Histórias da Casa Branca: o mérito de Hillary na campanha mais bizarra - TVI

Histórias da Casa Branca: o mérito de Hillary na campanha mais bizarra

  • Germano Almeida
  • 27 out 2016, 09:15
Hillary Clinton vence primárias no Nevada

Sim, os tiros nos pés de Donald Trump e sua a campanha de ódio têm ajudado. Mas há créditos a atribuir à candidata democrata: segurança nos temas, boa preparação e resiliência no embate com o adversário mais desconcertante de sempre

A 12 dias da grande decisão, a reta final da campanha presidencial nos Estados Unidos começa a entrar numa fase difícil de rotular.

Numa espécie de prenda de aniversário (a candidata completou ontem, quarta-feira, 69 anos), novas sondagens nacionais voltaram a mostrar Hillary com a vitória na mão (13 pontos à frente na AP/GfK, 10 pontos de vantagem no USA Today/Suffolk), embora Trump mostre algum fôlego em estados decisivos como a Florida, o Iowa e o Ohio.

Newt Gingrich, dos poucos republicanos que ainda apoiam Trump, já entrou em modo derrota e lançou ataque feroz ao "media coverage", com particular enfoque no comportamento de Megyn Kelly (Trump elogiou a forma como Newt confrontou Megyn em direto).

Há cada vez mais receios de candidatos republicanos ao Senado e à Câmara dos Representantes de virem a sofrer "efeito de contágio" em relação à nomeação presidencial de Trump.

Ficou, entretanto, a saber-se que Hillary Clinton passará a noite eleitoral no Javits Center de Manhattan.

O voto antecipado, já com 7.3 milhões de americanos a terem exercido o direito de voto, dá fortes sinais de mobilização feminina e de democratas na Carolina do Norte, Florida, Arizona e Nevada.

Trump, que ontem na Carolina do Norte voltou a usar argumento bizarro de que “a forma como Obama avançou para o combate ao ISIS estragou o efeito surpresa”, parece estar a sair-se bem no Iowa (estado fortemente rural e conservador, com elevadíssima percentagem de eleitores brancos, mas que votou Obama em 2008 e 2012).

Donald continua a acreditar na vitória, insiste que as sondagens estão deliberadamente enviesadas com amostras pró-democratas e acena com um possível «Brexit effect» de última hora.

Rudy Giuliani, 'top political advisor' da campanha Trump, promete: "Temos mais umas surpresas para os próximos dias", insinuando que ainda vem aí alguma bomba que possa comprometer a campanha Hillary.

Mesmo assim, as tendências são pesadas: o 'election calculator' do Huffington Post dá... 97.5% de hipóteses de probabilidade de eleição Hillary. O «FiveThirtyEight», de Nate Silver, aponta 86% de hipóteses de vitória para Clinton.

Do lado democrata, a palavra-chave é mobilização, para combater a ideia, perigosa para a gestão de vitória de Clinton, de que o risco Trump já não será muito real.

Barack Obama tem sido protagonista nos últimos dias, fazendo apelos enérgicos aos democratas para traduzirem no voto a sua indignação com Donald.

Hillary também repete: "Trump não tem condições para ser Presidente". Na Florida, voltou a ridicularizar a ideia de Donald de que esta eleição está a ser roubada: “Este é um homem que até acha que a escolha dos Emmys está viciada”.

Elizabeth Warren, campeão da ala progressista, deu uma ajuda, em comício ao lado da candidata, com recado para Donald: "Nasty women vote".

O tom está marcado e tende a piorar: esta é mesmo a corrida presidencial mais dura, feia e agressiva das últimas décadas na América.

O campo democrata não vai desmobilizar de uma certa mensagem moral, colocando Trump como alguém sem princípios nem comportamento dignos de um Presidente.

E convém referir que há mérito de Hillary no avanço consistente que tem nesta fase: não são só os tiros nos pés de Donald e da sua campanha de ódio. É também a forma segura nos temas, boa preparação e resiliente no modo como enfrenta o adversário mais desconcertante de sempre.

Donald insiste na tecla de Hillary ser "corrupta, falsa e mentirosa", de estar a ser"ajudada pelos media mainstream, como o New York Times ou a CNN", e promete, uma vez na Casa Branca, "arrasar com o ObamaCare" e reverter as relações com Cuba, reatadas por Barack.

Colin Powell, Secretário de Estado na primeira administração Bush filho (2001--2005) vota Hillary Clinton.

É mais um republicano de "casta" a recusar-se a endossar o candidato do GOP que é apoiado pelos "furiosos anti-sistema" mas renegado pelo "establishment" e por quase todos os membros de topo de antigas administrações republicanas.

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