Apanhado em Portugal o maior traficante de armas da Bélgica - TVI

Apanhado em Portugal o maior traficante de armas da Bélgica

Jacques Monsieur foi detido esta quarta-feira em Évora, depois de ter fugido da Bélgica para escapar a uma pena de prisão de quatro anos e uma multa de 1,2 milhões de euros

A polícia belga anunciou em comunicado ter detido esta quarta-feira Jacques Monsieur em Évora, o maior traficante de armas da Bélgica e um dos maiores traficantes de armas do mundo. O criminoso, de 66 anos, foi condenando em outubro de 2018 a quatro anos de prisão e uma multa de 1,2 milhões de euros por tráfico de armas para a Líbia, Chade, Paquistão e Irão.

Conhecido como Raposa ou Marechal, Jacques Monsieur tinha sido condenado, em 2017, por tráfico de material militar para vários países em guerra, como centenas de armas automáticas, munições, tanques, helicópteros ou aviões, entre 2006 e 2009.

De acordo com o que a imprensa belga publicou na altura, citando os termos da acusação, Jacques Monsieur vendeu 100 mil armas automáticas à Líbia; tanques e helicópteros à Guiné Bissau; material militar ao Irão, 200 mil armas automáticas e munições, helicópteros e outras aeronaves militares ao Chad (na altura em guerra civil); e lança rockets e metralhadoras ao Paquistão.

Nesse ano, foi condenado a três anos de prisão e uma multa de 300 mil euros. Jacques Monsieur recorreu da decisão e em outubro do ano passado viu a pena ser agravada para quatro anos de prisão e uma multa de 1,2 milhões de euros.

Após a decisão do tribunal, fugiu para Évora, onde viveu escondido nos últimos meses. A polícia belga reencontrou-lhe a pista em Tarascón, na Provença, no sul da França, onde tinha uma quinta, que acabou por vender em março deste ano.

Mas foi por causa do transporte de nove cavalos para Portugal, por um criador francês, que os inspetores foram encontrar Jacques Monsieur, esta quarta-feira, escondido num pequeno abrigo, ao lado de uns estábulos na Herdade do Zambujal, perto de Évora. De acordo com as autoridades belgas, Jacques Monsieur não terá pago o custo do transporte dos animais, no valor de 2.500 euros.

O traficante foi detido ao abrigo de um mandado de detenção europeu, em estreita colaboração entre  investigadores portugueses, franceses e belgas. A justiça belga pede que o Marechal seja entregue às autoridades para cumprir a pena a que foi condenado no final do ano passado. Jacques Monsieur será presente a um tribunal português esta sexta-feira.

Interveniente nos maiores negócios ilegais de armas a nível mundial

Jacques Monsieur é um antigo elemento do exército belga, especialista na compra e venda de armas. Abandonou o exército no início dos anos 1980, entrando no mundo do tráfico de armas.

De acordo com o canal de televisão belga VTM, não houve um conflito armado nos últimos 35 anos em que não tenha participado, tendo sido um aliado do Irão desde cedo. Nos anos 1980 vendeu armas e explosivos aos Mullahs na guerra contra o Iraque e, mais tarde, forneceu sistemas de radar ao Irão. Em troca, vendeu à ex-Jugoslávia e à África do Sul, no início dos anos 1990, armas produzidas em Teerão.

O primeiro grande caso em que Jacques Monsieur esteve envolvido foi o Irangate, entre 1985 e 1987, um escândalo em que a administração de Ronald Reagan se viu implicada: os norte-americanos venderam armas ao Irão, através de Israel, em troca de prisioneiros de guerra.

Durante os anos 1980, Jacques Monsieur continuou a facilitar a compra de armas e outro material de guerra para o Irão, alvo de um embargo da comunidade internacional. Os vários canais que procurou abrir passavam especialmente por Itália, França e Bélgica, mas tinham ramificações na Alemanha, Áustria, Inglaterra ou Suécia.

Esteve detido numa prisão de Teerão em 2000, por alegada espionagem, numa pena de prisão de 10 anos, mas foi libertado dois anos mais tarde. Durante o tempo em que esteve em cativeiro, Jacques Monsieur evitou ser presente a tribunal em França e na Bélgica.

Em dezembro de 2002, foi condenado a 40 meses de prisão na Bélgica e, em 2008, condenado em França a quatro anos de prisão, com pena suspensa. No ano seguinte, foi detido em Nova Iorque e condenado a 23 meses de prisão pela suspeita de ter tentado facilitar a venda de partes de um avião F5, incluindo motores, para o Irão através de um agente infiltrado.

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