Último condenado à morte no Reino Unido absolvido 40 anos depois - TVI

Último condenado à morte no Reino Unido absolvido 40 anos depois

Confrontos em Belfast (Cathal McNaughton/REUTERS)

Liam Holden diz que foi torturado: «Até admitia que matei o Kennedy.»

O Tribunal de Apelo de Belfast anulou nesta quinta-feira a acusação de homicídio que perseguia Liam Holden há quase 40 anos. Ele foi a última pessoa condenada à morte no Reino Unido e essa sentença já tinha sido convertida em prisão perpétua, mas agora vê-se definitivamente ilibado, depois de o tribunal dar como provado que confessou sob tortura.

Holden foi acusado em Setembro de 1972 pela morte do soldado Frank Bell, de 18 anos, que foi atingido a tiro em Belfast por um sniper do IRA, o Exército Republicano Irlandês, e morreu três dias mais tarde.

Holden, que tinha 19 anos na altura, conta que os militares britânicos o foram buscar a casa e o levaram para uma base militar, onde o detiveram durante cinco horas. «Agrediram-me e disseram-me para admitir que tinha morto o soldado. Eu disse que não era verdade», relata, contando depois como foi torturado com água, um método semelhante ao que terá sido usado recentemente pela CIA.

«Seis soldados vieram ao cubículo onde eu estava, deitaram-me no chão e um deles colocou uma toalha na minha cara, onde iam deitando água. Se tentava respirar pela boca engolia água, se tentava respirar pelo nariz inspirava água», descreve, citado pela BBC: «Depois daquilo até admitia que matei o Kennedy.»

Na altura foi condenado com base nessa confissão, apesar de até ter um álibi para a hora do crime. Foi inicialmente sentenciado a pena de morte por enforcamento, mas quando a pena capital foi abolida na Irlanda do Norte, em 1973, a sentença foi comutada. Passou 17 anos na prisão, até sair em liberdade condicional em 1989.

Desde então lutou para limpar o seu nome e recentemente a Comissão de Revisão de Casos Criminais, criada para investigar eventuais erros judiciais, considerou que o caso tinha agora bases para ser levado ao Tribunal de Apelo.

O caso de Holden foi reforçado desta vez pela investigação de um jornalista do «Guardian», Ian Cobain, precisamente sobre o uso de tortura com relação a água pelo exército militar na altura.

Agora, Holden espera que o seu caso possa servir de exemplo a outras pessoas que tenham passado por experiências parecidas às mãos do exército britânico.
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