Covid-19: quando um código na farmácia é a única forma de escapar à violência doméstica - TVI

Covid-19: quando um código na farmácia é a única forma de escapar à violência doméstica

Mulher

Em período de quarentena obrigatória, vítimas em França podem pedir ajuda através da expressão "máscara 19", em Portugal não há palavra-código, mas farmacêuticos sabem como ajudar

No último domingo, uma mulher entrou numa farmácia de Nancy, cidade no nordeste de França, mas não o fez para comprar medicamentos. Fê-lo para dizer o código "máscara 19" ao farmacêutico. Pouco tempo depois, a polícia deteve o marido, por violência doméstica.

A história é relatada pela 'CNN', e mostra as dificuldades que as vítimas deste flagelo enfrentam para denunciar os agressores, numa altura em que ambos estão confinados à mesma casa, 24 horas por dia, devido ao período de quarentena obrigatória.

A palavra-código dita pela mulher em causa faz parte de uma estratégia adotada pelo governo francês, que está a contar com as farmácias, um dos poucos locais públicos abertos nestes dias, para que as vítimas consigam pedir ajuda, isto porque fazer um telefonema a denunciar os agressores parece, agora, uma missão impossível.

O ministro do Interior francês avança que, só em Paris, foi registado um aumento de 36% no número de intervenções da polícia em casos de violência de género, depois da quarentena obrigatória ter sido imposta, por isso surgiu a necessidade de criar novos mecanismos de apoio às vítimas. 

Mais a sul, em Itália, o cenário do aumento do número de casos repete-se, quem o confirma é Simona Ammerata, que trabalha num centro de abrigo para vítimas em Roma.

Sempre houve violência de género, mas esta crise torna tudo pior"

Instituições e forças de segurança alertam que, com medidas de contenção do vírus mais apertadas, as vítimas ficam ainda mais expostas aos agressores, sobretudo quando se trata de companheiros ou maridos. Além disso, vários estudos concluem que situações de stress podem levar ao aumento de comportamentos agressivos dentro do lar.

Numa situação normal, deixar a casa e o agressor já é muito difícil. Hoje, isto quadruplicou, porque não se pode ir ter com os amigos ou com a família, porque o governo decreta que não se pode ir... abandonar o lar, agora, é muito, muito difícil. Mais difícil do que nunca", confirma Simona Ammerata, também à 'CNN'

Partindo desta mesma premissa, o Governo português lançou um conjunto de medidas para ajudar a combater a violência doméstica. Desde a semana passada, está disponível uma linha para a qual as vítimas podem mandar mensagens escritas a pedir ajuda, através do número 3060. A par das SMS, há um e-mail para o mesmo efeito, violencia.covid@cig.gov.pt.

Além disso, a Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade está a pedir às farmácias que afixem nas montras as várias formas que as vítimas têm para fazer denúncias e está a capacitar os farmacêuticos para responderem aos pedidos de ajuda.

De qualquer maneira, o gabinete de Rosa Monteiro avança que ainda não há dados que permitam confirmar o aumento do número de pedidos de auxílio.  

Do outro lado do mundo, a violência doméstica também parece ser um problema, mesmo em países desenvolvidos: o governo da Austrália diz que a Google registou um aumento de 75% nas pesquisas por ajuda para a violência doméstica, o maior número nos últimos 5 anos no país.

Apesar da perceção generalizada de que o crime está a aumentar, em Itália e França, por exemplo, as associações de apoio estão a denunciar que têm recebido menos pedidos de apoio e, aqueles que chegam, são muitas vezes feitos quando as mulheres vão ao supermercado ou, imagine-se, enquanto tomam banho. Isto, porque, apesar de conviverem mais tempo com os agressores, as vítimas têm menos oportunidades para pedir ajuda.

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