Cientista despedida por recusar alterar dados da Covid-19 para permitir desconfinamento - TVI

Cientista despedida por recusar alterar dados da Covid-19 para permitir desconfinamento

Florida

Investigadora do Departamento da Saúde da Florida, e responsável pela base de dados sobre o coronavírus, foi dispensada pelo governador republicano Ron DeSantis, no mesmo dia em que a região saiu do confinamento

O governador da Florida, o republicano Ron DeSantis, despediu a cientista responsável pela base dados da Covid-19 do Estado e que serve de fundamentação para a imposição de medidas restritivas ou, na situação atual, de desconfinamento.

Rebekah Jones, que foi despedida no dia em que a Florida voltou a abrir as portas do comércio, além das praias, acusa o governador de a ter dispensado devido à sua recusa "em alterar manualmente dados" da base para "apoiar o plano de reabertura".

Na segunda-feira, a Florida reabriu restaurantes, cinemas, cabeleireiros, ginásios e praias em quase todos os municípios. Na altura, Ron DeSantis criticou os jornalistas por terem previsto números de mortos e infetados que nunca chegaram a acontecer, sendo que, até quarta-feira, havia cerca de 2.100 óbitos e 47.500 casos positivos.

O governador nega, por isso, através da sua porta-voz, que tenha dispensado a investigadora do Departamento de Saúde pelas razões alegadas pela própria, de adulteração de números, e sim devido ao seu "comportamento agitado" e "insubordinado".

Rebekah Jones exibiu, repetidamente, comportamentos de insubordinação durante o seu tempo no departamento, incluindo decisões unilaterais de modificar o painel da Covid-19, sem a participação ou aprovação da equipa epidemiológica ou dos seus supervisores. Precisão e transparência são indispensáveis, especialmente durante uma emergência de saúde pública sem precedentes como a Covid-19. Ter alguém perturbador não pode ser tolerado durante esta pandemia, o que levou o departamento a determinar que era melhor dispensá-la", justificou Helen Aguirre Ferre à comunicação social.

No entanto, segundo o Tampa Bay Times, que teve acesso a emails trocados com Rebekah Jones, a cientista foi ordenada a apagar dados como o facto de alguns cidadãos terem manifestado sintomas da doença meses antes de surgirem os primeiros casos confirmados.

Trabalhei sozinha na base de dados, 16 horas por dia durante dois meses (...). Agora estão a fazer várias alterações. Recomendo cuidado no uso dos dados", disse Rebekah Jones, em declarações ao Florida Today.

A comunidade científica da Florida já condenou, publicamente, a demissão de Rebekah Jones, sublinhando que a imparcialidade é essencial para o seu trabalho.

Quem também já reagiu foi o Partido Democrata, que considerou "ultrajante" a possibilidade de o governo da Florida ter "manipulado dados", pedindo, com urgência, "uma investigação independente".

 

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