EUA criam rede social para «minar» Cuba: quando a realidade parece um filme - TVI

EUA criam rede social para «minar» Cuba: quando a realidade parece um filme

ZunZuneo

Investigação da AP revela que agência norte-americana queria levar jovens cubanos a uma «primavera cubana» para derrubar o regime

O Governo norte-americano arquitetou a criação de uma rede social, uma espécie de «twitter cubano», desenhada para «minar» o governo comunista em Cuba e incentivar a revolta contra regime de Havana. A ZunZuneo foi na realidade criada por agência norte-americana, através de empresas falsas e financiada por bancos estrangeiros, segundo revela Associated Press numa investigação divulgada esta quinta-feira.

A rede intitulada ZunZuneo funcionou entre 2010 e 2012, conseguiu conquistar cerca de 40 mil utilizadores, e pretendia ser um meio para a desestabilização do regime de Havana. O plano era iludir o controlo do regime sobre a Internet e atrair através de uma rede de partilha de mensagens escritas uma audiência preferencialmente composta por jovens cubanos. Posteriormente, os dados dos aderentes seriam utilizados para fins políticos, nomeadamente para incentivar à dissidência.

No entanto, os utilizadores cubanos da rede social não sabiam que na realidade este «twitter cubano» tinha sido criado por uma agência norte-americana, com ligações ao departamento de Estado, nem que as empresas americanas contratadas estavam a reunir os seus dados pessoais com objetivos políticos. A investigação da AP assume que não é claro se o «projeto» era legal aos olhos da lei norte-americana, que requer autorização do Presidente e notificação do Congresso para operações secretas. A agência negou esclarecer se o programa era do conhecimento da Casa Branca e em Cuba ninguém quis comentar.

Segundo os documentos que a AP teve acesso, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional escondeu as ligações que o programa tinha a Washington, com a criação de falsas empresas em Espanha e nas Ilhas Caimão, para tornar secreto o rasto do dinheiro. Terão mesmo chegado a recrutar CEOs sem lhes adiantar que, na realidade, iriam trabalhar num projeto financiado pelos contribuintes norte-americanos.

«Não haverá absolutamente qualquer menção do envolvimento do governo dos Estados Unidos», lê-se num documento de 2010 da empresa Mobile Accord Inc, uma das criadoras do projeto. «Isto é absolutamente crucial para o sucesso a longo termo do serviço e para assegurar o sucesso da missão».

A rede social, intitulada de «ZunZuneo», um dos nomes que os cubanos dão aos ruídos produzidos pelos beija-flor, foi lançada pouco depois da detenção do empresário norte-americano Alan Gross, que viajou várias vezes para Cuba, alegadamente, para trabalhar numa outra missão secreta da agência que tinha como objetivo expandir a Internet no país, utilizando tecnologia que só os governos tinham ainda posse.

A AP garante que tem mais de 1000 páginas de documentos sobre os projetos em desenvolvimento e que verificou independentemente os documentos, cruzando-os com bases de dados governamentais públicas, fontes também governamentais e entrevistas com os envolvidos no projeto.

A organização da ZunZuneo pretendia que a rede social crescesse lentamente para evitar a detecção por parte do governo cubano. Eventualmente esperavam que a rede atingisse a massa crítica e assim os dissidentes poderiam organizar «smart mobs» - manifestações das massas convocadas pelas redes sociais a qualquer momento - que poderiam provocar manifestações políticas, ou «renegociar o equilíbrio de poder entre o Estado e a sociedade».

Esta descoberta aponta para um retrocesso nas ligações entre os dois países que melhoraram, ainda que tenuemente, nos últimos tempos com a tentativa cubana de se abrir ao mercado global.

As suspeitas de que o governo cubano estaria a tentar seguir o rasto das mensagens para entrar na rede terão levado ao fim abrupto da ZunZune, em 2012.

Dois anos depois, os Castro continuam no poder e não se vislumbra nenhuma primavera cubana.

Apesar dos esforços.
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