Histórias da Casa Branca: Obama acelera para a ação executiva  - TVI

Histórias da Casa Branca: Obama acelera para a ação executiva

Barack Obama [Foto: Reuters]

A 26 meses de deixar o cargo, o Presidente impõe a sua visão sobre Imigração sem passar pelo crivo do Congresso. Os republicanos reagem com ferocidade

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«Os americanos estão fartos de paralisação. O que querem mesmo é um propósito comum. Um grande objetivo (…) A América é um país de imigração. Isto não é uma amnistia. Amnistia é o sistema atual, que não funciona (…) Precisamos de mais do que «politics as usual» na imigração. Precisamos de bom senso e visão»
BARACK OBAMA, Presidente dos EUA, discurso sobre Imigração
 
 
Os sinais tinham sido dados poucos dias depois da derrota nas intercalares e foram confirmados esta noite (já madrugada em Portugal): Barack Obama anunciou uma série de medidas que assinará por ação executiva, com vista a evitar a deportação de quase cinco milhões de imigrantes ilegais.
 
Perante a vitória total dos republicanos nas «midterms», o Presidente percebeu que era hora de agir.
 
A 26 meses de deixar a Casa Branca, Barack Obama quer mesmo deixar a sua marca em três ou quatro grandes temas: e um deles é, certamente, a Imigração.
 
O tema foi crucial para a reeleição de Obama há dois anos (a preferência maciça de latinos e outras minorias étnicas e sociais foi fundamental para que o então candidato democrata derrotasse Mitt Romney) e um segundo mandato sem que esta questão fosse enderaçada seria, certamente, um mandato falhado.
 
As medidas anunciadas por Obama apontam para que mais de quatro milhões de americanos sem autorização legal possam ficar a salvo de deportação.
 
Por diferentes razões: desde que tenham filhos nascidos na América; pelo alargamento dos «dreamers» (jovens entre os 16 e os 31 anos que escolheram a América para trabalhar e viver apesar de não terem documentação concluída).
 
A comunicação do Presidente foi muito focada na questão humana de evitar a deportação, não tanto na facilitação da legalização. Obama subiu o tom do discurso, dando-lhe uma dimensão quase moral, lembrando várias vezes que «os EUA são um país de imigração» e que «este país construiu-se e cresceu com imigrantes».
 
O Presidente focou-se muito também na questão das famílias que podem ficar desfeitas com as deportações. «Nós não somos isso como país», apontou.
 
Os republicanos ficaram furiosos. Newt Gingrich, na CNN, atirou minutos depois de Obama acabar de falar: «Foi um discurso profundamente desonesto. Quem é ele para dizer que foi «paciente»? Ele só tem que respeitar a lei e a Constituição dos EUA».
 
Ted Cruz, senador do Texas, um dos líderes da ala Tea Party, acusou Obama de «agir como um monarca»: «A Constituição desenha um sistema de «checks and balances» para a nação e ações executivas para amnistiar imigrantes ilegais decretadas unilateralmente podem minar seriamente a «rule of law».
 
A reação política dos opositores de Obama foi feroz mas, na verdade, uma análise ao registo dos antecessores de Obama na Casa Branca mostra que é relativamente comum que os Presidentes dos EUA tomem ações executivas unilaterais, sem passar pelo Congresso.
 
«Vários antecessores meus o fizeram, fossem democratas ou republicanos», reforçou Obama, no discurso desta noite.
 
De forma significativa, o Presidente fez até questão de citar o seu antecessor (e adversário político) George W. Bush sobre o tema: «A imigração não é uma questão política, é uma questão humana».
 
A verdade é que o modo escolhido pelo Presidente para endereçar a questão é polémico: sondagem feita pela CNN aponta que 48% dos americanos se opõem a ação executiva unilateral sobre o tema, para 38% que apoia. No entanto, uma forte maioria dos americanos ouvidos concorda com a visão do Presidente sobre a necessidade de facilitar a cidadania para milhões de imigrantes ilegais.
 
Conclusão de tudo isto: Obama terá sustentação eleitoral e popular para se bater por esta ideia, mas terá perdido as condições políticas para resolver esta questão do modo mais saudável com um Congresso republicano que lhe é cada vez mais hostil.
 
«Tentei, mas não consegui ter condições para passar uma lei no Congresso. Tornou-se necessário avançar para estas medidas, mas continuo empenhado em encontrar consenso com o Congresso em torno desta questão», insistiu o Presidente.
 
«Obama escolheu a confrontação em vez da conciliação», sintetiza Michael Shear no New York Times.
 
O tema está lançado para o centro da discussão pública e mediática nos EUA. Nos minutos seguintes à comunicação do Presidente, manifestações pró e contra agitaram as redondezas da Casa Branca.
 
Esta sexta, Barack Obama estará numa escola em Las Vegas, onde os hispânicos têm fortíssima representação, para desenvolver o seu plano para «consertar um sistema de Imigração que não funciona».
 
A guerra Obama/republicanos promete ter novos capítulos em Washington, nos próximos 26 meses.
 
Germano Almeida é jornalista do Maisfutebol, autor dos livros «Histórias da Casa Branca» e «Por Dentro da Reeleição» e do blogue «Casa Branca» 
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