Um novo país do Alentejo a Múrcia? Andaluzes dão "primeiro passo" esta segunda-feira - TVI

Um novo país do Alentejo a Múrcia? Andaluzes dão "primeiro passo" esta segunda-feira

  • Sofia Santana
  • 2 dez 2017, 12:26
Movimento quer país independente no sul da Península Ibérica

Grupo independentista Assembleia Nacional Andaluza anunciou que vai avançar com uma declaração de independência virtual a 4 de dezembro

Imagine que entre Portugal e Espanha nascia um país completamente novo. Imagine que esse país começava no Alentejo e no Algarve, estendia-se até Granada e Múrcia, em solo espanhol, e incluía ainda o Rife Marroquino. A ideia pode parecer utópica, mas é defendida pela Assembleia Nacional Andaluza (ANA).

A ANA, liderada pelo poeta, dramaturgo e pintor Pedro Ignacio Altamirano, defende uma Europa de povos, unidos pela cultura e pelas tradições, mais do que uma Europa de Estados e fronteiras, e vai avançar com uma declaração de independência virtual já esta segunda-feira, numa data que é emblemática para a região. Este movimento não tem dúvidas de que os andaluzes estão, há muito, a despertar do "Matrix". 

Foi em maio que a ANA anunciou que ia declarar a soberania da República Federal da Andaluzia a 4 de dezembro. Apesar de ser meramente virtual, a iniciativa é simbólica.

O projeto passa por formar um governo virtual, com ministros e delegados, e nomear um presidente da república, de forma a mostrar aos habitantes da região como funcionaria uma república independente se esta fosse real. Porque, afinal, é mesmo isso que defendem: a independência da Andaluzia

Consideramos que uma reforma da Constituição de 1978 não é suficiente para garantir a governação em pleno da Andaluzia. É necessário romper com o atual modelo de Estado e conseguir a independência", sublinhou Pedro Altamirano à TVI24.

A data não foi escolhida ao acaso. A declaração está marcada para o mesmo dia em que, em 1977, ocorreu uma grande manifestação, durante a qual um milhão e meio de pessoas invadiram as ruas da Andaluzia e reivindicaram a autonomia da região.

À TVI24, Altamirano disse que o sentimento independentista tem crescido na região e que os andaluzes estão a despertar do "Matrix" em que estiveram mergulhados no período em que houve "ajuda da União Europeia".

Enquanto a ajuda da União Europeia chegou ao governo da Andaluzia, este cuidou dos serviços sociais e ajudou os andaluzes, que viveram como no 'Matrix', uma realidade bonita, mas inexistente. Quando a ajuda europeia terminou e, ao mesmo tempo, se descobriram os casos de corrupção do PSOE na Andaluzia, a situação real e crítica da região começou a sentir-se, com o desemprego, a falta de qualidade nos serviços de saúde e na educação. Os andaluzes começaram a despertar do Matrix para a realidade e a lutar contra ela. Daí o crescimento do Partido Nacionalista Andaluz e da Assembleia Nacional da Andaluzia", sublinhou.

Há cinco meses, a iniciativa da ANA não teve grandes ecos na comunicação social, mas depois, e devido à crise da Catalunha, captou as atenções dos media. 

Sobre a questão da Catalunha, de resto, Altamirano é perentório: "Se a Catalunha se tornar independente, haverá uma verdadeira cascata de nações que atualmente fazem parte de Espanha a querer a independência". E a Andaluzia será uma delas, adianta. 

Se essa tendência de independência começar na Catalunha, que não haja dúvidas de que o povo andaluz não vai ficar à margem e, por isso, vai começar o seu próprio processo de independência."

 

 

 

Mas a ANA defende bem mais do que a independência da região da Andaluzia: defende, em última instância, a constituição de uma república de Estados-províncias, designada de Países Andaluzes, cujo território inclui partes de Portugal, o Alentejo e o Algarve, e o Rife Marroquino. 

Altamirano sublinha que a ideia dos Países Andaluzes assenta numa visão "romântica" de que a Europa é feita de povos, unidos pela cultura e pelas tradições, e não de Estados, limitados pelo atual modelo de fronteiras.

Isto nasce da ideia de uma Europa dos povos, longe do atual modelo de uma Europa de Estados. Não é algo que se possa realizar dentro da perspetiva do atual modelo de fronteiras, mas pelo ideal romântico, e talvez utópico, de uma Europa sem fronteiras nacionais e no reconhecimento da existência de povos da Europa."

 

Já se fala numa "batalha pela Península Ibérica"

A iniciativa não tem passado despercebida aos utilizadores das redes sociais, sobretudo aos espanhóis.

Há quem antecipe uma luta entre a Andaluzia e a Catalunha pela região de Múrcia e há quem vá mais longe, prevendo uma "batalha pela Península Ibérica". 

São, claro, apenas algumas das piadas que é possível encontrar no Twitter sobre o assunto. 

 

 

 

 

 

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