Histórias da Casa Branca: pode alguém ser quem não é? - TVI

Histórias da Casa Branca: pode alguém ser quem não é?

  • Germano Almeida
  • 23 ago 2016, 09:37
Donald Trump no final da Convenção do Partido Republicano

E a menos de 80 dias da grande decisão, Donald Trump percebeu que teria que mudar quase tudo para continuar a sonhar com a eleição. Mas será possível chegar a quem insultou durante um ano?

“Que raio têm vocês a perder? Deem-me uma oportunidade”
DONALD TRUMP, em comício, para os afro-americanos e latinos

E a menos de 80 dias da grande decisão, Donald Trump mudou tudo.
 
Ou quase: muito atrás nas sondagens, o nomeado republicano percebeu que, se continuasse até novembro num estilo de franco-atirador e sempre “off message” de qualquer tipo de estratégia eleitoral munida de racionalidade, correria sérios riscos de levar com uma derrota como há muito não se via numa corrida presidencial americana.
 
Nas semanas pós-convenções, Hillary descolou para vantagem de 10 a 15 pontos nas sondagens nacionais.
 
A coisa começava a parecer decidida. Donald teve uma primeira reação de… negação. Ignorou os conselhos do seu staff de moderar o tom e tentar chegar a segmentos que até agora estão afastados dos republicanos e continuou a disparar.
 
Mas na semana passada, perante pressões de várias correntes republicanas (que ameaçavam tentar afastar Trump da nomeação e apelavam ao candidato para desistir, de modo a evitar consequências ainda piores para o partido), Donald mexeu mesmo a sério.
 
Chamou Steve Bannon para CEO da sua campanha, contratando assim um dos campeões da direita radical americana, dono da Breitbart News, site que tem alimentado as mais imaginativas teorias da conspiração “anti-establishment”, “anti-liberal” e “anti-republicanos moderados”.
 
Paul Manafort, que sucedera a Corey Lewandowsky como diretor de campanha em março, teve papel decisivo no segurar dos delegados que estavam comprometidos pelo voto nas primárias a Donald Trump, mas falhou na mensagem política durante a campanha para a eleição geral.
 
Além de Bannon, também entrou Kellyway Conway, amiga de longa data de Donald e defensora de um estilo mais disciplinado para a mensagem do candidato.
 
O sinal parecia indicar um extremar ainda maior da rota de Trump nesta campanha, possivelmente numa estratégia de vitimização, já a antecipar a derrota em novembro, preparando assim uma narrativa que apontasse para Trump como o estandarte de uma bolsa de 40/45% de “excluídos do sistema”, “renegados das elites” e “representantes da América real contra o poder de Washington e de Wall Street”.
 
Este argumentário político saiu vencedor das primárias republicanas, mas todos os indicadores apontam para que não seja suficiente para ganhar a eleição geral.
 
A Trump não bastará, para chegar à Casa Branca, contar com os votos da “angry white people”.
 
O que os dados das últimas semanas nos estados decisivos mostraram é que a vantagem de Hillary só pode ser revertida se Donald tiver performances melhores em segmentos como os afro-americanos e os latinos.
 
Ora, precisamente por ter percebido isso, Donald decidiu fazer uma inflexão de quase 180 graus no discurso para com as minorias.
 
Mesmo continuando a falar em “muros” e “deportações”, Trump adiou um discurso sobre Imigração que estava agendado para a próxima quinta.
 
E isso terá a ver com uma possível suavização da mensagem que Trump estará a preparar em temas como a Reforma da Imigração, os direitos dos ilegais e a questão da tal “deportação em massa” que Donald chegou a prometer para os 11 mihões de ilegais que permanecem nos EUA.
 
Kellyway Conway não perdeu tempo e, em poucos dias em funções, conseguiu passar a ideia de que o seu candidato “nunca quis insultar ninguém”.
 
E até conseguiu algo que há poucos meses parecia impossível: pôs Donald a pedir desculpa. “Se causei dor ou sofrimento em alguém, penitencio-me. Estou aqui para ajudar a América a levantar-se e ser grande outra vez. Nada contra ninguém”.
 
Estava lançado o mote: Trump em estilo “Mr. Nice Guy”, quem diria?
 
A verdade é que as sondagens denotam já uma pequena recuperação do republicano, embora se mantenha atrás de Hillary nos estados decisivos, com diferenças de três a oito pontos.
 
A confirmação do “novo Donald” para esta fase veio nos comícios de domingo e segunda: Trump apelou diretamente aos afro-americanos, um pouco também aos latinos, garantiu que é amigo de todos e exortou: “Que raio têm vocês a perder? Deem-me uma oporunidade. Com os democratas, com Obama, com Hillary, perderam empregos, perderam segurança, perderam poder de compra. Comigo, terão mais empregos e voltarão a ter segurança. Vão deixar de correr o risco de levar com um tiro quando estiverem a voltar para casa”.
 
O discurso, de novo a tresandar a populismo, tenta chegar aos que estão desiludidos com democratas e republicanos e pretendem alguém diferente, fora da “lógica dos políticos de Washington”.
 
Não se vê como Trump possa ter sucesso eleitoral nesta sua investida junto de negros e afro-americanos. Ambos os segmentos continuam a dar, com grande folga, vantagem a Hillary nas sondagens.
 
Maria Cardona, comentadora da CNN e ‘senior advisor’ da campanha presidencial de Hillary Clinton em 2008, nascida na Colômbia, explica porquê: “No tempo da presidência George W. Bush, era difícil aos democratas apelar ao voto latino, porque W. Bush mostrava perceber a realidade da comunidade hispânica e dava provas de se preocupar com eles. Não é o caso de Trump e é por isso que Hillary ganhará claramente nesse segmento”.

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