Médicos condenados por tratarem feridos durante protestos - TVI

Médicos condenados por tratarem feridos durante protestos

Tribunal do Bahrain ainda diminuiu as penas, mas ativistas dos direitos humanos exigiam a total absolvição. Estados Unidos ficam «muito desapontados» com o seu aliado do Golfo Pérsico

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Um tribunal do Bahrain condenou 11 médicos a sentenças entre um mês e 15 anos de prisão, acusados de incitamento ao ódio e à queda da monarquia durante os protestos do ano passado, motivados pela Primavera Árabe.

Os 20 médicos em julgamento tinham sido condenados, em setembro, por um tribunal militar, a penas entre cinco a 15 anos de prisão, por estas e outras acusações como ocupar um hospital e posse de armas.

Esta quinta-feira, nove dos profissionais foram absolvidos, nove viram as suas penas reduzidas e dois tiveram a sentença de 15 anos de prisão confirmada, porque estão fugidos à justiça.

Os números oficiais do governo do Bahrain dão conta de 35 mortos e centenas de feridos durante os protestos do ano passado. Nessa altura, a maioria das vítimas era encaminhada para o hospital de Salmaniya, onde trabalhavam estes médicos.

Os ativistas dos direitos humanos consideram que os profissionais de saúde, todos eles xiitas, foram condenados por tratarem os manifestantes e ajudarem a captar atenção internacional para a repressão das forças de segurança.

Já a minoria sunita, da qual faz parte a família real Al Khalifa, acusa-os de provocarem o agravamento dos ferimentos e deixarem mesmo alguns doentes morrer para as câmaras captarem as imagens e dessa forma denegrirem o regime.

«Foi um dia negro para a justiça. Estas são acusações com motivações políticas, contra profissionais que estavam a trabalhar para salvar vidas em circunstâncias muito difíceis», afirmou Hassiba Hadj Sahraoui, da Amnistia Internacional.

«Este é um castigo político para deixar os defensores do regime contentes», disse à Reuters Ali al-Ekry, cirurgião ortopédico condenado a cinco anos de prisão, que já tinha sido castigado por prestar declarações aos media durante os protestos.

Os Estados Unidos já declararam que estão «muito desapontados» com a decisão do seu aliado no Golfo Pérsico. «Estas condenações parecem ser baseadas, pelo menos em parte, nas críticas dos réus às ações governamentais e da polícia», afirmou o secretário de Estado-adjunto Michael Posner, em conferência de imprensa. A administração norte-americana esperava que o tribunal anulasse as sentenças e que fossem tomados «meios alternativos» para «resolver o caso», como processos disciplinares.

O presidente Barack Obama já tinha apelado ao diálogo entre o partido xiita Wefaq e o rei Hamad bin Issa Al Khalifa, mas os protestos continuam. Os Estados Unidos reforçaram, agora, o seu apelo.

Durante as manifestações do ano passado, foram efetuadas várias detenções, foram demolidas mesquitas xiitas e milhares de xiitas foram despedidos. Nessa altura, a repressão da monarquia contou com o apoio das tropas da Arábia Saudita.

Após a detenção dos médicos, o advogado dos direitos humanos da ONU Cherif Bassiouni denunciou atos de tortura na prisão. Os dois profissionais que estão desaparecidos foram libertados nessa altura. O governo do Bahrain assegurou que tomou medidas, que afastou os responsáveis e que colocou câmaras nas esquadras, mas os ativistas não acreditam.

Segundo um comunicado emitido esta quinta-feira, cinco dos nove médicos condenados vão ser libertados de imediato porque já cumpriram as penas durante a prisão preventiva.

«Esta é uma decisão injusta, eles estão inocentes. Deviam estar a julgar as autoridades, não os médicos», apontou Tewfik Dhaif, tio de dois dos clínicos.
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