Destinee Mangum de 16 anos, seguia com uma amiga no comboio, que estava a usar um hijab, quando um homem de 35 anos as começou a atacar verbalmente. Três estranhos saíram em defesa das jovens e foram esfaqueados. Dois morreram. “Eles perderam a vida por minha causa e por causa da minha amiga”, recorda a jovem numa entrevista à KPTV, enquanto as lágrimas lhe escorrem pelo rosto.
“Eu quero agradecer às pessoas que puseram a sua vida em risco por mim”, diz Destinee Mangum, enquanto a voz fraqueja. “Eles não me conheciam e perderam a vida por minha causa e por causa da minha amiga e da nossa aparência”
Sexta-feira passada, Destinee e a amiga, seguiam num comboio em Portland, nos Estados Unidos, quando Jeremy Joseph Christian, de 35 anos, as começou a atacar verbalmente com um discurso anti-muçulmano. “Disse-nos para voltarmos para a Arábia Saudita e que não devíamos estar ali, para sairmos do seu país”, conta à KPTV. “Estava a dizer-nos que não éramos nada e que nos devíamos matar”, acrescenta.
Assustadas mudaram de lugar e foram para a parte de trás da carruagem. Três homens, que não conheciam as jovens intercederam e acabaram esfaqueados pelo agressor. Dois acabaram mesmo por perder a vida.
Um dos homens dirigiu-se a Jeremy Joseph Christian, já com cadastro por roubo e rapto, dizendo-lhe que “não podia desrespeitar as jovens daquela maneira”. “Depois começaram todos a discutir”, recorda a jovem. Quando chegaram à estação de comboio seguinte, as amigas saíram.
“Ainda olhámos para trás e eles estavam a lutar. Ele puxou de uma faca e começou a esfaquear as pessoas. Havia sangue por todo o lado e nós começámos a correr com medo pelas nossas vidas”, confessa Destinee Mangum. O incidente acabou por ser filmado por outros passageiros.
Outros passageiros perseguiram o atacante e ligaram para as emergências. Com as indicações das testemunhas acabou por ser detido pelas autoridades.
“Isto persegue-me”, desabafa a jovem de mão dada com a mãe.
Os heróis desconhecidos
Ricky Best, um funcionário municipal e veterano do exército de 53 anos, Taliásin Meche, um recém-licenciado em economia de 23 anos e Micah Fletcher, de 21 anos, foram os homens que saíram em defesa das adolescentes.
The surviving #Portland hero. Micah Fletcher, 21, won a 2013 poetry competition w/ a poem condemning Islamophobia. In hospital w/stab wounds pic.twitter.com/zxZt4L3flL
— Tarek El-Messidi (@Elmessidi) May 28, 2017
Ricky Best e Taliásin Meche não sobreviveram. Micah Fletcher ficou ferido com gravidade, mas não corre perigo de vida. Nas redes sociais, os três estão a ser tratados como heróis.
You are American heroes. We love you Taliesin Myrddin Namkai Meche & Ricky Best. We will remember your courage always. #Portland pic.twitter.com/YdOdPr3nf6
— Linda Sarsour (@lsarsour) May 28, 2017
O caso chocou o país e não só. Pelo mundo fora, muitos prestam tributo às vítimas mortais. Foi até criada uma conta para ajudar as famílias destes três homens que até ao momento já terá recolhido cerca de 530 mil euros (600 mil dólares).
Muslims Unite for #Portland Heroes. Give what you can. https://t.co/JXb2GXQacz #Muslims4Portland pic.twitter.com/tiAfIpNdQ4
— Linda Sarsour (@lsarsour) May 27, 2017
Pressão sobre Trump
A Governadora de Oregon, Kate Brown, e a ex-candidata presidencial, Hillary Clinton, descreveram a história como “de partir o coração”.
Heartbreaking.
No one should have to endure this racist abuse.
No one should have to give their life to stop it.https://t.co/CpmQcHI8gi
— Hillary Clinton (@HillaryClinton) May 27, 2017
Até esta segunda-feira a meio da tarde, o presidente norte-americano ainda não tinha comentado o incidente e muitos usaram as redes sociais para o questionarem.
Um jornalista de o jornal Oregonian, Rob Davis, publicou um tweet onde pergunta a Donald Trump se tem algum comentário a fazer ao ataque. A publicação já foi partilhada milhares de vezes.
.@realDonaldTrump I'm a reporter in Portland. Do you have a comment about what happened here Friday night? Thanks.
— Rob Davis (@robwdavis) May 29, 2017
Também outro jornalista, veterano, Dan Rather , usou o seu Facebook para apelar ao presidente para se pronunciar em relação a estas duas mortes. Um post também repartilhado milhares de vezes.
Foi, aliás, através do twitter que mais utilizadores criticaram a ausência de comentário de Trump. Houve mesmo quem garantisse que se o atacante fosse muçulmano este já teria falado sobre as vítimas mortais.
Call me crazy but had a Muslim killed two white Christians in Portland I suspect our president would have said something
— Peter Beinart (@PeterBeinart) May 29, 2017
Trump tweeted 2x today celebrating a candidate that assaulted a journalist but has said nothing yet about the 2 heroes murdered in Portland.
— Brian Klaas (@brianklaas) May 28, 2017
New Trump tweet tally...
Tweets about men/women who fought/died for our country- 0
Tweets about Portland- 0
Tweets about FAKE NEWS- 5
— Tony Posnanski (@tonyposnanski) May 29, 2017
Finalmente, perto das cinco da tarde desta segunda-feira, Donald Trump condenou o incidente e considerou-o "inaceitável" através da conta oficial da presidência (@Potus). Ou seja, não aquela que usa habitualmente para fazer considerações e que, muitas vezes, causa polémica.
The violent attacks in Portland on Friday are unacceptable. The victims were standing up to hate and intolerance. Our prayers are w/ them.
— President Trump (@POTUS) May 29, 2017