ocorreram enquanto o primeiro-ministro estava reunido com o Ayatollah para conversações amigáveis. Dizer que é suspeito não é suficiente para descrever o que tem transpirado esta manhã", escreveu Zarif no Twitter.

Shinzo Abe ter-se-á oferecido como facilitador numa linha aberta de comunicação entre os líderes dos EUA e Irão, ainda que logo após o ayatollah Khomeini ter negado o envolvimento do Irão nos ataques Trump ter recorrido ao Twitter para dizer que considerava "demasiado cedo" para qualquer acordo com o Irão. "Eles não estão prontos, e nós também não", escreveu. 

Já o ayatollah descartou igualmente conversações que incluíssem os EUA: "Não considero que Trump seja uma pessoa com a qual valha a pena trocar qualquer mensagem e não tenho resposta para ele, nem irei responder-lhe no futuro", escreveu no Twitter.

Já esta sexta-feira, o presidente da empresa que detém o Kokuka Courageous deu uma conferência de imprensa em Tóquio, garantindo que não tinha sido usada uma mina no ataque.

O impacto no preço do petróleo

Os ataques aos petroleiros fizeram subir de imediato os preços do barril de Brent em 4% e podem continuar a impulsioná-los, fazendo subir igualmente os preços das apólices dos seguros necessários para operar no Golfo.

O barril de Brent chegou aos 62,64 dólares (55,49 euros), fazendo subir os preços que se mantinham baixos nos últimos cinco meses. 

A ameaça no estreito de Ormuz - entre o Irão e Emirados Árabes Unidos - pode constituir-se, efetivamente, como um sinal de alarme e com efeitos na economia mundial: a administração para a energia dos EUA considera o estreito o pior "ponto de estrangulamento" do mundo, pior do que o estreito de Malaca, entre a ilha indonésia de Sumatra, Malásia e Tailândia, que liga o oceano Índico ao mar do Sul da China. Números citados pelo Guardian referem que em 2016 foram transportados através do estreito de Ormuz 18,5 milhões de barris de crude, comparados com 16 milhões através do estreito de Malaca e 5 milhões através do canal do Suez.

O efeito dos ataques aos petroleiros nos preços do petróleo só não foi maior porque o mercado já reflete os riscos geopolíticos que decorrem do Irão, disse ao Guardian Cailin Birch, economista da Economist Intelligence Unit. Porém, os analistas admitem que os receios de uma crise maior na região, que fornece grande parte do petróleo para todo o mundo, possam fazer aumentar os valores e obrigar a rever as previsões dos preços para os próximos meses. Até agora, admitia-se que o barril de Brent oscilaria entre os 60 e os 70 dólares, mas a conflto pode fazer disparar o custo para os 80 dólares, cerca de 70 euros.
 

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