Renamo rejeita qualquer ligação a desaparecimento de português - TVI

Renamo rejeita qualquer ligação a desaparecimento de português

  • AM
  • 7 mar 2017, 16:32
Fernando Mazanga, porta-voz da Renamo

Empresário português está desaparecido há oito meses, depois de ter sido levado por desconhecidos para parte incerta, no distrito de Gorongosa

A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) rejeitou, em declarações à Lusa, qualquer ligação ao desaparecimento de um comerciante português no centro do país, próximo das zonas de atuação do movimento de oposição.

A Renamo não tem nada a ver com o rapto do cidadão português”, afirmou o porta-voz do partido, António Muchanga, que acusa a justiça moçambicana de não estar a fazer uma investigação adequada do caso.

"Houve pessoas que se voluntariaram para ajudar nas investigações e o governo recusou”, disse Muchanga, desafiando as autoridades judiciais moçambicanas a fazerem uma investigação séria do caso.

Sem concretizar, Muchanga afirmou que as pessoas na zona sabem quem raptou o cidadão português e quais os meios de transporte usados: “Quem não deve não teme, pelo que apelamos ao bom senso por parte dos enviados de Nyusi (Presidente moçambicano], só dessa maneira demonstrará que está a negociar a paz de coração aberto, não podemos nos deixar enganar”.

Esta terça-feira, em declarações à Lusa, a Renamo rejeitou qualquer insinuação de estar ligada ao caso, considerando absurdas as declarações do ministro do interior moçambicano, Jaime Basílio Monteiro, em Portugal, citadas pelo jornal Público.

Segundo o jornal, o enviado de Filipe Nyusi disse que há suspeitas de que a Renamo, que mantém bases armadas na Gorongosa, esteve envolvida no rapto, segundo dados transmitidos pela família do empresário.

A Renamo considerou absurdas essas declarações do Governo moçambicano à contraparte portuguesa de que recaem suspeitas sobre o principal partido da oposição.

É absurda a posição do enviado de [Filipe] Nyusi” e, caso se confirmem estas declarações, “está a prestar mau serviço ao Estado moçambicano", disse Muchanga, que se mostrou preocupado com a situação.

"Passam mais de oito meses, os familiares do desaparecido vieram várias vezes a Moçambique para falar com entidade oficiais e o Governo nunca disse esta versão, é uma tentativa de tapar o sol com a peneira, o que pode manchar o bom nome de um Estado da dimensão do nosso Estado", acrescentou António Muchanga.

Autoridades portuguesas "muito preocupadas" 

As autoridades portuguesas estão “muito preocupadas” com a falta de informação sobre a localização do cidadão português desaparecido em meados do ano passado, disse à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros.

As autoridades portuguesas - o Presidente da República e o Governo - estão muito preocupadas, como é seu dever, em relação às condições do desaparecimento de um nosso concidadão numa região de Moçambique, sobretudo ao facto de, vários meses depois de se ter verificado, não termos nenhum elemento concreto que os permita conhecer a sorte, o destino, a localização desse concidadão”, afirmou Augusto Santos Silva, à margem da inaguração da chancelaria do principado do Mónaco.

Há uma semana, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português informou que o ministro do Interior moçambicano “deu conta”, em Lisboa, ao Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa , e ao primeiro-ministro, António Costa, “de que prosseguem as investigações das autoridades moçambicanas tendentes a apurar a situação do cidadão português desaparecido, em Moçambique, desde meados de 2016”.

O ministro moçambicano Jaime Basílio Monteiro transmitiu estas informações na qualidade de enviado do Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

O empresário português está desaparecido há oito meses, depois de ter sido levado por desconhecidos para parte incerta, no distrito de Gorongosa, uma área com forte presença das Forças de Defesa e Segurança, envolvidas em confrontos com o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

Temos feito tudo o que podemos, do ponto de vista diplomático e político para obter informações sobre esse caso. As autoridades moçambicanas comunicam-nos que estão a desenvolver as investigações policiais e judiciais necessárias”, afirmou Santos Silva.

O executivo de Maputo, acrescentou o ministro, acredita que “o passo muito positivo que foi dado na semana passada no diálogo político entre o governo moçambicano e a Renamo poderá melhorar as condições para que essas investigações policiais se efetivem com resultado”.

Na sexta-feira passada, Afonso Dhlakama, presidente da Renamo, principal partido da oposição moçambicana, anunciou a prorrogação da trégua – em vigor desde dezembro - nos confrontos com as Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas por mais 60 dias, manifestando confiança num acordo definitivo.

Portugal aguarda desenvolvimentos no caso do desaparecimento do português e tem oferecido às autoridades moçambicanas “toda a cooperação que elas entendam necessária e útil, seja ao nível policial ou judicial”.

As autoridades moçambicanas dizem que é necessária a criação de outras condições de segurança para que as próprias entidades policiais possam fazer um trabalho mais efetivo e julgam que agora haverá melhoria dessas condições”, referiu o chefe da diplomacia portuguesa.

Questionado se a demora na resposta dos responsáveis moçambicanos incomodou o Governo português, o ministro respondeu: “Não é uma questão de estar incomodado ou satisfeito. É uma questão de fazer o nosso trabalho, que é o de garantir sempre que os interesses e os direitos dos portugueses estão a ser respeitados”.

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