Covid-19: Reino Unido já decidiu quem vive ou morre - TVI

Covid-19: Reino Unido já decidiu quem vive ou morre

Doentes mais idosos ou com patologias prévias como hipertensão, diabetes ou problemas renais podem não ter direito nem a ventiladores nem a cuidados intensivos. Pico do surto deve acontecer nas próximas semanas

A Associação de Médicos Britânicos enviou um conjunto de orientações éticas aos mais de 240 mil médicos que trabalham no Serviço Nacional de Saúde britânico, sobre a forma como devem atuar durante o período crítico da pandemia, caso o sistema fique sobrecarregado e não haja possibilidade de tratar todos os doentes que necessitem de cuidados intensivos ou ventiladores. O objetivo das diretrizes é uniformizar a atuação dos profissionais e retirar-lhes alguma responsabilidade individual das decisões que vão ter de tomar.

Prevendo as próximas semanas, se forem necessárias escolhas difíceis, sabemos que serão contestadas. Haverá raiva e dor. As pessoas que, em circunstâncias normais, receberiam tratamento intensivo, podem receber, em vez disso, cuidados paliativos, para favorecer as pessoas com maior probabilidade de cura. Ninguém quer tomar essas decisões, mas se os recursos estiverem sobrecarregados, elas terão de ser tomadas", disse o presidente da Associação de Médicos Britânicos, num artigo de opinião que escreveu para o jornal The Guardian.

Ora, foi também o The Guardian que teve acesso ao documento enviado aos médicos, que define que diabetes, hipertensão, problemas cardíacos ou renais podem ser algumas das patologias prévias que impedem a admissão dos doentes infetados com Covid-19 nos cuidados intensivos.

As diretrizes referem também que, aos pacientes mais velhos, com menos hipóteses de sobrevivência, podem ser retirados os ventiladores, caso os doentes mais saudáveis precisem deles.

Isto será, inevitavelmente, de forma indireta, discriminatório, tanto para idosos, como para pessoas com problemas de saúde a longo prazo", diz o documento.

A Associação de Médicos Britânicos garante que impor um limite de idade a partir do qual seriam recusados tratamentos intensivos ou a administração de ventiladores seria ilegal, mas acrescenta que pacientes mais velhos com problemas respiratórios preexistentes teriam "uma probabilidade muito alta de morrer, apesar dos cuidados intensivos" que pudessem vir a ser aplicados, por isso têm menor prioridade na admissão.

Da mesma forma, os pacientes que sejam admitidos nos cuidados intensivos e não mostrem sinais de evolução, podem vir a ser retirados daquelas camas, para dar lugar a outros.

Esta é uma realidade dura, porém o governo do Reino Unido já tinha alertado que o sistema de saúde pode ficar sem capacidade de resposta, sobretudo quando se espera que o número de pessoas que precisem de tratamento cresça exponencialmente nos próximos dias. O secretário de Estado da Saúde de Inglaterra anunciou esta sexta-feira que o pico do surto de Covid-19 no país pode acontecer ligeiramente mais cedo que aquilo que estava previsto.

A curva sugere que o pico vai ser (...) nas próximas semanas, mas é muito, muito sensível à quantidade de pessoas que seguem as medidas de isolamento social", disse Matt Hancock à 'BBC'.

Até agora, contabilizam-se mais de 34.000 casos de infeção pelo novo coronavírus no Reino Unido, dos quais resultaram 2.926 mortes, segundo dados da universidade Johns Hopkins.

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