O nobel que não queria um "Brexit" - TVI

O nobel que não queria um "Brexit"

  • 5 out 2017, 14:54
Kazuo Ishiguro

Ishiguro pediu mesmo, num artigo no Financial Times, um segundo referendo que unisse o Reino Unido

O escritor Kazuo Ishiguro, hoje distinguido com o prémio Nobel da Literatura, defendeu, em 2016, um segundo referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia que unisse o país em volta dos seus “instintos humanos”.

Num ensaio publicado pelo Financial Times no dia 01 de julho do ano passado, uma semana depois do referendo que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia, Ishiguro escreveu ser fundamental a aceitação do resultado, restando então um encontro em torno de uma opção ‘Brexit light’: “Uma versão que continue a permitir o livre movimento de pessoas em troca por acesso continuado ao mercado único”.

“Precisamos de um segundo referendo – não para repetir o primeiro, mas para definir o mandato que advém do desfocado resultado do da semana passada. (…) Este segundo debate terá de ser aberta e claramente sobre a troca entre o pôr fim à imigração da União Europeia e o acesso ao mercado único. Será um debate em que aqueles que defenderam e votaram ‘Sair’ por razões não-racistas terão a oportunidade para se colocar do lado oposto aos que o fizeram”, declarou o escritor britânico nascido no Japão.

Numa altura em que considerou ser mais importante do que nunca permanecer calmo, Ishiguro reconheceu que, se fosse um estratega da extrema-direita, estaria a esfregar as mãos de contentamento: “Nunca antes houve uma tão boa oportunidade, pelo menos desde os anos 1930, para empurrar a Pequena Inglaterra para dentro do racismo neo-Nazi”.

“Acredito que precisamos de ter alguma fé no povo da Grã-Bretanha. Mesmo depois do choque do resultado da passada sexta-feira, ainda mantenho essa fé. Falo como um homem de 61 anos, de nascimento japonês, que viveu aqui desde os cinco anos, que tem observado e experienciado esta sociedade da perspetiva de uma criança pequena e visivelmente estrangeira que, durante anos, foi a única criança assim na sua escola ou comunidade alargada”, afirmou o escritor.

Aquele país, descreveu Ishiguro, é um lugar “decente e justo, disponível para mostrar compaixão a forasteiros em necessidade, resistente aos agitadores do ódio seja de que extremo político forem – tal como foi na primeira metade do século XX, quando o fascismo atravessou a Europa”.

Por todas essas razões, Ishiguro defendeu o segundo referendo, por uma decisão ‘Brexit light’ que unisse o Reino Unido em volta dos seus “instintos humanos tradicionais” e para “isolar os racistas que hoje se iludem ao acreditar que conseguiram o país do país”.

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