A carta de despedida de um polícia grego a um menino refugiado - TVI

A carta de despedida de um polícia grego a um menino refugiado

Konstantinos Vaggelis esteve dois meses de serviço no campo de refugiados de Moria, na ilha de Lesbos, Grécia, período durante o qual foi inseparável de Bares, um iraquiano de seis anos, que morreu na sequência de um incêndio na tenda onde vivia

Um polícia grego escreveu uma carta de despedida a um menino iraquiano de seis anos, que conheceu no segundo dia de trabalho no campo de refugiados de Moria, na ilha de Lesbos, e do qual não mais conseguiu separar-se durante dois meses.

A notícia da trágica morte do pequeno Bares, no passado dia 24 de novembro, chegou-lhe pelos colegas que ainda ali estão de serviço e que se recordam da amizade entre os dois.

Konstantinos Vaggelis, que no final de outubro regressou à esquadra de Loaninna, chegou a cruzar os olhos com as notícias de última hora que davam conta de uma explosão de uma botija de gás numa das tendas, mas não pensou em Bares, até porque inicialmente havia a indicação de uma única vítima mortal, uma mulher, que mais tarde viria a saber tratar-se da avó de Bares.

A mãe e um irmão de Bares sobreviveram ao incidente e foram assistidos em Atenas.

Bares, de seis anos, o seu amigo inseparável, morreu. E Konstantinos partilhou a sua dor com o mundo, através de uma carta publicada na sua página do Facebook.

Duas palavras para Bares, um pequeno anjo do Iraque, que não chegou a viver. O meu anjo apareceu um dia e colocou os seus braços à volta do meu pescoço. Desde então, esteve a meu lado todos os dias. Fizeste-me, fizemos, companhia durante dois meses. Esperavas-me, tivesse eu algo ou não para te dar, lançavas-me os braços e ficavas por ali, sempre perto. Hoje recebi um telefonema dos meus colegas, que me disseram que foste tu quem morreu no incêndio de anteontem em Moria, criança do meu coração. Pagaste muito caro o sonho dos teus pais, a fuga da guerra, o exílio na Europa. Converteste-te numa vítima, mas onde estão os culpados? Boa viagem meu anjinho, quem me dera poder voltar a ver-te correr e a chamar-me ‘polícia, polícia’ ou, como dizias, ‘pulicia’”, escreveu Konstantinos Vaggelis.

Konstantinos contou, depois, a um jornal grego, que sentiu necessidade de escrever aquela carta, de “partilhar com os outros aquilo que estava a sentir” e de fazer chegar a todos uma mensagem humanitária, do espírito de entreajuda que se vive em muitos campos de refugiados, apesar de frequentemente só os incidentes serem relatados.

Desde o primeiro dia que ali cheguei estive em contacto com várias pessoas e muitas crianças. Eu e os meus colegas tentámos sempre ajudar quem ali estava, mesmo tendo vivido situações difíceis e até perigosas", contou.

 

 

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