Praga de escorpiões afeta residências em São Paulo e aflige moradores - TVI

Praga de escorpiões afeta residências em São Paulo e aflige moradores

  • MC
  • 18 dez 2018, 12:10
Escorpião (REUTERS)

O número de casos de picadas e infestações de escorpiões tem vindo a aumentar cada vez mais em vários estados brasileiros. O Ministério da Saúde afirmou que está já a tomar medidas e a primeira passará pela descoberta da origem e de como erradicar a situação, que pode revelar-se fatal

Uma infestação de escorpiões em várias residências de São Paulo tem colocado em alerta o povo brasileiro. Os casos com pragas de escorpiões têm aumentado cada vez mais no Brasil, o que tem levado várias famílias ao desespero para se verem livres destes animais.

De acordo com a BBC, o número de casos de picadas e infestações de escorpiões aumentou mais do dobro, de 52.509 em 2010 para 124.903 no ano passado. Se considerarmos as mortes através de picadas deste aracnídeo, verificou-se uma subida de 74 casos registados em 2010 para 184 no ano passado.

A escalada de casos de picadas de escorpiões é tão expressiva que o número de mortes por picadas desse aracnídeo é já superior ao de picadas de cobras – que, segundo a BBC, lideravam a tabela de animais que mais mortes provocavam no Brasil.

Apesar de este problema assolar a maior parte do território brasileiro, são os estados de São Paulo e de Minas Gerais que apresentam as situações mais alarmantes: ambos registaram, respetivamente, 26 e 22 mortes por picadas de escorpião no ano passado.

As testemunhas desta praga

Caroline Ruffo, de 38 anos, moradora de Americana, uma cidade que fica a 120 km de São Paulo, viu-se inclusive obrigada a mudar de bairro para se livrar da praga de escorpiões que existia em sua casa. De acordo com a BBC, a mulher encontrou dez bichos em 20 dias. Outra moradora, Jessika Martins, de 27 anos, também encontrou em sua casa 31 escorpiões num período de 15 dias.

Lúcia Marchesin, de 38 anos, residente em São Paulo, já foi picada duas vezes pelo pequeno aracnídeo e chegou mesmo a precisar de receber soro antiescorpiónico, que é usado para eliminar o veneno do animal do organismo.

Daiana Pântano, apesar de ainda não ter sido picada por nenhum escorpião, tem gastado avultadas quantias de dinheiro para limpar os terrenos vizinhos que estão abandonados e que, por isso, atraem muitos bichos para a sua casa.

Um caso mais dramático foi o de uma criança de 10 anos que morreu, no início deste mês, após ser picada duas vezes por um escorpião. A primeira picada foi no pé e, depois de ter reagido à dor, foi novamente picada na mão. O socorro foi já tardio e não foi possível administrar-lhe o soro antiescorpiónico.

Como lidar com a praga de escorpiões e com as suas picadas

O Ministério da Saúde brasileiro reconhece que a praga de escorpiões que existe neste momento no Brasil é um problema grave. Afirma que, desde 2009, são desenvolvidas campanhas educativas para profissionais de saúde de todos os Estados do Brasil para orientá-los sobre os procedimentos e cuidados a ter com o aracnídeo.

Em parceria com o Instituto Butantan, um centro de pesquisa biológica, o Ministério da Saúde está a desenvolver materiais que vão ser distribuídos no país a partir de 2019.

De acordo com a médica Fan Hui Wen, responsável por esses materiais, o objetivo é orientar os profissionais de saúde a não negligenciarem possíveis casos de envenenamento e que requeiram o uso imediato do soro. Também estão a ser desenvolvidas aulas por videochamada para todos aqueles que trabalham na área da saúde.

Os casos estão a aumentar e precisamos de encontrar uma resposta para a população. Esta parceria vai permitir oferecermos educação e treino à distância para todo o país”, afirmou a médica, citada pela emissora britânica.

O instituto Butantan também realizou uma parceria com a Faculdade de Saúde Pública da Universidade São Paulo, com o objetivo de encontrar formas de controlar a praga de escorpiões. Ambas as entidades vão iniciar uma pesquisa única em que vão mapear a evolução dos casos com escorpiões e tentar entender o comportamento da espécie – neste caso, do Tityus serrulatus, o escorpião amarelo mais comum no país.

Precisamos de entender como é que o escorpião se comporta e como se desloca. (…) Hoje em dia, já não conseguimos perceber qual é o seu habitat natural, de tão bem que ele se adaptou às áreas urbanas”, afirmou Fan Hui Wen.

As causas do aparecimentos de escorpiões: aquecimento global e baratas

Existe uma pergunta que se impõe no meio de tantos casos com escorpiões. Qual é a causa do aparecimento de tantos bichos? E por que é que os casos têm aumentado tanto na última década?

Segundo o Ministério da Saúde, não existe ainda uma resposta exata e ainda não se consegue atribuir o aparecimento do aracnídeo a um único fator. No entanto, há quem tenha suspeitas de que o aumento da temperatura global tem influenciado o aparecimento e a reprodução da espécie.

Os escorpiões gostam de ambientes quentes e húmidos. Há vários testes em curso para analisar se o aumento da temperatura tem influência no aparecimento de escorpiões”, afirma a médica Fan Hui Wen.

Outro fator que poderá estar na origem da reprodução da espécie é o crescimento desordenado das cidades. O aumento da quantidade de lixo e entulho que não é recolhido com regularidade provoca o aparecimento de baratas e onde há baratas há escorpiões.

Cada ser humano produz, em média, um quilo de lixo por dia. Onde existe lixo existem baratas. As baratas são o principal alimento dos escorpiões", explica o biólogo Randy Baldresca, especialista no aracnídeo e consultor em controlo de pragas.

Muitas pessoas tentam colocar venenos específicos para tentarem afastar os escorpiões. No entanto, os bichos parecem não querer desaparecer.

De acordo com Randy Baldresca, não se deve colocar inseticidas nas casas para matar estes animais. O exosqueleto que os escorpiões possuem acaba por protegê-los destes venenos.

Quando ele sente o veneno fica irritado com o cheiro, mas acaba por não morrer. No máximo, vai deslocar-se para outro lugar para procurar abrigo. Em vez de matar o escorpião, que seria o objetivo, este vai deslocar-se e vai até espalhar-se por mais casas”, explica o biólogo.

Tendo em conta este cenário desfavorável, em que não existe ainda uma causa nem uma forma de proteção contra estes bichos, os especialistas apenas recomendam a limpeza diárias de casas e terrenos vizinhos.

É preciso que haja uma mudança de comportamentos das pessoas. Não adianta ter a casa limpa se a casa do lado está cheia de mato e lixo”, afirma Fan Hui Wen.

Caso alguém encontre um escorpião em casa, existem várias medidas a ter em conta.

É importante não pegar no animal, sendo que este pode picar; não vale a pena espalhar inseticida porque ele não vai morrer, vai apenas deslocar-se temporariamente; não acumule lixo; não deixe louça na cozinha por lavar de um dia para outro para não atrair baratas; isole as janelas e ralos”.

De acordo com a médica Fan Hui Wen, é importante dirigir-se imediatamente a um hospital mais próximo caso seja picado para receber o soro antiescorpiónico. O veneno deste animal pode ser fatal e se atacar o sistema nervoso central o socorro imediato é fundamental.

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