Histórias da Casa Branca: o adeus definitivo de Mitt Romney - TVI

Histórias da Casa Branca: o adeus definitivo de Mitt Romney

Mitt Romney (Reuters)

Desde 2007 que o ex-governador do Massachussets estava numa espécie de «campanha permanente», que incluiu duas candidaturas presidenciais. As sondagens até lhe abriam caminho para terceira tentativa, mas a «tendência Jeb» fez Romney decidir-se pelo «não»

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E a resposta de Mitt Romney foi.. «não!»
 
Curiosamente, uma sondagem FOX divulgada hoje, mas com trabalho de campo feito nos dias anteriores ao anúncio de Romney, dá grande vantagem a Mitt nas preferências republicanas (21%, contra 11% de Mike Huckabee e Rand Paul e 10% de Jeb Bush).

Dave Kochel, conselheiro político de Mitt Romney há muitos anos, observou: «Acredito que ele poderia ter chegado à nomeação. Mas sabia que era um longo e difícil caminho e, desta vez, entendeu não o fazer».

Uma das principais dúvidas deste arranque de corrida presidencial norte-americana para 2016 tinha a ver com a decisão do nomeado republicano de 2012: será que Romney tinha vontade, energia e dimensão para uma terceira corrida à Casa Branca?
 
Ainda antes da nomeação de 2012, Mitt tinha tentado em 2008, mas acabou por perder a nomeação republicana para John McCain, seu amigo pessoal, que viria a apoiar.
 
Em novembro de 2012, o antigo governador do Massachussets (estado tendencialmente liberal, que vota fortemente democrata nas eleições presidenciais e no Congresso) teve boas hipóteses de chegar à Casa Branca.

As eleições presidenciais foram feitas numa altura em que o Presidente Obama tinha sérios problemas de popularidade. E até à véspera da eleição, as sondagens nacionais ainda davam uma pequena vantagem ao pretendente republicano. Só que, no original esquema de votação das presidenciais na América, a soma estadual sempre favoreceu Obama, que se manteve fortíssimo nos territórios decisivos (Iowa, Ohio, Florida, Wisconsin, Michigan, Pensilvânia, Colorado).

Forte no eleitorado endinheirado, mas estranhamente fraco em segmentos que em 2012 até mostravam algum desgaste com a governação Obama (classe média e latinos), Romney falhou a oportunidade de uma vida.

Logo a seguir a essa derrota, e à clara reeleição de Obama, abriu-se discussão interna no Partido Republicano: o que fazer para conquistar a Casa Branca em 2016? O que falhara em 2012?

Rapidamente se apontou a necessidade de renovar líderes, colocando a urgência de dar protagonismo a figuras como Marco Rubio (filho de cubanos) ou Ted Cruz.

Só que essa «renovação» no Partido Republicano não deu os frutos desejados: nomes como Rubio, Paul Ryan ou Ted Cruz não passam, nas sondagens, dos 8/10 pontos.

Perante a necessidade de se encontrar uma figura capaz de ter algumas esperanças de bater Hillary Clinton na eleição geral, nos últimos meses as correntes mais ligadas ao «establishment» da direita americana (leia-se, republicanos que não simpatizem com o Tea Party...) viraram atenções para dois nomes essencialmente: Jeb Bush, ex-governador da Florida, que depois de recusar candidatura em 2012 tem feito tudo para ser o favorito republicano em 2016, e Mitt Romney.

Também nesta corrente «tradicional» pode englobar-se o governador da Nova Jérsia, Chris Christie, que tal como Jeb parece já ter decidido que vai avançar, mas não demonstra tanta capacidade para chegar à nomeação.

Porquê Mitt outra vez? Porque, apesar de derrota em 2012 para Obama, o antigo governador do Massachussets manteve uma boa base de financiadores (aspeto fundamental para sobreviver à loucura de 20 meses em campanha) e por ser apontado como um candidato capaz de chegar ao centro e mesmo a algum eleitorado democrata.

Nos últimos dias, Mitt Romney parecia até já estar em campanha: reagiu ao discurso de Obama no Estado da União, falou sobre propostas para atacar o problema da pobreza na América, parecia querer piscar o olho ao eleitorado «flutuante».

Só que, depois de muito refletir, Mitt acabaria por dizer «não» a uma terceira corrida: Romney achou que «é tempo de dar espaço e oportunidade a novos líderes do partido».

«Ele pôs os interesses do seu partido à frente das suas próprias ambições», notou David Kochel, ao Washington Post.

A ideia faz sentido, embora uma boa parte das hipóteses que Romney teria se fundassem na tese de que esses tais «novos líderes» não mostram, pelo menos para já, dimensão e capacidade para chegar à Casa Branca em 2016 (tendo do outro lado uma super candidata como Hillary Clinton).

A verdadeira razão para o «não» de Mitt terá tido a ver com a leitura que o «possível-candidato-que-desta-vez-não foi» de que o seu espaço político (o «establishment» do Partido Republicano e setores moderados) tem-se mostrado amplamente favorável a uma nomeação de Jeb Bush.

Outro fator que pode ter pesado na decisão de Mitt foi... Ann: a companheira de quatro décadas, que já terá estado contra a corrida do marido em 2012 e que o terá feito prometer, depois da derrota para Obama: «Honey, no more campaigns...» ( querido, não há mais campanhas...)

A «exigência» de Ann (mãe dos cinco filhos de Mitt) tem razão de ser: na verdade, desde 2007, quando do arranque para as primárias de 2008, que o casal Romney vive numa espécie de... «campanha permanente».

E agora, sem Romney? Parece haver ainda mais espaço para Jeb Bush (que vai liderando as preferências republicanas com perto de dez pontos de avanço sobre os rivais, quando as pesquisas não incluem o nome de Romney), mas pode haver também aqui uma segunda oportunidade para que Chris Christie (uma espécie de Jeb mais rebelde e carismático) possa sonhar com a nomeação.

Depois do anúncio de que não iria tentar uma terceira corrida presidencial, Mitt Romney já reuniu com Chris Christie. Ou melhor, na verdade foi Christie quem pediu para se encontrar com Mitt, certamente cortejando os (muitos) votos que iriam para o ex-governador do Massachussets. Será interessante ver se alguém beneficiará, na época de primárias, do apoio do nomeado republicano em 2012.

Este empresário de sucesso, nascido em Detroit há quase 68 anos, filho de família política com forte tradição no Partido Republicano (o pai, George, foi governador do Michigan e chegou a tentar a nomeação republicana em 1968, que perdeu para Nixon; a mãe, Lenore, esteve muito perto de ser uma das primeiras mulheres a ser eleita para o Senado dos EUA), deu o adeus definitivo ao sonho de ser Presidente dos EUA.

O que tem em credibilidade faltou-lhe em carisma e capacidade de mobilização: dois predicados essenciais para chegar à Casa Branca.

Jeb e Chris agradecem.

Germano Almeida é jornalista do Maisfutebol, autor dos livros «Histórias da Casa Branca» e «Por Dentro da Reeleição» e do blogue «Casa Branca»





 
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