Enfermeiro de Paris tentou salvar bombista-suicida - TVI

Enfermeiro de Paris tentou salvar bombista-suicida

Homem de 46 anos conta que tentou reanimar um indivíduo sem perceber que ele tinha um cinto de explosivos

No caos do ataque a um dos cafés de Paris, no dia dos atentados terroristas na capital francesa, um enfermeiro de folga tentou reanimar um homem que estava a morrer à frente dele para depois descobrir que ele estava a usar um cinto de explosivos.

Um vídeo amador divulgado pela agência Reuters mostra um enfermeiro de 46 anos, identificado como David, que mora perto do restaurante Comptoir Voltaire, onde ocorreu um dos seis ataques, a tentar ressuscitar um dos homens-bomba, cuja bomba não deflagrou no ataque.

Na primeira vez em que arranjou coragem para voltar ao café desde a semana passada, David, o enfermeiro, recordou em entrevista exclusiva à Reuters TV o momento em que estava a fazer a reanimação e rasgou a camisa da "vítima", revelando o cinto de explosivos. Aqui fica o testemunho, na íntegra:
 

“O indivíduo estava no meu anglo de visão, retirei-o de debaixo das mesas e das cadeiras que estavam reviradas e coloquei-o no chão. À primeira vista, ele não tinha de especial, a não ser que estava inconsciente. A única coisa em que reparei depois é que ele tinha uma abertura enorme de lado no corpo, mas naquele momento não pensei de maneira nenhuma que ele fosse um kamikaze, para mim era um cliente como os outros que tinha ficado ferido. A ferida era enorme."

“Quando o deitei direito no chão, fiz-lhe massagem cardíaca, depois fui substituído na massagem por outro homem que estava comigo. Nessa altura ainda só lhe tínhamos aberto o blusão e deixámo-lo com a t-shirt. Não era um tecido grosso. Ao fazer a massagem cardíaca por cima da t-shirt não me apercebi de nada. Em determinado momento, o homem que estava comigo sugeriu que talvez fosse melhor tirar-lhe a t-shirt e então eu rasguei-lhe a t-shirt. E, ao rasgar a t-shirt, vi fios (…) Aí, reparei que havia sangue no chão e vi também os primeiros artefactos. E compreendi de imediato que tinha sido uma explosão, que era um kamikaze, e no momento preciso em que isso me passou pela cabeça chegaram as equipas de socorro."

“No momento em que as equipas de socorro chegaram, eu não tratei mais dele. Fiz um balanço do que tínhamos feito, dizendo ao colega dos bombeiros, que me reconheceu, que aquele indivíduo estava cheio de fios. O bombeiro gritou: 'Todos lá para fora! Vamos evacuar toda a gente’. E nesse momento fomos todos lá para fora."

“Ele [o bombeiro] disse-me ‘Sim, era ele o kamikaze, eram mesmo explosivos. Teve sorte porque a bomba não explodiu como previsto. Se não ele teria provocado muitos mais estragos’. E eu pensei nisso e disse a mim mesmo que, ao colocá-lo no chão, ao fazer-lhe a massagem cardíaca, são gestos bastante bruscos, e eu também podia ter sido morto…  Ainda penso nisso."

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