Plágio de um governante: jogada política ou epidemia académica? - TVI

Plágio de um governante: jogada política ou epidemia académica?

Victor Ponta, primeiro-ministro da Roménia

Na Roménia, já caíram dois ministros da Educação por terem copiado trabalhos. Agora, pode ser a vez do primeiro-ministro

O primeiro-ministro da Roménia, Victor Ponta, foi acusado de ter plagiado a sua tese de doutoramento em direito internacional, realizada em 2004, quando era secretário de Estado no governo de Adrian Nastase, que entretanto foi condenado a dois anos de prisão num caso de corrupção.

A revista «Nature» publicou esta semana uma série de documentos que indicam que mais de metade da tese de 432 páginas, sobre o Tribunal Penal Internacional, foi copiada de um trabalho de dois académicos romenos.

Victor Ponta começou por vitimizar-se, alegando ser o alvo de uma campanha do rival, o presidente Traian Basescu, e chegou mesmo a sugerir que quem forneceu documentos à «Nature» foi o assessor presidencial Daniel Funeriu.

«A política doméstica não é o nosso foco», argumentou Quirin Schiermeier, o autor do artigo na revista, que está mais preocupado com a «reputação académica» da ciência produzida neste país europeu.

A teoria de jogada política não desvaneceu, mas o primeiro-ministro romeno admitiu, entretanto, que não citou os autores no final de cada página da tese, mas apenas na bibliografia final. «Se isto é um erro, estou disposto a pagar por ele», afirmou, acrescentando que, a confirmar-se o plágio, renunciará ao título de doutor, mas nunca ao cargo de primeiro-ministro.

O governo romeno em funções tomou posse a 7 de maio, mas este já é o terceiro caso do género. Antes de Victor Ponta, dois ministros da Educação demitiram-se quando foram acusados de plágio. «Parece que há uma cadeira elétrica neste ministério», brincou o primeiro-ministro na altura, antes de saber que seria o próximo.

Há quem defenda que esta sucessão de episódios é apenas uma estratégia política, mas será, de qualquer forma, um reflexo de uma cultura académica desonesta. «Pessoas com ambições, dinheiro e influência têm vindo a comprar doutoramentos nos últimos 20 anos. Fica-lhes bem ter um doutoramento no currículo, está na moda, por isso compram-nos como quem está a comprar um fato Armani», lamentou à AP o analista político Stelian Tanase.

Com a queda do comunismo e a consequente abertura da Roménia ao capital privado, abriram dezenas de universidades e institutos sem controlo público, que ofereceram qualificações e criaram maus hábitos, como o de alunos a oferecerem prendas aos professores para poderem copiar à vontade.

A acrescentar a isto, não será indiferente também a instabilidade política - já se demitiram dois primeiros-ministros este ano - e económica do país - milhares de pessoas manifestaram-se durante semanas contra as medidas de austeridade aplicadas na Roménia.

Os casos de plágio têm-se alastrado pela Europa. Nos últimos meses, dois altos governantes demitiram-se dos seus cargos por acusações deste género: o ex-presidente da Hungria, Pal Schmitt, e o ex-ministro da Defesa alemão, Karl-Theodor zu Guttenberg.
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