A recente crise económica, tal como acontecera no século XX, conseguiu um aumento na popularidade de partidos mais radicais por toda a Europa, e a França foi, justamente, o maior exemplo, com o partido de Marine Le Pen, Frente Nacional, a conseguir vencer as eleições europeias de maio de 2014 e o maior número de deputados eleitos para o Parlamento Europeu.
Outros exemplos ocorreram por toda a Europa, mas a Frente Nacional foi dos poucos a conseguir a maioria dos votos, e, na altura, Marine Le Pen pediu até a dissolução do parlamento. O que não veio a acontecer.
O nacionalismo «exagerado», que costuma ser sinónimo deste género de partidos, costuma «apelar» a outro sentimento negativo na população: a «xenofobia», a intolerância pela presença de outras culturas, que «ameaçam» a da população local. É aqui que entra o ataque desta quarta-feira. A França tem uma das maiores comunidades muçulmanas da Europa, e não será difícil para a Frente Nacional mostrar que «estão por todo o lado», e que outros casos ligados ao extremismo poderão acontecer.
Marine Le Pen já havia prometido, em novembro de 2014, que irá referendar uma saída da União Europeia. Agora, à luz deste atentado Le Pen já aproveitou para «prometer» que vai referendar a pena de morte, que vai sugerir a proibição da entrada de cidadãos que tenham estado a combater em países islâmicos e a saída do espaço Schengen (conjunto de países sem controlo de fronteiras, e com livre circulação de pessoas).
Estas promessas poderão parecer «vazias», uma vez que só numa eventual vitória nas eleições de 2017 se poderão concretizar, e nada garante que a maioria dos franceses esteja a favor destas políticas. Porém, ficou provado, logo na manhã seguinte ao atentando, que outros ataques podem acontecer: um homem munido de uma arma de guerra matou uma polícia e feriu um outro, o mesmo homem que esta tarde fez mais de 10 reféns numa mercearia em Paris, e que afinal estava ligado aos dois homens que conduziram o atentado ao «Charlie Hebdo».
Um ataque pode não despertar o sentimento de «ódio» na população, mas uma sequência de ataques talvez consiga. A prova é a subida de popularidade nas redes sociais de Marine Le Pen, que só desde o ataque viu os seus «gostos» no Facebook subirem 300%.
Este apoio, aliado aos votos das eleições europeias, já motivou a revolta de Le Pen por não ter sido convidada a participar na marcha de homenagem às vítimas do atentado, marcada para este domingo e onde vão estar vários líderes europeus. Outros partidos mais à esquerda foram convidados a participar, mas não a Frente Nacional, informação não confirmada pelo primeiro-ministro, Manuel Valls, que disse, porém, à RTL, que a marcha terá por base «valores republicanos», que recusam «uma ligação entre a religião islâmica e o extremismo».
Já para Le Pen, «tudo isto é uma forma de tentar remover o único movimento político que não tem qualquer responsabilidade pela situação atual.»
Com ou sem a Frente Nacional, a verdade é que o atentado não vai passar incólume na opinião pública francesa. E ainda que estes não sejam os atos da maioria dos franceses, pelo contrário até, existiram vários ataques a mesquitas durante a última quinta-feira, prova da existência da parte da população que categoriza todos os muçulmanos da mesma forma.
Até em Portugal se registou um incidente do género. Esta sexta-feira, a mesquita de Lisboa foi vandalizada, ao que tudo indica por um grupo neonazi.
Segundo informou a PSP, foram pintados os números 1143 na porta principal e numa parede lateral da mesquita, números associados com a data do tratado de Zamora (que em 1143 reconheceu a independência de Portugal) e com o Grupo 1143.
Malicious #vandalism act occurred this morning @ Central #Mosque of #Lisbon #Portugal Pitiful & disgraceful!!! #Paris pic.twitter.com/MABsZ88Qat
— Simon Kamm (@szkamm) 9 janeiro 2015
Sem relação com o incidente, mas também em Portugal, o Partido Nacional Renovador (PNR) emitiu um comunicado esta quinta-feira onde pede uma mudança de mentalidade europeia no que toca às políticas de imigração do continente europeu, de forma a evitar novas tragédias como a de quarta-feira.
«Compreende-se que a Europa está, afinal, a colher os frutos (podres) da irresponsabilidade de décadas de políticas suicidas e criminosas de imigração. Os radicais islâmicos, cobardes e fanáticos, fortemente armados, já nem hesitam em espalhar o terror nos países que em má hora os acolheram. Atacam as forças de segurança, atacam órgãos de comunicação social, atacam civis inocentes, atacam a nossa civilização… E a culpa primeira é dos responsáveis de cá que os têm acolhido e, perante eles, se têm encolhido. (...)Por isso, embora condene este crime hediondo, “não sou Charlie”(...).»
O texto assinado por José Pinto Coelho urge uma mudança de política, e pede aos cidadãos que reforcem o apoio ao «Nacionalismo».
«Quando será que os governantes europeus percebem que a civilização europeia não pode acolher pessoas de diferentes matrizes culturais, sobretudo quando são claramente antagónicas aos nossos valores e costumes e quando contêm em si a semente da barbárie? De uma vez por todas, urge dar poder ao Nacionalismo, pois nunca será com este tipo de governantes que as coisas vão mudar».
O mesmo apelo foi feito, na quarta-feira, pelo recente grupo alemão «PEGIDA» - Europeus Patrióticos contra a Islamização do Ocidente - que há 12 semanas se manifestam todas as segunda-feiras em Dresden, contra a entrada de imigrantes vindos de países muçulmanos como a Síria e o Iraque. Tal como o PNR pedem uma mudança de políticas urgente, antes que um ataque semelhante aconteça na Alemanha.
«Os islâmicos, que o PEGIDA tem vindo a alertar há 12 semanas, mostraram à França que não são capazes de viver em democracia, e olham para a violência e morte como solução. Os nossos políticos querem que acreditemos no oposto. Devemos esperar que aconteça uma tragédia igual aqui na Alemanha?», escreveram na sua página de Facebook.