A autópsia ao corpo de Kim Jong-nam, meio-irmão do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, já foi concluída, mas a polícia da Malásia informou que a causa da morte não ficou totalmente esclarecida, notícia a agência italiana Ansa.
De acordo com fontes do governo da Malásia, citadas pela agência Reuters, o regime da Coreia do Norte tentou impedir que a autópsia se realizasse e pediu a repatriação imediata dos restos mortais de Kim Jong-nam, mas Kuala Lumpur recusou a solicitação.
As autoridades da Malásia ainda não decidiram se vão entregar ou não o corpo do meio-irmão do líder norte-coreano. Existe uma forte suspeita de que o crime tenha sido ordenado por Pyongyang, sobretudo, porque Kim Jong-nam era crítico do governo de Kim Jong-un.
Esta quarta-feira, a polícia da Malásia deteve uma mulher que tinha consigo um passaporte vietnamita. A mulher, suspeita de estar relacionada com a morte de Kim Jong-nam, foi presa no terminal para voos de baixo custo do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur e identificada como Doan Thi Huong, informou a polícia local, em comunicado.
CCTV pictures taken from #Malaysia airport showing one of the two women suspected to have killed Kim Jong Nam, half-brother of Kim Jong-Un. pic.twitter.com/otcjrvjYts
— LIM Yun Suk (@yunsukCNA) 15 de fevereiro de 2017
De acordo com a Reuters, a suspeita “foi identificada por imagens das câmaras de vigilância no aeroporto e estava sozinha na altura da detenção.”
A identificação do filho de Kim Jong-il ficou envolta em suspeita porque Jong-nam viajava com um passaporte português falso que o identificava como Kim Chol.
A agência de espionagem da Coreia do Sul suspeita que Kim Jong-nam foi envenenado por duas agentes norte-coreanas, enquanto esperava por um voo para Macau, onde estava radicado desde a década passada.
A polícia malaia informou, na terça-feira, que o meio-irmão de Kim Jong-un "sentiu-se tonto" e "pediu ajuda num dos balcões do aeroporto". Terá também dado a indicação de que o teriam "agarrado por trás pelo pescoço". Foi assistido num gabinete médico do aeroporto internacional de Kuala Lumpur, acabando por morrer na ambulância a caminho do hospital.
Esta quarta-feira, o presidente interino da Coreia do Sul, Hwang Kyo-Ahn, considerou que o alegado homicídio do meio-irmão de Kim Jong-un é um símbolo da “brutalidade e da natureza desumana” do regime da Coreia do Norte.
Hwang Kyo-Ahn sublinhou que a Coreia do Sul está a cooperar de forma estreita com as autoridades da Malásia para esclarecer o misterioso assassinato.
Fontes norte-americanas também indicaram à Reuters, sob anonimato, que desconfiam que Kim Jong-un seja o mandante do homicídio do meio-irmão.
Kim Jong-nam tinha pedido a Kim Jon-un para lhe poupar a vida
Kim Jong-nam, filho mais velho do falecido líder da Coreia do Norte Kim Jong-Il, pediu ao meio-irmão Kim Jong-Un que lhe poupasse a vida e a da família depois de ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato em 2012. Foi o que declararam, esta quarta-feira, deputados sul-coreanos aos jornalistas, após uma reunião à porta fechada com o chefe do Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul (NIS, na sigla em inglês), Lee Byung-Ho.
Como primogénito, Jong-nam foi considerado durante algum tempo o potencial herdeiro do regime norte-coreano. Mas caiu em desgraça em 2001, quando protagonizou um incidente constrangedor para o regime comunista: foi detido no aeroporto internacional de Tóquio, acompanhado por duas mulheres e um menino de quatro anos – identificado como seu filho – com um passaporte falso da República Dominicana. Depois de três dias de interrogatório, confessou que estava no Japão para visitar a Disneyland.
Desde então viveu de facto no exílio e o meio-irmão Kim Jong-un assumiu o controlo do regime após a morte do pai, em dezembro de 2011. No ano seguinte, agentes norte-coreanos tentaram assassinar Kim Jong-nam, que defendia reformas para a Coreia do Norte, contaram os deputados sul-coreanos à imprensa.
Jong-nam enviou em abril de 2012 uma carta a Jong-un na qual escreveu: “Por favor, poupa-me e à minha família”, relatou, aos jornalistas, Kim Byung-kee, membro de comissão parlamentar sobre os serviços de informação.
Na carta, Jong-nam também dizia: “Não temos para onde ir, sabemos que a única maneira de escapar é o suicídio.”
A família de Kim Jong-nam (a atual e a anterior mulher e os seus três filhos) vive atualmente em Pequim e em Macau, de acordo com Lee Cheol-Woo, um outro membro da mesma comissão parlamentar sul-coreana.
"Eles estão sob a proteção das autoridades chinesas", afirmou, confirmando que Kim Jong-nam entrou na Malásia no dia 6 de fevereiro, ou seja uma semana antes de ser morto.
Kim Jong-nam, de 45 anos, é o nome mais importante que foi assassinado sob o regime de Kim Jong-un desde a execução do tio do líder, Jang Song-Thaekm, em 2013. As duas vítimas seriam bastante próximas uma da outra. Além disso, o filho de Jong-nam, Kim Han-sol, chamou “ditador” ao tio Kim Jong-un, em 2012, durante uma entrevista a um canal finlandês, quando estudava na Bósnia.