Histórias da Casa Branca: Mitt Romney, pragmatismo levado ao limite - TVI

Histórias da Casa Branca: Mitt Romney, pragmatismo levado ao limite

  • tvi24
  • Germano Almeida, em Washington D.C.*
  • 6 nov 2012, 09:05

Não conseguiu que a América se apaixonasse por ele, mas soube moderar o discurso, depois de ter guinado a direita para obter a nomeação republicana

É um empresário de sucesso e apresenta-se como um «criador de empregos», muito mais do que um político com uma forte ideologia ou um certo destino a cumprir.



Mitt Romney, 65 anos, nascido em Detroit, Michigan, é casado com Ann Romney e tem cinco filhos. Dono de uma fortuna assinalável (será um dos candidatos presidenciais mais ricos da história americana), faz questão de lembrar que o que ganhou foi a custa do seu trabalho «e graças às virtudes de um sistema que permite recompensar quem arrisca e quem empreende».



Filho de um antigo governador do Michigan (George Romney, que chegou a tentar a nomeação presidencial republicana em 1968), herdou do pai uma perspetiva pragmática do jogo politico, embora não seja tão agressivo na abordagem publica.



Não é um republicano radical, ainda que o ambiente crispado da Direita americana o tenha obrigado a fazer uma inflexão conservadora para poder obter a nomeação do seu partido.



A mãe, Lenore Romney, era uma mulher avançada para o seu tempo e tentou chegar ao Senado.



Mitt estudou em Harvard, dedicou uma parte da sua juventude a procurar novos membros para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Pode vir a ser o primeiro Presidente mormon da história da América, mas os cuidados com que tratou o tema, nesta campanha, fizeram com que quase não se tivesse abordado um ponto que lhe chegou a criar problemas nas primárias de há quatro anos.



Governou o Massachussets, talvez o segundo estado mais liberal dos EUA (só atraás do Vermont) e orgulha-se do seu registo bipartidário - 87 por cento do congresso estadual era controlado pelos democratas, o que o obrigou a fazer compromissos.



Acusado de oscilar uma perspetiva centrista com uma visão mais conservadora, ao sabor das circunstâncias do momento, tem fama de flip-floper em temas que os americanos levam muito a sério, como o aborto, os direitos dos homossexuais, ou mesmo o acesso universal a saúde (aprovou, no Massachussets, um sistema muito idêntico ao ObamaCare, que agora promete revogar).



Mitt Romney não conseguiu que a América se apaixonasse por ele. Mas mostrou-se um candidato inteligente, capaz de responder aos desafios que cada momento impunha. Corrigiu uma via pouco mobilizadora na primeira parte do duelo com Obama, desvalorizou as gaffes feitas no périplo europeu. Ignorou elegantemente as incitações da direita do seu partido para enveredar por disparates como a questão do local de nascimento de Obama, ou ataques mais diretos ao caráter do Presidente.



Focou-se na Economia, foi disciplinado na mensagem e na estratégia. Estudou muito bem a lição, foi um candidato bem preparado e competente nos debates - sobretudo no primeiro, onde obteve triunfo arrasador sobre Obama.



Chega à linha da meta com ambições de vitória, apesar de não ter conseguido fazer a ultrapassagem que pretendia nos estados decisivos. Pode ganhar, mas ainda não se sabe o que isso significara.



Numa América zangada e dividida 50/50, um triunfo de Romney poderá querer dizer que o novo centro polÍtico se deslocou ligeiramente para a direita. Depois de seis anos de campanha para a presidencia (começou esta caminhada dois anos antes da eleição de 2008), Mitt Romney continua a ser uma personagem por desvendar.



* Germano Almeida é jornalista, autor do livro «Histórias da Casa Branca» e do blogue Casa Branca. Está em Washington ao abrigo do Programa José Rodrigues Migueis da Fundação Luso-Americana
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