Um homem negro foi espancado até à morte por dois seguranças num supermercado em Porto Alegre, no estado brasileiro de Rio Grande do Sul.
O crime aconteceu na véspera do Dia da Consciência Negra, que se assinala esta sexta-feira no Brasil, e está a gerar indignação nas redes sociais.
De acordo com a imprensa brasileira, João Alberto Silveira Freitas, de 41 anos, estaria às compras com a mulher quando alegadamente fez "um gesto" para uma fiscal de caixa. A fiscal chamou a segurança, que levou o homem para o estacionamento, onde começaram as agressões.
Eu estava a pagar na caixa e ele desceu primeiro. Quando cheguei lá abaixo ele já estava imobilizado. Ele pediu "Milena, ajuda-me" e quando fui, os seguranças empurraram-me", contou a mulher da vítima, Milena Alves.
As imagens da agressão, que circulam nas redes sociais, mostram a violência com que os dois seguranças agrediram a vítima que, apesar dos esforços dos socorristas, acabou por ser declarado morto no local.
As causas da morte de João Freitas ainda não foram apuradas. No entanto, o G1 afirma que uma análise preliminar aponta para asfixia, tendo uma testemunha afirmado que, antes de morrer, a vítima disse que não conseguia respirar.
O vídeo mostra toda a agressão que (João) sofreu antes morrer. Além de o agredirem, fizeram um mata-leão, asfixiaram-no (...) havia pessoas a pedirem para o largarem e deixarem-no respirar, porque ele gritava que não conseguia respirar, e eles não largaram. Quando o largaram já ele estava roxo, sem respirar", relatou à imprensa um amigo da vítima, Paulão Paquetá.
Vários políticos brasileiros, entre eles os ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, condenaram o crime nas suas plataformas, denunciando contornos racistas.
1 O assassinato do jovem negro João Alberto Silveira Freitas, espancado até a morte por seguranças do Carrefour, em Porto Alegre, é revoltante e mostra a persistência da violência escravocrata no Brasil (continua)
— Dilma Rousseff (@dilmabr) November 20, 2020
A história de nosso país está manchada por 350 anos de escravidão e mais 170 anos de violência racista, exclusão da cidadania e profunda desigualdade impostas à maioritária população de negras e negros. O Dia da Consciência Negra é, assim, dia de luto e de luta", prosseguiu Dilma.
Já Lula da Silva, considera o racismo "a origem de todos os abismos do país" e que "é urgente interrompermos esse ciclo”.
Amanhecemos transtornados com as cenas brutais de agressão contra João Alberto Freitas, um homem negro, espancado até a morte no Carrefour. O racismo é a origem de todos os abismos desse país. É urgente interrompermos esse ciclo.
— Lula (@LulaOficial) November 20, 2020
Os dois seguranças envolvidos no crime, um deles agente da Polícia Militar, foram detidos e serão acusados de homicídio qualificado. Em comunicado, a Polícia Militar informou que o polícia envolvido na agressão é "temporário" e estava fora do horário de trabalho.
A cadeia supermercados Carrefour informou que lamenta profundamente o caso e que deu início a um processo interno de investigação, tendo tomado ações imediatas para que os responsáveis sejam punidos legalmente e rescindindo contrato com a empresa de segurança.
A multinacional atribuiu, em comunicado, as agressões aos seguranças e à empresa que os contratou, considerando o ato como "criminoso".
O dia da Consciência Negra é celebrado anualmente a 20 de Novembro, em homenagem a Zumbi dos Palmares, um líder negro que lutou pelo fim da escravatura, assassinado em 1695.