Se já é difícil avaliar o pulso dos americanos em eleições como as presidenciais, bem mais complicado é fazer esse exercício para umas “midterm”.
Tendencialmente, o partido que está no poder sofre a erosão nas eleições a meio de mandato presidencial, mas é preciso ver que o momento atual da política americana é pouco dado a equivalências históricas.
Donald Trump parece estar a ser o principal trunfo eleitoral para os republicanos para as “midterm” de terça, mas não é um “presidente republicano” típico.
A recente polémica com Paul Ryan, speaker republicano do Congresso, a propósito dos direitos de nacionalidade americana à nascença, voltou a mostrar que a “agenda republicana” está a ser substituída, pela própria base eleitoral da direita americana, pela “agenda Trump”.
Muitas vezes, os temas são compatíveis – mas nalguns casos (como este dos direitos de nacionalidade à nascença ou a questão do comércio internacional) eles até podem ser conflituais.
O ponto é que Donald Trump -- apesar de ter tido um primeiro ano de presidência com valores de aprovação historicamente baixos (na casa dos 35/38%) – acaba por ser, nesta fase, o político de topo na América com maiores índices de aprovação (42/44%).
Não sendo uma taxa impressionante para um presidente, a verdade é que nenhum outro líder de âmbito nacional nos EUA goza neste momento desses registos: Nancy Pelosi, líder da minoria democrata no Congresso, tem 28%; Paul Ryan, speaker do Congresso, 30%; Chuck Schumer, chefe da bancada minoritária democrata no Senado, 29%; e Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, uns insignificantes 22% de aprovação.
É certo que Trump é também o que provoca mais reprovação (54%), mas neste caso em valores quase idênticos aos de Pelosi e Ryan (52%).
Estes números relembram-nos algo que muitas vezes fica esquecido, na espuma dos dias da perturbação trumpiana: é que o Congresso (ou seja, os “políticos de Washington”, no jargão político americano) é a instituição menos prestigiada daquele sistema.
O lado em que reparamos mais é o do Presidente – e de como, neste momento, ele é representado por alguém que, aos olhos de muitos, é inaceitável no comportamento e estilo de liderança.
A verdade é que Trump tem cerca do dobro da popularidade dos líderes do Congresso – e isso dá-lhe a possibilidade de marcar o jogo para estas eleições.
Foi o Presidente que conseguiu impor boa parte dos candidatos republicanos que ganharam as primárias. E está a ser o Presidente a controlar as mensagens dominantes dos republicanos no terreno.
Trump forçou para o campo de batalha eleitoral temas como a segurança nacional (à boleia da “caravana de refugiados”), a suposta “aversão” dos democratas aos polícias, a assunção ideológica de ser um “nacionalista” (que se preocupa única e exclusivamente com os interesses do seu país”), em contraponto com os “globalistas” (que olham para essa coisa estranha para a visão trumpiana que é “o mundo”).
Mulheres, posse de armas, aborto, Health Care…
Estas eleições têm uma forte componente feminina: número recorde de candidatas ao Congresso, possível número recorde de afluência feminina às urnas.
Esses dois dados poderão beneficiar os democratas, mas há outros que darão eventuais ganhos aos republicanos: a posse de armas e o aborto são temas que em estados como a Geórgia ou a Florida (ambos eleitoralmente competitivas nas corridas para governador e para o Senado).
E há, é claro, a questão do Health Care: muitos republicanos no terreno estão presos ao ‘mantra’ do Presidente de destruir o ObamaCare, mas a verdade é que a maioria republicana no Congresso ainda não foi capaz, nestes dois anos, de construir uma alternativa em conjunto com o Presidente.
Trump não quer mexer na Segurança Social, não quer mexer no Medicaid e apesar de querer revogar o ObamaCare também defende um plano de saúde – só que não tem ainda um TrumpCare.
A questão da Saúde deve, por isso, beneficiar os democratas nestas “midterm”.