Bernard Tapie: 25 anos de polémicas e holofotes - TVI

Bernard Tapie: 25 anos de polémicas e holofotes

Bernard Tapie

A investigação a Christine Lagarde devolve à ribalta o nome de um homem habituado a dividir opiniões.

As buscas policiais em casa de Christine Lagarde, diretora-geral do FMI e ex-ministra das Finanças da presidência de Nicolas Sarkozy, devolveram ao primeiro plano o nome de Bernard Tapie. Este está longe de ser o primeiro terramoto político a envolver o político/empresário/dirigente desportivo/presidiário VIP/ator/entertainer (a lista não acaba aqui). Mesmo com os seus 70 anos, face ao percurso mais acidentado do que uma montanha-russa, ninguém parece disposto a apostar que seja o último.

Irregularidades na venda da Adidas ao Crédit Lyonnais, instituição bancária então controlada pelo Estado, renderam-lhe, em 2008, uma indemnização recorde de 390 milhões de euros, depois de 12 anos de sucessivas batalhas legais. A dimensão da verba foi contestada por setores da oposição, que a consideraram uma retribuição pelo apoio à candidatura de Sarkozy à presidência, um ano antes. É este processo na mira das autoridades, em especial o papel nele desempenhado por Christine Lagarde, que enquanto ministra das Finanças entendeu não recorrer da decisão do tribunal.

Desde que surgiu na ribalta política e desportiva no final dos anos 80, Tapie tem sido acompanhado por um rasto de polémica. Um célebre debate televisivo de 1989 com Jean-Marie Le Pen, líder do partido de extrema-direita Front National permitindo-lhe capitalizar junto do grande público um populismo que piscava o olho à esquerda e era apadrinhado pelo presidente da República, François Miterrand.



Glória e queda no Marselha

Em paralelo, Tapie ganha notoriedade como presidente do Marselha e dono da Adidas. Faz do clube a maior força desportiva em França. Depois de uma primeira tentativa falhada em 1990, por culpa do Benfica e da famosa mão de Vata, o Marselha torna-se, em 1993, a primeira equipa francesa a ganhar o título europeu de futebol.

Como adversário, o Marselha enfrenta o Milan, de Silvio Berlusconi, um político/dirigente com quem Tapie tinha vários pontos de contacto, a começar pelo populismo: «Sou bastante amigo dele por via do futebol, até porque teve a gentileza de perder sempre connosco. Como empresário foi brilhante. Como político, bom, é muito diferente do que eu faria no seu lugar» diria anos mais tarde, a propósito das comparações.

A carreira política de Tapie continua a crescer, numa área próxima dos socialistas. Em 1992, com a bênção de Miterrand, é convidado para o governo, assumindo o cargo de ministro das Cidades. Desportiva e politicamente, o trajeto deste self made-man estava no ponto mais alto. A queda não tardaria.

Em março de 1993, o governo cai nas urnas e Tapie perde o posto de ministro. Em junho é acusado, em conjunto com outros elementos do Marselha, de tentativa de corrupção num jogo do campeonato. As consequências são tremendas: o clube é desapossado do título de campeão francês, despromovido à II divisão e proibido de participar nas provas europeias. Com as receitas hipotecadas, com o clube na bancarrota e sem o portefólio de empresas, Tapie inicia uma travessia do deserto, que culmina com a declaração de falência e a sua detenção, em 1997, após a perda do cargo de deputado.

Ao fim de dez meses de cárcere, Tapie recomeça tudo de novo. A seu favor, o reconhecimento como figura pública, que lhe permitiu experiências como animador televisivo, ator de teatro, cantor e comentador de futebol. Pelo meio, em coerência com a teoria de que os seus problemas políticos e financeiros se deveram a uma vingança do aparelho do PSF, apoia a eleição de Sarkozy contra a socialista Ségolène Royal, em 2007.

Um ano depois, terminava o folhetim judicial de 12 anos contra o Crédit Lyonnais. Com o gradual regresso aos negócios, e a compra de um grupo de media em final de 2012, a polémica promete continuar.
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