Histórias da Casa Branca: o pesadelo chegou mesmo. É hoje - TVI

Histórias da Casa Branca: o pesadelo chegou mesmo. É hoje

  • Germano Almeida
  • 20 jan 2017, 15:06
O presidente sou eu

Donald Trump foi menosprezado por muitos, desvalorizado por mais. Recebeu sentenças de morte política em várias ocasiões: mas resistiu sempre. É investido esta tarde como 45.º Presidente dos EUA

Donald John Trump é o 45.º Presidente dos EUA. Não é piada nem pesadelo imaginado. É real.

Há quem veja nisto um salto no escuro. Perigosíssimo e perturbador.

Há quem acredite que esta possa vir a ser a grande e mais duradoura prova de vida do sistema político americano: se sobreviver forte e saudável a uma Presidência Trump, resistirá a quase tudo.

Mas o choque ainda é enorme.

Trump não exibe dimensão de Presidente.

Ainda antes de tomar posse, já ameaçou reduzir substancialmente o prestígio do cargo, com aquela conferência de Imprensa surreal de dia 11 de janeiro, em que impediu perguntas da CNN e BBC, de forma brusca e muito pouco civilizada.

É instável, incoerente e caprichoso.

Durante a campanha, insultou mulheres, deficientes, negros, hispânicos, jornalistas, mexicanos, árabes e chineses.

Depois de eleito, insultou já tanta gente que uma página A4 não chegaria para elencar a lista complete.

Fez-se rodear de gente com visão tacanha do mundo, que olha mesmo para a “América primeiro”. Que desconfia do multilateralismo e dos grandes acordos comerciais.

Nem todos, é certo: James Mattis, o secretário da Defesa, defende a importância da NATO e da ONU. Terá ele a influência na futura administração que será preciso para evitar o desastre?

A partir de hoje, o Presidente dos EUA é alguém que mente sem hesitar para chegar aos seus interesses imediatos.

Que olha para o domínio do ciclo mediático como um fim e não olha para os valores políticos com grande relevância.

Que funciona por “feelings” e não por princípios fundados em informação complexa e pensada.

Que tem um uso da linguagem parecido com um adolescente despreocupado: acha tudo “brutal”, “desastroso”, “vergonhoso”, “escandaloso”.

Quando um Presidente dos EUA fala assim, as palavras no discurso político correm o risco de perder a sua medida exata. E essa dispersão gera uma perda de valor do próprio discurso político.

Com Obama, vimos no Presidente dos EUA um exemplo de eloquência aliada à consistência ideological.

Com Trump, assistiremos à vitória do imediato e do ilusório.

Barack Obama é racional, profundo e escreveu dois livros sobre "A Audácia da Esperança" e a as origens do seu pai queniano.

Donald Trump é um entertainer que fez a sua ascensão mediática em "reality shows".

Sinais dos tempos.

A imprevisibilidade do novo Presidente do EUA faz-nos olhar, a partir de hoje, para a Casa Branca com receio. E isso não era suposto. Estávamos habituados a esperar da instituição presidência americana um pilar de Democracia e Liberdade.

Construirá o muro e porá os mexicanos a pagá-lo? 

Conseguirá pontes de entendimento com a maioria republicana no Congresso?

Chegará ao fim do mandato ou fará mesmo oito anos?

Parte com apoio fraquíssimo (40%), mas herda uma América com desemprego historicamente baixo e a crescer quase 3% ao ano (e bem pode agradecer a Barack Obama por isso).

Com Trump, boa parte dos direitos cívicos fundamentais podem estar ameaçados, se levarmos minimamente a sério o que o candidato republicano disse durante a campanha.

Talvez por isso, espera-se para a cerimónia de inauguração menos de metade da assistência que se registou na primeira tomada de posse de Barack Obama, em janeiro de 2009.

Depois da eleição de Barack Obama em 2008, passámos a esperar sempre o melhor no que se refere ao julgamento do povo americano, na escolha para o titular do cargo político mais relevante do mundo.

Aparecer, a seguir, Donald Trump (e com a plataforma de exploração de medo com que se fez eleger nesta estranha eleição presidencial de 2016) ainda não parece verosímil.

Há pesadelos que pensamos que só acontecem nos nossos sonhos. Mas, alguns deles, acontecem mesmo.

É hoje.

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