Marx está na moda: a luta de classes anda por aí? - TVI

Marx está na moda: a luta de classes anda por aí?

Karl Marx

Festival em Londres junta marxistas de todas as idades. Querem acabar com o capitalismo, só não sabem é como

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«Da Praça Tahrir no Egito, à Praça Sintagma na Grécia, o espírito do poder do povo é contagiante. Venham para o marxismo para apanharem a febre». É com este convite que o festival «Marxismo 2012», a decorrer em Londres desde quinta e até segunda-feira, apela aos interessados em discutir o mundo atual através das lentes de Karl Marx e Friedrich Engels.

«O renascimento do interesse no marxismo, principalmente nos jovens, surgiu porque fornece as ferramentas para analisar o capitalismo, principalmente as crises capitalistas como a que estamos a viver agora», explicou ao «The Guardian» um dos organizadores, Joseph Choonara.

O evento é organizado pelo Partido Socialista dos Trabalhadores britânico e este ano conta com a participação de convidados dos movimentos ligados à Primavera Árabe, aos indignados, aos 99% e à Grécia.

«Os mais novos não existiam quando o marxismo era associado à União Soviética. Nós tendemos a vê-lo mais como uma maneira de compreender o que estamos a atravessar agora», afirmou Jaswinder Blackwell-Pal, uma estudante de 22 anos que falou no festival sobre Che Guevara e a revolução cubana.

A jovem britânica não é do tempo do Muro de Berlim, da Guerra Fria e das revoluções socialistas, mas viu a queda de Hosni Mubarak como um momento «inspirador». Instada a comparar a revolta egípcia com a situação no Reino Unido, onde as tensões sociais levaram aos violentos motins do ano passado e à possibilidade da sua repetição neste verão, Jaswinder admite que uma revolução violenta não está descartada: «Penso que, se nos conseguirmos organizar, podemos derrubar os governos».

Já Owen Jones, de 27 anos e autor do livro mais vendido de política no Reino Unido em 2011, sobre a «demonização da classe trabalhadora», não acredita numa «revolução sangrenta». O jovem defende que Marx desejava «outros meios pacíficos para alcançar uma sociedade socialista». «Hoje, nem mesmo a esquerda mais trotskista apela à revolução armada. A esquerda radical diz que a rutura com o capitalismo poderá apenas ser alcançada através da democracia e da organização dos trabalhadores», apontou, ao mesmo jornal britânico.

Owen acredita que o sucesso do seu livro demonstra o interesse na «política de classe», aquilo que Marx e Engels tanto desejavam. «Se o tivesse escrito quatro anos antes, teria sido descartado (...) Mas o conceito de classe está de volta à nossa realidade, porque a crise económica afeta as pessoas de diversas formas». O jovem critica as «reformas de classe» do governo britânico e avisa: «É uma guerra de classes aberta».

Mas não é só entre os jovens que a teoria do filósofo alemão do século XIX está na moda. Também Jacques Rancière, professor marxista de Filosofia na Universidade de Paris, de 72 anos, acredita que a luta de classes anda por aí. «O desaparecimento das nossas fábricas, a desindustrialização dos nossos países e a procura de trabalho industrial nos países onde o trabalho é mais barato e dócil, o que é isto a não ser um ato de luta de classes pela mão da burguesia dominante?», questionou.

Desde 2008, ano em que a crise disparou, as vendas de «O Capital», que contém a teoria económica de Marx, do «Manifesto Comunista», que escreveu com Engels, e de «Grundrisse - Elementos fundamentais para a crítica da economia política» têm aumentado consideravelmente.

«O que burguesia produz, acima de tudo, são os seus próprios coveiros. A sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis», escreviam os pensadores do século XIX. Hoje, segundo o professor francês, «os coveiros continuam aqui, pela forma de trabalhadores em condições precárias». «Os novos movimentos populares indicam que há uma nova vontade de não deixar os governos e os banqueiros inflingirem as suas crises no povo», concluiu.
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