Histórias da Casa Branca: nos antípodas em poucos dias - TVI

Histórias da Casa Branca: nos antípodas em poucos dias

  • Germano Almeida
  • 10 jan 2017, 09:05
Barack Obama

Barack Obama aproveita a reta final para sublinhar legado e reforçar diferenças com o sucessor. Trump mantém sinais perturbadores de querer governar… pelo Twitter

“Cresce, Donald. Vais ser presidente, é tempo de te portares como um adulto.”

(Joe Biden, vice-presidente dos EUA, para o presidente eleito)

“Sejam focados. Sejam determinados. Sejam cada vez mais fortes. Liderem pelo exemplo e com esperança. Nunca temam.”

(Mensagem do discurso de despedida de Michelle Obama como Primeira Dama)

 

Os Estados Unidos da América estão na iminência de passar, em poucos dias, para os antípodas políticos, depois de oito anos de presidência Obama.

Na contagem decrescente para a tomada de posse do 45.º Presidente dos EUA reforçam-se as diferenças entre o que representa a herança Obama, prestes a terminar a era do 44.º Presidente americano, e o que poderá significar o ingresso de Donald Trump na Casa Branca.

Como um maratonista que entra no estádio para os metros finais, de longos e cansativos 42 quilómetros já percorridos na estrada, Barack Obama não se tem feito rogado em vincar o que pretende deixar como marca, nestes dias finais.

Nas entrevistas que deu nas últimas semanas, destaca como balanço a grande recuperação económica que operou, lembrando, aos mais distraídos, que pegou nos EUA no pico da maior crise financeira dos últimos 70 anos.

Quando forem duas da manhã da madrugada de terça para quarta-feira em Lisboa, Barack Obama vai endereçar o seu discurso de despedida, em Chicago.

Será um marco forma como Obama pretende definir o adeus à Casa Branca. E deve ter uma tónica dominante: o «We» (nós), em contraponto com o «I» (eu), que caracteriza a visão de Trump.

“Tenho orgulho do que fiz – e fi-lo bem”

“Demorou meses a mudar a agulha, mas a partir do final de 2009 começámos um período de crescimento e criação de emprego que já vai em 81 meses seguidos. O mais longo período seguido. Demos cobertura de Saúde a 20 milhões de americanos. Fizemos regressar a casa mais de 160 mil soldados norte-americanos que estavam em palcos de guerra. Reduzimos a dependência energética ao estrangeiro, eliminámos Bin Laden, diminuímos tensões com antigos rivais”, recorda o primeiro presidente negro dos EUA.

“Tenho orgulho do que fiz – e fi-lo bem”. Obama tem sublinhado um balanço positivo dos seus dois mandatos presidenciais, tese que sai reforçada com os 57% de americanos que aprovam o seu desempenho.

E o ainda Presidente dos EUA parece ter escolhido uma fórmula mista para vincar diferenças com Donald Trump: nas aparições públicas, repete os argumentos acima evidenciados; nas decisões finais na Casa Branca tem conduzido uma rota de demarcação sobre os caminhos que o seu sucessor promete vir a trilhar, a partir de dia 20.

Obama está a dar grande relevo político às conclusões dos serviços de informações norte-americanos, que apontam para que os russos interferiram mesmo na eleição americana, através de “hacking” informático com intenção de prejudicar a candidatura de Hillary Clinton e beneficiar Donald Trump.

E prevendo excessiva e perturbadora proximidade entre os EUA de Trump e a Rússia de Putin, tem alertado para o risco que corre uma certa estabilidade bipartidária que tem vindo a marcar a política externa americana, desde Nixon, de aproximação à China e a demarcação da URSS/Rússia.

Outro aspeto importante nas prioridades de Obama nestes dias finais da sua presidência de dois mandatos tem a ver com Israel.

A indicação que deu à ainda embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power, de se abster na votação que condena Israel na continuação da construção de colonatos foi um ‘turning point’ na política norte-americana em relação ao tema.

A reação de Trump, como quase sempre através do twitter, não poderia ser mais esclarecedora: retirou legitimidade à posição da Administração Obama, apelando aos israelitas para que “esperem pelo dia 20, que está quase a chegar”, porque a partir daí a administração americana reverterá a decisão.

Já não restará muito mais a Barack Obama que não seja o de reforçar, nestes dias finais, decisões simbólicas que mostrem claramente a sua visão do que deve ser o comportamento norte-americano nas suas prioridades internas e no exemplo que pretende dar ao mundo.

Com Donald Trump, por enquanto apenas podemos esperar imprevisibilidade e incoerência. E uma estranhíssima tentação de querer governar pelo Twitter.

Pode ser eficaz para gerir ciclos mediáticos. Mas, a longo prazo, tem tudo para ter efeitos terríveis no prestígio do cargo político que, até agora, foi visto como o mais influente à escala global: o de Presidente dos Estados Unidos da América.

Quem diria?

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