ONU apela ao exército do Myanmar para que pare de "assassinar e deter manifestantes" - TVI

ONU apela ao exército do Myanmar para que pare de "assassinar e deter manifestantes"

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  • JGR
  • 4 mar 2021, 13:10
Protestos Myanmar

Mais de 54 pessoas já morreram desde o golpe de estado de 1 de fevereiro

A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos pediu esta quinta-fiera ao exército birmanês que pare de “assassinar e deter manifestantes”, contabilizando pelo menos 54 mortos 1.700 detidos desde o golpe de 1 de fevereiro.

É extremamente chocante que as forças de segurança estejam a disparar munições reais contra manifestantes pacíficos em todo o país”, disse Michelle Bachelet, em comunicado esta quinta-fiera divulgado.

 

Também estou chocada com os ataques a equipas médicas de emergência e ambulâncias que tentam prestar assistência às pessoas feridas”, acrescentou.

“O exército birmanês tem de parar de matar e prender manifestantes”, considerou a ex-Presidente chilena, cujo pai, Alberto Bachelet, morreu detido e torturado no seu país.

O Alto Comissariado das Nações Unidas afirma ter corroborado informações de que pelo menos 54 pessoas foram mortas por polícias e militares desde o golpe militar de 1 de fevereiro, mas alertou que o número real de mortos pode ser muito maior.

Desses 54 casos documentados, pelo menos 30 pessoas foram mortas na quarta-feira. Outra pessoa foi morta na terça-feira, 18 no domingo e cinco nos dias anteriores, segundo uma contagem da ONU.

Além disso, “informações credíveis indicam que centenas de pessoas ficaram feridas durante as manifestações”, indicou o Alto Comissariado, que sublinhou, no entanto, ser difícil estabelecer um número exato.

Por outro lado, mais de 1.700 pessoas foram detidas arbitrariamente, incluindo pelo menos 700 na quarta-feira, devido à sua participação em manifestações ou pelo seu envolvimento em atividades políticas, referiu a ONU.

Entre os detidos incluem-se deputados, ativistas políticos, escritores, defensores dos direitos humanos, professores, profissionais de saúde, funcionários do governo, jornalistas e padres.

Também em relação aos detidos, o Alto Comissariado estima que o número real seja muito superior, visto que as manifestações ocorreram em mais de 500 locais, “onde nem sempre foi possível acompanhar a evolução da situação”.

Muitas das detenções arbitrárias feitas desde 1 de fevereiro podem constituir desaparecimentos forçados”, disse Bachelet, pedindo a libertação imediata de todos os que permanecem detidos arbitrariamente.

Os manifestantes foram esta quinta-feira novamente para as ruas de Myanmar (antiga Birmânia) protestar contra o golpe de Estado, apesar do medo causado pela repressão registada na quarta-feira, o dia mais mortal desde o golpe, em que pelo menos 38 manifestantes foram mortos, de acordo com a ONU.

Apesar do medo de represálias, foram houve varias manifestações, incluindo em Rangum, capital económica de Myanmar.

“Estamos unidos”, gritaram os manifestantes, protegidos por barricadas improvisadas, erguidas com pneus velhos, tijolos, sacos de areia, bambu e arame farpado.

Alguns protestos foram dispersos com gás lacrimogéneo e foram ouvidos tiros, segundo a imprensa local.

No distrito de San Chaung, palco de forte violência nos últimos dias, imagens do líder da junta militar, Min Aung Hlaing, foram coladas no chão por manifestantes para que os pedestres pudessem pisá-las e impedir que o exército e polícia se aproximassem já que não se atreveriam a fazer o mesmo.

O golpe militar, no dia 01 de fevereiro, atingiu a frágil democracia de Myanmar depois da vitória do partido de Aung Sang Suu Kyi nas eleições de novembro de 2020.

Os militares tomaram o poder alegando irregularidades durante o processo eleitoral do ano passado, apesar de as autoridades eleitorais terem negado a existência de fraudes.

Desde então, milhares de pessoas têm-se manifestado contra o golpe militar, sobretudo na capital económica, Rangum, e em Mandalay, a segunda maior cidade do país, e pelo menos seis pessoas já morreram nos protestos.

Nas últimas três semanas, os generais birmaneses têm intensificado o recurso à força para enfraquecer a mobilização a favor do regresso do Governo civil, com milhares de pessoas a descerem às ruas em desfiles diários.

Desde a sua detenção na manhã de 1 de fevereiro que Aung San Suu Kyi não é vista em público.

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