«Sinto a terra a tremer de 15 em 15 minutos» - TVI

«Sinto a terra a tremer de 15 em 15 minutos»

Sismo no Japão  [EPA]

Twitter tem sido usado para avisar amigos e familiares de que «estão vivos», mas muitas «pessoas não têm tido sucesso nas respostas»

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«A destruição que passa nas imagens, que nós sentimos de perto e vocês vêem de longe, magoa qualquer um», são as palavras de Kyoko Shinya, uma japonesa residente em Hachioji, Tóquio, que conta como é que a população se sente e vive os momentos após um dia após o sismo e o tsunami que assolaram o nordeste do Japão.

Kyoko relata ao tvi24.pt que muitas pessoas que estavam na rua e nos locais de trabalho ficaram abrigadas em terminais de transportes, de autocarros e de comboios, após o abalo e as ondas gigantes.

A onda de solidariedade começou imediatamente. Para que os desalojados sentissem o mínimo de calor humano, durante a noite, os comerciantes locais foram distribuindo, alimentos e chá quente, de forma a «aquecer o coração nesta situação triste e catastrófica».

A entreajuda verifica-se por toda a cidade. Kyoko Shinya juntou-se a grupos de jovens para auxiliar pessoas que estão desamparadas, que precisam de ajuda e que foram mais afectadas pelo sismo. Na zona onde mora todas as portas recebem um «toc-toc» e do outro lado. «Perguntamos às pessoas, principalmente, idosos, crianças e jovens, se estão bem e se precisam de ajuda. Batemos a todas as portas, sem excepção», frisa.

Ao questionar Kyoko sobre as réplicas do sismo, que se têm sentido durante este sábado, ela não demora a responder: «São muitas, mesmo muitas. São tantas que nem me lembro quando começaram nem quantas já foram. Sei que em média de 15 em 15 minutos sinto a terra a tremer debaixo de mim».

As comunicações estão em baixa, só se estabelecem via satélite. Internet e telemóveis são a única via de comunicação para as pessoas encontrarem familiares e amigos desaparecidos ou avisarem apenas que «estão bem». No entanto, é através da rede social Twitter que a população nipónica estabelece mais comunicações, conseguindo saber informações dos conhecidos. Kyoko disse ainda destroçada que «a maioria das pessoas não tem tido sucesso na resposta das pessoas que procuram». Muitas delas continuam desaparecidas.

As notícias desastrosas e chocantes chegam apenas através da rádio e da televisão e são cada vez mais escassas, pois «os gastos de electricidade têm de ser substancialmente reduzidos, porque as centrais não estão a produzir e os níveis disponíveis são baixos e estão a esgotar-se». «Temos de ir desligando o que faz com que fiquemos sem saber o que realmente se passa no país».

A situação em todo o território nipónico ainda «é muito instável, não há muitos transportes e muitas pessoas ou perderam as casas ou não tem como voltar. Há muitos, mesmo muitos desalojados no Japão», descreve Kyoko dizendo ainda que embora o sentimento seja de profundo sentimento de pesar pelas vítimas e pela destruição do desastre natural «as pessoas querem voltar à normalidade e por isso ajudam-se mutuamente».

O Governo japonês já pôs em marcha medidas de ajuda à população e os militares já estão no terreno para encontrar vítimas do sismo e o tsunami. Este sábado, «de Tóquio partiu uma equipa de voluntários para as zonas costeiras mais atingidas, para ajudar na procura dos desaparecidos e abrigo dos desalojados», disse.

Kyoko disse ainda à tvi24.pt que viveu momentos de pânico quando sentiu o sismo: «Eu estava a ir para a estação dos comboios, num dia normal, quando senti a terra a tremer, pela primeira vez pelas 14h46 [em Tóquio]. O segundo terramoto foi as três horas e foi bastante maior. Comecei a correr para casa. Enquanto corria via pedaços dos prédios a cair, pessoas na rua desorientadas, gritavam e muitas corriam sem saber para onde. Quando cheguei estava tudo no chão. O meu gato não parava de miar, também estava com medo, coitadinho. Ficamos lá os dois e hoje é tudo diferente», diz destroçada.

«Agora eu estou bem, mas das pessoas perto da praia não sei, estão incontactáveis. Tenho amigos que moram lá e estão desaparecidos. Aqui, em Tóquio, morreram cinco pessoas», rematou.
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