«Apartheid» nos centros comerciais divide o Brasil - TVI

«Apartheid» nos centros comerciais divide o Brasil

Centro comercial Iguatemi em São Paulo, Brasil (REUTERS)

Justiça de São Paulo permite que seis «shoppings» façam triagem dos clientes para evitar os «rolezinhos» de jovens da periferia

Seis centros comerciais do Estado de São Paulo, no Brasil, conseguiram na segunda-feira o apoio da Justiça para bloquear as portas automáticas de modo a que polícias e seguranças privados pudessem identificar quem entrasse. O objetivo é travar o acesso a menores, que se juntam em grupos, convocados pelas redes sociais e que, mesmo sem intenção de delinquir, incomodam clientes e lojistas. Esses jovens têm colocado em xeque vários «shoppings» com os chamados «rolezinhos», um fenómeno com características similares aos «flash mobs», que são concentrações espontâneas de pessoas convocadas pelas redes sociais num determinado espaço para realizar uma mesma ação.

De acordo com a edição brasileira do «El País», não é a primeira vez que os centros comerciais reforçam a segurança e identificam quem não se encaixa no perfil do consumidor padrão, mas a decisão provisória do juiz antecipou uma multa de 10 mil reais (4 mil euros) a quem participasse nesse tipo de manifestação convocada na segunda-feira em quatro centros comerciais do Estado de São Paulo.

No centro comercial JK Iguatemi, situado na cobiçada avenida Presidente Juscelino Kubitschek, os seguranças chegaram a barrar a entrada de funcionários, jovens que não tinham cara de compradores de um dos «shoppings» mais caros da cidade. A convocatória do «rolê», com 2.500 pessoas confirmadas no Facebook, diluiu-se antes mesmo de começar. Já no centro comercial Metrô Itaquera, onde a 7 de dezembro se registou o primeiro episódio do fenómeno, com cerca de seis mil participantes, houve confrontos entre os jovens e a polícia. As autoridades, que estimam que na segunda-feira se juntaram cerca de mil adolescentes, agiu com violência para dispersar a multidão. Clientes do «shopping» apresentaram duas queixas por roubo e por tumulto. Três adolescentes foram presos, mas dois deles já foram libertados, refere a polícia.

As convocações desses jovens, vistos com desconfiança pelas famílias brancas de classe média-alta que preferem passar a tarde nos centros comerciais blindados por seguranças ao lazer na rua, marcou o Natal em São Paulo. O fenómeno dos «rolezinhos» tem dividido a sociedade brasileira.

Houve quem associasse ao apartheid a decisão judicial de travar o acesso aos «shoppings». Esses são os que defendem que os adolescentes da periferia, na maioria negros que ganham o salário mínimo (724 reais/ 224 euros), estão a chamar a atenção para a desigualdade entre classes, a opressão, incomodando os mais ricos que procuram nos centros comerciais consumir com segurança.

Do outro lado do debate, estão os que consideram que como vândalos os adolescentes da periferia . São defensores do espaço privado, ameaçados por um movimento sem lema e sem objetivos claros que não entendem, e que acreditam que toda essa energia e capacidade de convocação podem ser investidos noutras áreas: desde participar de protestos mais articulados, como os de junho passado, até a procurar empregos.
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