Quem é Geert Wilders? - TVI

Quem é Geert Wilders?

Geert Wilders

Nacionalista, islamofóbico, eurocético: a história do homem que agitou a política holandesa

Anda sempre acompanhado por guarda-costas, tem de trocar de casa constantemente e apenas vê a mulher, húngara de nascimento, uma vez por semana. As ameaças de morte obrigaram-no até a cancelar todas as ações de campanha na primeira semana deste mês de março. Foi este o preço que Geert Wilders pagou pelos seus ideais - e algo que a principal figura da extrema-direita holandesa soube capitalizar para proveito político.

Nacionalista, Wilders destacou-se, sobretudo, pela veia islamofóbica e a postura anti-imigração. Já lá vão mais de dez anos a perseguir o Islão, que descreve como uma “religião totalitária”. O seu manifesto eleitoral é claro: quer fechar todas as mesquitas na Holanda e impedir a construção de novas, pretende encerrar escolas islâmicas e banir o uso de véus em público, tal como proibir a entrada de requerentes de asilo e imigrantes de países islâmicos.

A postura anti-islâmica trouxe-lhe braços-de-ferro com a justiça. Em 2010, foi julgado por incitamento ao ódio contra muçulmanos, sendo absolvido. Desfecho diferente em dezembro do ano passado, quando foi condenado por causa de um cântico num evento político, dirigido a cidadãos marroquinos.

Onde começou esta animosidade? Há quem acredite que tudo remonta ao início dos anos 1980, altura em que o político holandês fez uma viagem pelo Médio Oriente, visitando Síria, Irão ou Egito. Nesse período, viveu ainda temporadas em Israel, onde trabalhou numa exploração agrícola cooperativa (kibutz). Aí, cultivou afinidades pelo país, ao qual inclusivamente regressou por diversas vezes e mantém relações próximas com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

O euroceticismo é outra das bandeiras de Wilders. O candidato populista defende um “Nexit”, ou seja, uma saída da Holanda da União Europeia (UE). Aliás, quando o Reino Unido optou por abandonar o bloco no ano passado, o político holandês não perdeu tempo a reagir, pedindo um referendo sobre a adesão. Mesmo que não ganhe, a sua candidatura constitui um sério aviso a Bruxelas. “Quanto mais tempo a UE demorar a reformar, maior é o risco”, referiu Pieter Cleppe, especialista do think tank Open Europe, numa entrevista para o Council on Foreign Relations.

Mas perceber a figura que ambiciona ser o próximo chefe de governo holandês (o país vota hoje para as eleições legislativas) implica acompanhar o seu percurso nos meandros políticos do país.

Tudo começou em 1988, ano em que ingressa no Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), atualmente liderado pelo adversário direto e ainda primeiro-ministro, Mark Rutte. Anos depois, seria conselheiro desta formação de direita em Utrecht e assistente do líder de então, Frits Bolkestein.

Este encontro terá sido fulcral para o pensamento político de Wilders. Bolkestein posicionava-se contra a imigração e a integração na UE. Como escreve Stan Veuger num artigo para a conceituada revista de relações internacionais Foreign Affairs, tratou-se da “primeira voz respeitada no discurso público holandês a declarar abertamente o seu ceticismo a propósito do multiculturalismo na Holanda”.

Em 1998, ainda sob o VVD, Wilders chegou ao parlamento e não tardou a distanciar-se do discurso partidário, com declarações que alertavam para os perigos do extremismo islâmico. O ponto de viragem na carreira – e na projeção dos ideais junto do eleitorado – teria lugar já em 2004, quando o realizador Theo Van Gogh foi assassinado por um holandês de origem marroquina. Em causa estava a produção de um polémico filme, com a ajuda do político holandês, sobre o Islão e a violência contra as mulheres. As ameaças de morte começaram aí, bem como o caráter isolado da vida pessoal de Wilders.

No seguimento deste episódio, fundou a própria formação, nomeada Partido para a Liberdade (PVV) em 2006. Neste mesmo ano, conseguiu nove lugares no parlamento. Mas o conjunto começou realmente a consolidar-se no espetro político após a crise financeira mundial. Assim, ficou em segundo nas eleições europeias de 2009 e aumentou para 24 o número de deputados nas legislativas de 2010. Um resultado que fez com que a coligação de minoria, composta pelo VVD e o Apelo Democrata-Cristão, dependesse de Wilders para a maioria das iniciativas legislativas. Simultaneamente, a retórica do líder de extrema-direita também escalou, tornando-se naquilo que conhecemos hoje.

Mas não é assim tão fácil para Geert Wilders tornar-se no próximo primeiro-ministro holandês. Mesmo que o PVV vença as eleições, as sondagens mostram que não deverá garantir a maioria necessária (76 deputados) para governar. Os principais partidos já recusaram juntar-se ao líder nacionalista perante este cenário. O que poderá resultar numa inédita coligação de cinco partidos diferentes, onde se incluem dois partidos de direita e dois de esquerda, estes últimos a favor da UE.

Certo é que a emergência de Wilders obrigou os adversários a rever o discurso para capitalizarem apoio eleitoral. Ciente desta realidade, Mark Rutte endureceu o tom durante a campanha. Numa carta aberta aos holandeses, publicada a 23 de janeiro último, o primeiro-ministro afirmou que as pessoas deveriam “comportar-se normalmente” ou abandonar o país. Sem nomear diretamente, falou daqueles que se opõem “aos homossexuais, às mulheres de minissaia”, ou apelidam de “racistas” aos holandeses de classe média. Para o jornal De Volkskrant, o intuito foi claro: reconfortar a ala mais à direita do partido. E “pescar no viveiro de Wilders”.

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