O mistério da cientista negra “esquecida” há 47 anos - TVI

O mistério da cientista negra “esquecida” há 47 anos

Identidade de cientista negra numa foto de 1971 foi um mistério durante 47 anos

Em 1971, 38 cientistas reuniram-se nos Estados Unidos numa conferência internacional sobre Biologia das Baleias. Faltava um nome: o Twitter resolveu o enigma

O Twitter desvendou um mistério com 47 anos. Uma fotografia a preto e branco, datada de 1971, imortalizou num retrato os especialistas da época em Biologia das Baleias, que se reuniram numa Conderência Internacional no estado norte-americano de Virginia. Na imagem, há 38 cientistas: 37 homens brancos, devidamente identificados, e uma única mulher, negra, cujo nome é impossível de saber. Quase invisível na imagem, já que o seu rosto está meio escondido pelas pessoas à sua volta, ela torna-se de facto invísivel na legenda: “Não identificada”. Uma omissão reveladora da segregação racial e sexista da América naqueles anos.

De acordo com a CNN, o mistério sobre a identidade da cientista afro-americana “esquecida” pela história permaneceu durante quase meio século até que a ilustradora norte-americana Candace Jean Andersen deu de caras com a fotografia em arquivos antigos, quando fazia pesquisa para um álbum sobre a lei americana de proteção dos mamíferos marinhos, datada de 1972.

Intrigada, a ilustradora não conseguiu deixar de se interrogar: afinal, quem era aquela jovem negra, meio escondida atrás dos colegas e sem direito a que o nome constasse na legenda da fotografia?

Durante dias, incomodou-me não saber quem era aquela mulher. Se ela estava ali, na conferência, tinha de ser importante. Eu tinha de a conhecer”, disse Andersen à CNN.

Curiosa, mas sem saber o que fazer quando se tem na mão apenas uma fotografia antiga e meio rosto visível, a ilustradora teve então a ideia de fazer um apelo no Twitter.

Hey Twitter estou numa missão: a mulher nesta fotografia participou em 1971 numa conferência internacional sobre Biologia das Baleias. É a única mulher e a única "não identificada” no artigo onde encontrei a foto. Todos os homens são identificados pelo nome. Podem ajudar-me a descobrir quem ela é? ".

 

O tweet foi publicado a 9 de março e, a partir daí, gerou-se um grande debate entre os utilizadores da rede social, que começaram a contactar diferentes entidades que poderiam ajudar a decifrar a identidade da mulher.

Depois de seguirem algumas pistas falsas, os “detetives” das redes sociais, com a ajuda de um arquivista no Instituto Smithsonian, em Washington, conseguiram confirmar poucos dias depois que a mulher era Sheila Minor Huff. Don Wilson, curador emérito de mamíferos no Smithsonian, informou que Sheila tinha sido analista de espécimes biológicos no Serviço de Pesca e Vida Selvagem. Huff teve uma carreira científica de 35 anos a trabalhar para o governo federal dos Estados Unidos e aposentou-se há 12 anos como especialista de alto nível em proteção ambiental.

Descoberto o nome de Sheila Minor Huff, não foi fácil relacioná-la com a jovem mulher da fotografia de 1971, uma vez que a cientista não foi registada na lista como membro oficial da conferência. Com a ajuda da equipa do arquivo Smithsonian e muito trabalho depois, foi encontrada uma fatura relacionada com o evento, em que a mulher surgia com o nome de casada (Jones).

Mas a maior confirmação acabou por vir da própria Sheila. Candace Jean Andersen conseguiu localizá-la no Facebook e falou depois com ela por telefone: "Meu Deus! Sim, sou eu, há muito, há muito tempo, numa galáxia distante, muito longe ... ".

A cientista, hoje com 71 anos, vive em Falls Church, na Virginia. Sheila Minor Huff dedicou toda a sua vida profissional à biodiversidade e diz que “adorou cada momento”. Nunca se preocupou em ser reconhecida. Apaixonada pela questão dos recursos naturais, afirma que só queria fazer o trabalho "porque o que é importante é o resultado".

Sheila Minor Huff (Reprodução Facebook)

Questionada pelo The New York Times sobre a fotografia onde a sua identidade é ignorada, a cientista agora reformada revela que nunca deu importância a esse descuido.

Não é assim tão grave. Quando tento fazer o bem, quando tento fazer justiça a esta Terra maravilhosa que temos, quando tento protegê-la, é importante que alguém saiba meu nome?", questiona.

Ainda assim, Sheila Minor Huff achou simpática a atenção que lhe foi dedicada.

"Os meus amigos disseram-me: ‘Já era tempo de o mundo saber sobre ti’".

 

 

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