Histórias da Casa Branca: quase tudo cabe na Trumplândia - TVI

Histórias da Casa Branca: quase tudo cabe na Trumplândia

  • Germano Almeida
  • 18 nov 2016, 09:57
Donald Trump

O Presidente eleito está a dar sinais contraditórios: ouve Kissinger, ouvirá Romney e até pode escolher Nikki Haley para o Departamento de Estado. Mas pôs Steve Bannon, acusado de racista, como conselheiro-chefe. Em que ficamos?

A transição Trump ainda está a começar e já vai com vários solavancos.

Chris Christie, cujo apoio político a Donald durante as primárias republicanas foi muito importante para o percurso de Trump até à nomeação, foi afastado pelo Presidente eleito da liderança da equipa de transição, tendo sido substituído pelo futuro vice-presidente, Mike Pence.

Donald tem dado sinais contraditórios nas primeiras escolhas.

A nomeação mais inquietante é, sem dúvida, a de Steve Bannon.

Bernie Sanders, para já a voz mais mobilizadora entre a realidade “anti Trump”, já apelou ao Presidente eleito para que reconsidere:“Recue nessa decisão. Um Presidente dos EUA não pode ter ao seu lado um racista. É inaceitável”.

Mas Donald também já chamou gente respeitável para se aconselhar (Henry Kissinger, por exemplo) e estará para breve um encontro improvável com Mitt Romney, seu antecessor como nomeado republicano em 2012, que se recusou durante toda esta eleição a apoiar Trump. 

Michael Flynn, 57 anos, tenente-general na reserva, antigo diretor da Defense Intelligence Agency, será o Conselheiro de Segurança Nacional da futura Administração Trump. 

Chegou a ser apontado na shortlist de hipóteses de candidatos a vice da candidatura Trump e tem feito parte do processo de transição

Rudy Giuliani, muito próximo de Trump há meses, alimentava esperanças de ser Secretário de Estado e até já estaria, nos últimos dias, a dar como garantida a chefia do Departamento de Estado, junto do seu círculo próximo. 

Só que Donald não terá gostado da antecipação e chamou Nikki Haley, a governadora republicana da Carolina do Sul, para uma reunião na Trump Tower que pode ter tido como ponto principal na agenda uma possível escolha de Nikki para a chefia da diplomacia americana. 

Giuliani assumiu, durante esta campanha, um grau de agressividade nas tiradas a defender Donald e atacar Hillary que, em alguns momentos, chegou a ultrapassar o tom e a truculência do próprio Trump. Apontar Rudy para chefe da diplomacia americana seria mais ou menos como escolher um pirómano para guardar uma floresta.

Os próximos dias serão, por isso, fundamentais, para se avaliar a verdadeira extensão do caminho que Trump pretende enveredar – se é que ele já decidiu isso verdadeiramente.

Se preferir mesmo Nikki Haley a Rudy Giuliani ou John Bolton (o antigo embaixador americano na ONU que garante não existir aquecimento global), o sucessor de Obama na Casa Branca poderá dar sinal de alguma tranquilização no sistema. 

Mas é cedo para se acreditar nisso. 

Bem ao seu estilo “post truth”, Trump garantiu que a transição está decorrer de forma “smooth” (suave), algo que, manifestamente, não corresponde à realidade. 

No seio republicano, começa a haver alguma hesitação na forma como lidar com o futuro presidente. 

Trump quer um plano de obras públicas – e isso implica despesa. Quer avançar com o muro anti-imigração (e mesmo que já admita uma obra menos assustadora do que a que prometeu na campanha, isso terá um grande custo, também). Como lidará a maioria republicana no Congresso, sempre tão ciosa de travar aumentos na despesa federal, com essas intenções do futuro Presidente?

Hillary, a derrotada com mais votos de sempre

Enquanto isso, o campo democrata continua a gerir o choque. 

Não serve para alterar o essencial, mas a margem crescente do triunfo de Hillary no voto popular vai dando, pelo menos, para diminuir o impacto. 

Clinton será, certamente, a derrotada mais votada de sempre. Com 63,5 milhões de votos, a democrata teve mais 2,2 milhões que o republicano, numa diferença de 1,5% em percentagem. 

Só Barack Obama teve mais votos em eleições presidenciais (70 milhões em 2008, 66 milhões em 2012). 

Mas ter sido a segunda candidata mais votada de sempre não consola, certamente, Hillary, que no Children's Defense Fund mostrou estar, uma semana depois da derrota, ainda muito marcada pela desilusão e pelo choque. 

As sondagens, afinal, não estavam assim tão erradas (davam no dia da eleição uma vantagem de 2 a 5 pontos a Hillary sobre Trump). 

Pela sétima vez nas últimas oito eleições presidenciais, os democratas venceram o voto popular – e isso tem uma leitura demográfica (crescimento das minorias, redução do peso da maioria branca), que nem esta inesperada vitória Trump contrariou por completo.

Hillary com mais 2,2 milhões de votos, Trump com triunfo claro no Colégio Eleitoral. Fará sentido colocar a sério a questão da mudança da lei eleitoral?

O debate não está lançado de forma clara, mas a segunda ocorrência num espaço de apenas cinco eleições (Gore em 2000, Hillary em 2016) deve, pelo menos, servir de pretexto para a reflexão: fará sentido pôr na Casa Branca um candidato que teve muito menos votos que o opositor?

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