Histórias da Casa Branca: uma economia assente na classe média - TVI

Histórias da Casa Branca: uma economia assente na classe média

Barack Obama aproveitou o seu penúltimo Estado da União para lançar Reforma Fiscal, embalado pelo crescimento económico. Pediu autorização ao Congresso para usar a força contra o Estado Islâmico e insistiu no acordo com Cuba

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«Esta noite, viramos a página. A sombra da crise passou e o Estado da União é forte»

«Neste momento de mudança económica da nossa história, este país tomou medidas fortes no sentido se adaptar a novas circunstâncias e para assegurar que todos tenham oportunidades»

 

«O nosso desemprego está abaixo do que era antes da crise financeira»

«O veredicto é claro: a economia assente na classe média funciona. Expandir as oportunidades funciona»

«Desde 2010, a América pôs mais gente de volta ao trabalho do que a Europa, Japão e todas as economias avançadas juntas» 

«Os custos dos cuidados de saúde estão em mínimos de 50 anos. Gente, isto são boas notícias, não são??»

«Vimos o mais rápido crescimento económico da última década, os nossos défices cortados em dois terços, a bolsa a duplicar»

«Desenhámos novos empregos para as nossas costas. Nos últimos cinco anos criámos mais de 11 milhões de empregos»

«Estamos mais livres do petróleo estrangeiro como nunca estivemos nos últimos 30 anos»

«Lideramos melhor quando combinamos poder militar com diplomacia forte»

«Nenhuma nação estrangeira, nenhum hacker pode ser capaz de bloquear as nossas redes, roubar os nossos segredos comerciais ou invadir a privacidade das famílias americanas, especialmente das crianças»

«Demos aos nossos cidadãos e às nossas escolas, infraestruturas e a Internet – ferramentas que precisaram para chegar tão longe como o seu esforço lhes permitiu»

«Estas ideias não farão toda a gente rica. Essa não é tarefa de um governo. Mas, sabem, são coisas que vão ajudar muito»

«Há demasiadas pessoas que beneficiam do gridlock. Mas continuo a não ser cínico. Acredito mesmo que somos só um povo»


BARACK OBAMA, Presidente dos Estados Unidos, discurso sobre o Estado da União 2015


Barack Obama aproveita a recuperação económica para acelerar a sua agenda ideológica.
 
No seu penúltimo discurso sobre o Estado da União, o primeiro perante um Congresso totalmente ao hostil (depois da arrecadação pelos republicanos no Senado), o Presidente, em momento confiante e otimista, exortou as duas câmaras do Capitólio a acompanhá-lo no plano de taxar os 1% mais ricos e as principais empresas financeiras, de modo a financiar mais apoios à classe média e ajuda aos mais necessitados.
 
Premiar o trabalho, taxar os capitais de maior risco, reforçar a ideia de que o crescimento económico tem que ter mais consequências no benefício do americano comum.
 
Foi neste tom que Barack Obama falou no dia que marcou o início do seu sétimo ano de presidência (fez esta terça seis anos que tomou posse pela primeira vez e faltam exatamente dois anos para abandonar a Casa Branca).
 
Os americanos parecem acompanhar a ideia do Presidente.
 
Sondagem da CBS News, à pergunta sobre se o governo deve «fazer mais para reduzir o fosso entre os mais ricos e os mais pobres», 55% disseram que sim e apenas 39% consideraram que não.
 
Mais uma vez, o tema divide as opiniões partidárias: entre os democratas, 80% acham que sim e apenas 15% apontam para o não; entre os republicanos, 29% disseram sim e uma maioria de 65% não. Entre os independentes, mais equilíbrio: 53% para o sim e 41% não.
 
A Educação e o apoio às crianças
 
Além do tema forte do combate à desigualdade, pela via de uma Reforma Fiscal (para já, pelo menos, com alterações significativas nos escalões fiscais), o Presidente aproveitou este State of The Union para reforçar aposta em questões como o apoio às crianças e programas com benefícios para estudantes e créditos, pela via orçamental, a famílias menos endinheiradas que tenham filhos.

A Economia está a ser o principal trunfo para esta estratégia do Presidente de pôr mais dinheiro no bolso do americano comum pela via fiscal. No último ano, foram criados três milhões de empregos (o melhor desempenho desde os anos 90, lembrou Obama) e no terceiro trimestre de 2014 registou-se crescimento de 5% (o melhor valor dos últimos 11 anos).
 
O ciberterrorismo e a ameaça do Estado Islâmico
 
Dias depois de um ataque informático do Estado Islâmico ao US Central Command, principal estrutura do exército americano (durante meia hora, foi «proclamado» um suposto cibercalifado nas páginas das redes sociais do Centcom), o Presidente Obama endereçou também a questão da cibersegurança, dando importante enfoque ao tema.
 
Agora que os republicanos dominam o Senado (câmara essencial para aprovar questões de política externa), o Presidente fez questão de envolver o lado oposto na batalha comum contra o terrorismo islâmico e a defesa da segurança nacional.

Obama lançou frases fortes para tentar mostrar que a América está preparada para resistir ao ciberterrorismo, depois dos casos da Coreia do Norte/Sony e do tal ataque do «Daesh» ao Centcom: «Nenhuma nação estrangeira, nenhum hacker pode ser capaz de bloquear as nossas redes. Ninguém pode roubar os nossos segredos comerciais ou invadir a privacidade dos americanos»

O Presidente pretende a autorização do Congresso para usar a força contra o Estado Islâmico, o que indica a possibilidade de se estar a preparar uma operação com o envolvimento de tropas no terreno (não necessariamente só americanas e por isso o Presidente falou em «coligação de forças»), ao contrário do que até agora aconteceu (desde setembro, a campanha de contra-terrorismo liderada pelos EUA prevê apenas ataques aéreos, o que não obrigou a autorização do Congresso).

Ainda sobre o combate ao «Daesh», Obama esclareceu que «os Estados Unidos apoiam a oposição moderada na Síria que nos possa ajudar nessa tarefa», deixando, assim, claro, que não admite uma aproximação a Assad para enfrentar o inimigo comum.

A visão de Obama sobre política externa implica uma «forma mais inteligente de assumir a liderança internacional».

«Liderámos melhor sempre que combinámos poder militar com diplomacia forte; quando equilibramos o nosso poder com construção de coligações; quando não deixámos que os nossos medos nos ceguem perante as oportunidades que este novo século nos oferece. E isso é exatamente o que temos feito agora, ao longo do globo -- e é isso que está a fazer a diferença».

O convidado vindo de Cuba
 
Um dos convidados especiais do Presidente foi Alan Gross, antigo prisioneiro americano em Cuba. Obama puxou dos galões, lembrou a dimensão histórica do acordo com Castro e exortou o Congresso de maioria republicana a tornar real o levantamento do embargo. 

«O acordo com Cuba respeita valores democráticos e acaba com um erro de 50 anos. A diplomacia é um trabalho de pequenos passos. E este pequeno passo pode ajudar a dar uma nova esperança ao povo cubano», insistiu o Presidente.

Obama reafirmou vontade de fechar Guantánamo, insistiu na tecla das alterações climáticas («2014 foi o ano mais quente de sempre. Sei que um ano não faz uma tendência, mas 14 dos 15 mais quentes aconteram nestes 15 deste século e isso já é uma tendência»), mostrou que se deve ter «cuidado no uso de drones» e lembrou, a terminar: «Não tenho mais campanhas para fazer, Sei isso porque ganhei as duas em que participei. (...) A minha única agenda é apenas a de fazer o que acredito ser o melhor para a América».
 
Germano Almeida é jornalista do Maisfutebol, autor dos livros «Histórias da Casa Branca» e «Por Dentro da Reeleição» e do blogue «Casa Branca»


 
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