Papa pede à Igreja que aceite a comunhão de católicos divorciados - TVI

Papa pede à Igreja que aceite a comunhão de católicos divorciados

  • Tomásia Sousa
  • Com Lusa/Notícia atualizada às 13:24
  • 8 abr 2016, 10:07

Apesar de abrir caminho à integração dos católicos divorciados, a exortação de Francisco não adiantou muito em relação a outras questões como a da homossexualidade

O documento mais esperado pelos católicos não trouxe, afinal, nenhuma mudança de doutrina, mas abre caminho a uma nova integração na Igreja para católicos divorciados.

O Vaticano apresentou esta sexta-feira a exortação do papa sobre o amor e a família, “Amoris Laetitia” (“A alegria do amor”), onde Francisco apresenta a sua orientação final sobre questões polémicas como a homossexualidade, a contraceção e o anulamento do matrimónio.

O documento de 256 páginas, o papa pede aos bispos e sacerdotes que sejam mais flexíveis perante situações "familiares irregulares", como a dos divorciados que voltaram a casar.

Francisco apoiou a readmissão dos recasados nos sacramentos, mediante um processo de acompanhamento.

Na exortação, o papa indica "o caminho do discernimento", ou seja, um padre deve identificar caso a caso "as situações irregulares", como um casal de divorciados recasados, para que sejam readmitidos nos sacramentos.

Francisco refere que a Igreja não mais deve sentar-se a "atirar pedras" àqueles que não conseguem manter o casamento e a vida familiar de acordo com os ideais do Evangelho.

No documento, o líder da Igreja Católica condenou ainda todas as formas de violência sobre as mulheres, mas não focou muito outras questões polémicas esperadas. Em relação à homossexualidade, apenas umas breves passagens: Francisco referiu que todas as pessoas devem ser respeitadas na sua dignidade e devem ser recebidas "independentemente da sua orientação sexual". Em relação a esta questão, o papa reiterou que o matrimónio cristão se realiza plenamente numa união "entre um homem e uma mulher".

A apresentação do documento é o culminar de três anos de trabalho. Para a elaboração do texto, o Papa enviou um questionário a famílias de todo o mundo e abriu um debate com bispos e cardeais sobre questões que dividem a Igreja.

Papa diz "sim" à educação sexual, mas sem controlar demasiado os filhos

O papa Francisco recomendou aos pais que evitem "uma invasão nociva" da vida pessoal dos filhos porque, garantiu, "a obsessão não é educativa", embora faça "sempre falta alguma vigilância".

A obsessão não é educativa e não se podem controlar todas as situações pelas quais poderá passar um filho", lembrou na exortação apostólica "Amoris Laetitia".

Francisco sublinhou que "a família não pode renunciar a ser um lugar de apoio, de acompanhamento, de guia" dos filhos e recomendou que "não se deve deixar de questionar quem oferece entretenimento e diversão, quem entra nos seus quartos pelos ecrãs".

Faz sempre falta alguma vigilância. O abandono nunca é saudável. Os pais devem orientar e alertar as crianças e adolescentes para que estas saibam enfrentar situações em que possam existir riscos, por exemplo, de agressões, de abuso ou de consumo de drogas", afirmou.

Mas "se um pai está obcecado em saber onde está o filho e controlar todos os seus movimentos, apenas procura dominar o seu espaço".

Desse modo, não o está a educar, a fortalecer, não o está a preparar para enfrentar os desafios. O que interessa sobretudo é gerar no filho, com muito amor, processos de amadurecimento da sua liberdade, de capacitação, de crescimento integral", explicou.

Francisco defendeu que "só assim esse filho terá em si mesmo os elementos de que precisa para saber defender-se e para atuar com inteligência e astúcia em circunstâncias difíceis".

Por esse motivo, "a grande questão não é onde está fisicamente um filho, com quem está em preciso momento, mas onde está num sentido existencial, onde está posicionado nas suas convicções, objetivos e desejos".

Como solução, o papa afirmou que "só os momentos passados com eles (jovens), a falar com simplicidade e carinho de coisas importantes e possibilidades sãs criadas para que eles ocupem o seu tempo, permitirão evitar uma invasão nociva".

No capítulo intitulado "Sim à educação sexual", Francisco considerou ser "difícil pensar a educação sexual numa época em que a sexualidade tende a banalizar-se e a empobrecer-se". Por outro lado, "só pode ser entendida no marco de uma educação para o amor".

A educação sexual deve dar informação, mas sem esquecer que as crianças e os jovens não atingiram uma maturidade plena. A informação deve chegar no momento apropriado e de maneira adequada à etapa que vivem", recomendou.

De nada serve inundá-los de dados sem o desenvolvimento de um sentido crítico perante uma invasão de propostas, perante a pornografia descontrolada e a sobrecarga de estímulos que podem mutilar a sua sexualidade", acrescentou.

O papa criticou a expressão "sexo seguro" por "transmitir uma atitude negativa em relação à finalidade de procriação natural da sexualidade, como se um possível filho fosse um inimigo do qual é preciso proteção".

Assim se promove a agressividade narcisista em vez do acolhimento. É irresponsável qualquer convite aos adolescentes para que brinquem com os seus corpos e desejos, como se tivessem maturidade, valores, compromisso mútuo e objetivos próprios do matrimónio", considerou.

A exortação "Amoris Latetia" foi escrita a partir das conclusões dos sínodos dos bispos para a família, extraordinário e ordinário, que decorreram, respetivamente, em outubro de 2014 e 2015.

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