«Não poderia discordar mais», afirmou Boehner, esta quinta-feira, numa conferência de imprensa a propósito de um comentário feito na quarta-feira por Susan Rice, a conselheira de Segurança Nacional de Barack Obama.
Rice defendeu que a relação entre os dois países deveria estar acima da política e acusou o primeiro-ministro de Israel de injetar um grau de partidarismo, que é «destrutivo» da relação EUA-Israel, ao aceitar discursar em Washington sobre o Irão a convite da liderança republicana do Congresso.
John Boehner e Barack Obama (Foto: Reuters)
De acordo com a Euronews, um convite dos republicanos ao primeiro-ministro israelita, para discursar no Congresso, sem a devida reparação articulada com a Casa Branca foi o suficiente para fazer perder o sangue frio a secretários de Estado e assessores, que não poupam críticas sobre o assunto.
Relações bilaterais à prova
Desde o anúncio de que Benjamin Netanyahu iria falar ao Congresso, apenas duas semanas antes das eleições em Israel, a equipa do Presidente norte-americano mostrou-se coesa e condenou em bloco. Em primeiro lugar, porque o primeiro-ministro israelita foi convidado pelo presidente republicano da Câmara dos Representantes, e em segundo, porque se imiscui na diplomacia da administração norte-americana, que prepara, com desvelo, o acordo com o Irão.
A exprimir-se no Congresso norte-americano, sobre o Irão, Benjamin Netanyahu pisa uma linha vermelha que não devia ter pisado e coloca as relações bilaterais de Israel e Estados Unidos, à prova.
Benjamin Netanyahu e Barack Obama (Foto: Reuters)
A controvérsia eclodiu no momento em que se desenham os contornos de um possível acordo sobre o programa nuclear iraniano, que envenena as relações internacionais há mais de uma década.
Para Barack Obama, o acordo com Teerão garante que a República Islâmica não vai tentar obter armas nucleares, e contribui para o balanço positivo da política externa do Presidente dos Estados Unidos.
Pelo seu lado, Benjamin Netanyahu, que está a fazer tudo contra a conclusão do acordo, que classifica de perigoso, afirma que «respeita a Casa Branca e o Presidente dos Estados Unidos mas, num assunto tão grave, é um dever fazer tudo pela segurança de Israel». Um choque devastador contra a diplomacia norte-americana, com o beneplácito da oposição dos republicanos.
Eleições em Israel
A visita de Benjamin Netanyahu aos Estados Unidos, com ênfase para o tema do poder nuclear iraniano também visa seduzir o eleitorado israelita, que vota em legislativas antecipadas no dia 17 de março.
O primeiro-ministro israelita, em campanha para as legislativas, receia que os EUA assinem um acordo demasiado favorável ao Irão.
«Lamento que o terrorismo nuclear» de Teerão não tenha impedido a comunidade internacional de continuar a negociar um acordo nuclear com o Irão, que lhe vai permitir construir a capacidade industrial de que precisa para desenvolver armas nucleares», deplorou Netanyahu, no domingo.
Benjamin Netanyahu (Foto: Reuters)
Assim que foi divulgado que Netanyahu falaria no Congresso dos EUA no dia 3 de Março, a Casa Branca fez saber que Obama não se encontraria com ele, uma vez que as regras ditam que o Presidente não recebe líderes de outros países quando estes estão prestes a ir a votos. A Administração não foi informada do convite e considera isso «uma violação de protocolo».
«O que aconteceu ao longo das últimas semanas por causa do convite que foi feito pelo presidente [da Câmara dos Representantes, John Boehner] e a aceitação por parte do primeiro-ministro Netanyahu, duas semanas antes das suas eleições, é que foi injetado nos dois lados um grau de partidarismo que não é só infeliz, penso que é destrutivo do tecido na [nossa] relação», afirmou a conselheira de Segurança Nacional de Obama, Susan Rice, em declarações à televisão PBS.
Susan Rice (Foto: Reuters)
Já depois de Rice ter falado, o porta-voz da Casa Branca avisou que a relação entre os dois aliados se está a tornar numa questão de política partidária. «O Presidente disse que a relação entre os EUA e Israel não pode ser reduzida a uma relação entre o Partido Republicano e o Likud», o partido de Netanyahu, afirmou o porta-voz da Casa Branca Josh Earnest.