As mulheres são o símbolo do revés que o presidente Donald Trump sofreu nas eleições intercalares dos Estados Unidos da América. As candidatas ao Congresso fizeram história na terça-feira à noite, com mais de 100 mulheres a assumirem o poder na Câmara dos Representantes. Nunca antes na História dos EUA tantas mulheres tinham sido eleitas. Entre elas, há até uma lusodescendente.
Depois da “marcha das mulheres” contra Donald Trump no dia seguinte em que tomou tomada posse como presidente, em janeiro de 2017, e após uma série de acusações de agressões sexuais no final do ano que desencadeou o movimento #MeToo, a agenda pela igualdade de género teve um papel decisivo na definição da política do Partido Democrata neste ciclo eleitoral. A recente nomeação para o Tribunal Constitucional do juiz Brett Kavanaugh, escolhido por Trump apesar de ser acusado por três mulheres de abusos sexuais, reforçou ainda mais o empenho feminino. Mais de 230 mulheres, muitas delas candidatas pela primeira vez, participaram nas eleições para a Câmara dos Representantes, num escrutínio que agora marca um recorde no número de eleitas.
As eleições legislativas norte-americanas mais diversificadas de sempre acabaram com um Congresso mais feminino e mais multicultural. Da eleição das representantes mais jovens às primeiras indígenas e muçulmanas, a diversidade ganhou força:
Entre as eleitas de uma nova geração de políticos que agora começa a emergir, está Lori Loureiro Trahan, a primeira mulher lusodescendente a ser eleita para o Congresso. Com 44 anos, a profissional de marketing e consultoria, neta de um imigrante português e de uma imigrante brasileira, nascida e criada no Estado de Massachusetts, Trahan venceu a nomeação democrata nas eleições primárias do 3º distrito eleitoral, contra outros nove candidatos. Lori Trahan é apoiada por grandes figuras do Partido Democrata de Massachusetts, como a senadora Elizabeth Warren.
Os meus avós, imigrantes de Portugal, iriam ficar muito orgulhosos esta noite. A minha avó trabalhou nas fábricas de têxteis, o meu avô foi carpinteiro profissional, eles não iriam acreditar que duas gerações mais tarde a sua neta iria ser a primeira luso-americana na Câmara dos Representantes da América", disse Lori Loureiro Trahan, depois de agradecer aos pais, Tony e Linda, ao marido e restantes familiares, sem esquecer os elementos da campanha.
Last night with Congresswoman @LoriUSCongress. The future is bright! She will fight for us.
*Environmental 👍
*Immigration Reform 👍
*Equality 👍
Great job #TeamLori! #mapoli#USCongress #MA3 #LoriTrahan pic.twitter.com/lGxz27lYzR
— ConnorsM0M (@Connors_M0M) 7 de novembro de 2018
Numa entrevista ao Boston Globe antes das eleições Trahan sublinhou que quer dar um contributo na legislação da educação, do trabalho, da saúde, imigração, drogas e controlo de armas. As linhas orientadoras da congressista eleita incluem a defesa da igualdade de género, o aumento da participação política das mulheres e a implementação de medidas de proteção financeira das famílias.
Congresswomen-elect @LoriUSCongress holds her youngest daughter as she thanks supporters. #MA3 @wbznewsradio pic.twitter.com/wYQujf4Nv0
— KarynRegalWBZ (@Karynregal) 7 de novembro de 2018
Primeiras mulheres indígenas no Congresso
Entre os destaques das “midterm” de terça-feira, está ainda a eleição, pela primeira vez em 229 anos, de mulheres indígenas. Foram duas: Deb Haaland, de 57 anos, e Sharice Davids, de 37. Davids também será a primeira representante assumidamente LGBT do Kansas no Parlamento.
Davids, advogada e ex-lutadora de Artes Marciais, é a primeira mulher indígena a ser eleita para o Congresso, mas também a primeira representante assumidamente lésbica a chegar a uma das Câmaras.
Thank you, #KS03. pic.twitter.com/sRKrFv7eIv
— Sharice Davids (@sharicedavids) 7 de novembro de 2018
Já Haaland, que liderou o Partido Democrata do Novo México (2015-2017) e foi responsável pelo voto dos indígenas na campanha presidencial de Barack Obama em 2012, vai ocupar a vaga deixada pelo também democrata Michelle Lujan Grisham, que conquistou a eleição para o cargo de governadora do Novo México.
Thank you New Mexico. Thank you to my family. And thank you Team Deb, for your tireless work to get us here! Together, we made history! #nmpol #nm01 pic.twitter.com/SJLg5GFNlV
— Deb Haaland (@Deb4CongressNM) 7 de novembro de 2018
Tonight, we made history. https://t.co/VC4HNSRc2i
— Deb Haaland (@Deb4CongressNM) 7 de novembro de 2018
Agora, estas duas mulheres juntam-se aos outros dois indígenas que servem atualmente na Câmara dos Representantes: os republicanos Markwayne Mullin e Tom Cole, ambos de Oklahoma, que foram reconduzidos.
Primeiras congressistas muçulmanas
Os Estados Unidos elegeram ainda as primeiras representantes muçulmanas. Rashida Tlaib e Ilhan Omar, ambas democratas, conquistaram assentos pelos Estados de Michigan e Minnesota. Ambas tiveram mais de 70% dos votos nos respetivos círculos eleitorais.
Ilhan Omar, de origem somali, chegou aos Estados Unidos há duas décadas como refugiada e é também a primeira representante federal negra do Estado de Minnesota. Omar ocupará a vaga deixada por Keith Ellison, o primeiro muçulmano eleito para o Parlamento norte-americano, que deixou o cargo para disputar o comando da Procuradoria-Geral do Estado.
We did this, together.
Thank you! pic.twitter.com/TywZwt2dR3
— Ilhan Omar (@IlhanMN) 7 de novembro de 2018
Já Rashida Tlaib vai ocupar o lugar antes ocupado pelo democrata John Conyers, que deixou o cargo em 2017 na sequência de denúncias de assédio sexual. Tlaib nasceu em Detroit, filha de imigrantes palestinianos, e tornou-se a primeira mulher muçulmana da Assembleia Legislativa de Michigan há uma década. É crítica de Trump e foi presa há dois anos por interromper um discurso dele em Detroit.
To our phenomenal volunteers & supporters: Thank you for believing in the possibility of this moment.
13th District residents: Get ready to be spoiled with unwavering advocacy & constituent services. I will never back down because you deserve no less. Now, let's get to work. pic.twitter.com/VjvmBoP231
— Rashida Tlaib (@RashidaTlaib) 7 de novembro de 2018
As representantes mais jovens de sempre
Uma das estrelas que emergiram este ano na política norte-americana, Alexandria Ocasio-Cortez, a candidata da ala mais à esquerda do Partido Democrata em Nova Iorque, conquistou o distrito 14 e tornou-se na congressista mais nova de sempre. Com 29 anos, de origem porto-riquenha e natural do Bronx, a democrata passou de empregada de mesa a figura principal daquilo que diz ser "um movimento maior pela justiça social, económica e racial nos Estados Unidos da América".
Ocasio-Cortez tornou-se uma estrela da política norte-americana depois de ter chamado a atenção mediática e das redes sociais por ter irritado o representante democrata Joe Crowley no início do ano. Ocasio acabaria por substituir Crowley na corrida pela reeleição em junho, com um programa marcadamente à esquerda do que é comum na política norte-americana.
Alexandria partilha o pódio de mais jovem deputada eleita no país com outra democrata, Abby Finkenauer, também com 29 anos, eleita por Iowa.
Tonight we as Iowans made clear who we are. Tonight, Iowa rejected fear and division, and tonight, Iowa proved we step up for our neighbors. I truly believe hope is the reason we got this far - and hope is the reason we still have work to do. https://t.co/HYa19cCosT
— Abby Finkenauer (@Abby4Iowa) 7 de novembro de 2018
Nesta eleição em que as mulheres deram cartas, destaque ainda para Yanna Pressley, primeira congressista negra eleita pelo Massachussetts.
"I have no intentions of delivering a victory speech. What I'm offering is a vision." -- @AyannaPressley after her historic win #Midterms2018 pic.twitter.com/jFeLosbkQx
— HuffPost BlackVoices (@blackvoices) 7 de novembro de 2018
Destaque também Veronica Escobar e Sylvia Gracia as primeiras legisladoras latinas eleitas no Texas. Escobar foi eleita para a Câmara dos Representantes e Garcia para o Senado.
...and here they are btw. Dale @vgescobar and @SenatorSylvia!
(📹:@nowthisnews)
pic.twitter.com/nitrVyurRa— Luis Miguel Echegaray (@lmechegaray) 7 de novembro de 2018
As vitórias das candidatas femininas na noite de terça-feira não se limitaram ao Congresso, com os Estados de Maine e Dakota do Sul a elegerem as primeiras governadoras. Vitórias também que não se limitaram ao Partido Democrata, embora superassem em muito o Partido Republicano em termos de candidatas femininas.
A republicana Marsha Blackburn é a primeira senadora eleita pelo Tennessee.
Tonight, #TennesseeValues prevailed. Chuck and I are incredibly humbled and grateful for the outpouring of support, well wishes and prayers that we have received over the last year. We truly could not have done this without you—THANK YOU. #StandWithMarsha pic.twitter.com/I6ArOx0tb7
— Marsha Blackburn (@VoteMarsha) 7 de novembro de 2018
No Arizona, embora o cenário ainda não esteja claro, é já certo que uma mulher irá ser eleita para o Senado: a disputa pelo lugar está entre a democrata Kyrsten Sinema e a republicana Martha McSally.