A polícia do estado australiano de Victoria afirmou hoje não existir qualquer prova de origem criminosa nos incêndios que estão a devastar o país, ao contrário de notícias divulgadas por jornais conservadores.
Uma porta-voz da polícia negou que 183 pessoas tinham sido detidas por provocar os incêndios das últimas semanas, informação divulgada por jornais da News Corp de Rupert Murdoch, de acordo com a imprensa australiana.
Não há qualquer indício de que os maiores fogos tenham sido causados por mão criminosa”, disse, sobre a informação usada em várias publicações em redes sociais.
A mesma fonte policial explicou que as notícias usaram estatísticas anuais, em alguns casos relativas a um período que terminou em setembro de 2019, “muito antes dos atuais fogos”.
A mesma informação foi confirmada pela polícia em Queensland, que negou as mais de 100 alegadas detenções no estado.
A polícia de Queensland afirmou que o número abrange um período muito maior do que os atuais fogos e inclui casos em que não houve fogos postos, mas violações de proibição total de fogo.
Já em Nova Gales do Sul, a polícia confirmou a detenção de 24 pessoas por provocarem deliberadamente incêndios, tendo o serviço de incêndios florestais local confirmado que os maiores fogos foram desencadeados por trovoadas em conjugação com a seca.
Não há ainda um número total de detidos por provocar fogos nas últimas semanas.
Diretora comercial da News Corp demite-se depois de denunciar cobertura noticiosa dos fogos
A diretora comercial do grupo de 'media' News Corp, do magnata Rupert Murdoch, demitiu-se hoje depois de denunciar a cobertura “perigosa e irresponsável” que os jornais do grupo têm feito dos incêndios na Austrália.
Num email para o responsável do grupo, Michael Miller, e distribuído por todos os funcionários da News Corp, Emily Townsend acusou os jornais do grupo de tentarem promover a falsa ideia de que os incêndios se devem a atos criminosos.
Tenho sentido um impacto severo da cobertura das publicações da News Corp relativamente aos fogos, especialmente a campanha de informação falsa que tem tentado desviar a atenção da questão real das alterações climáticas, destacando a questão de fogos postos (muitas vezes deturpando factos)”, escreveu no email.
O email, divulgado pela imprensa australiana, foi removido dos servidores do correio da News Corp uma hora depois de ter sido enviado.
Considero inconcebível continuar a trabalhar para esta empresa e saber que estou a contribuir para a disseminação de negações e mentiras sobre as alterações climáticas”, escreveu Townsend, que trabalhou na News Corp durante cinco anos.
“As notícias que vi no The Australian, no The Daily Telegraph e no Herald Sun não são apenas irresponsáveis, são também perigosas e prejudiciais para as nossas comunidades e para o nosso planeta, que precisa que reconheçamos a destruição e sobre a qual precisamos de começar a atuar”, acrescentou.
Ao jornal Sydney Morning Herald, Townsend lamentou que o email tenha sido divulgado, mas reiterou e defendeu o conteúdo.
Imagens falsas ou antigas, informação errada e até mapas fictícios partilhados por cidadãos, partidos políticos e celebridades têm estado a contaminar a cobertura dos fogos na Austrália divulgada nas redes sociais.
Uma investigação da ABC Austrália apontou para uma proliferação de ‘bots’ [aplicação de 'software' concebida para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão] e contas fictícias que estão igualmente a espalhar notícias falsas, incluindo a tentativa de apontar o dedo a ecologistas, nomeadamente em torno do debate sobre as alterações climáticas.
Entre a informação falsa que circula há várias imagens e notícias com a 'hashtag' #ArsonEmergency que têm inundado a rede social Twitter.
Um investigador da Queensland University of Technology (QUT), Timothy Graham, disse que cerca de um terço de mais de 300 contas que analisou e que têm partilhado publicações com essa 'hashtag' sugerem ser falsas ou automatizadas.